Um Rito de Espadas

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From the series: Anel Do Feiticeiro #7
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CAPÍTULO SEIS

Thor instou Mycoples a voar mais rápido enquanto corriam por entre as nuvens, chegando cada vez mais perto da Torre de Refúgio. Thor sentia com cada célula de seu ser que Gwen estava em perigo. Ele sentia uma vibração que corria desde as pontas de seus dedos e percorria todo o seu corpo, dizendo-lhe, advertindo-o: Vá mais rápido. A vibração sussurrava para ele:

Mais rápido.

“Mais rápido!” Thor pressionou Mycoples.

Mycoples rugiu baixinho em resposta e bateu suas grandes asas com mais força. Thor não teve nem sequer a necessidade de proferir as palavras – Mycoples entendeu tudo antes mesmo que ele dissesse isso, mas ele falou as palavras mesmo assim. Elas fizeram com que ele se sentisse melhor. Ele estava se sentindo impotente. Ele sentia que algo andava mal com Gwen e que cada segundo contava.

Eles finalmente saíram de um bloco de nuvens e ao fazer isso, Thor foi invadido por uma sensação de alívio quando ele avistou à distância a Torre de Refúgio. Era uma obra de arquitetura antiga e misteriosa, uma torre estreita e perfeitamente cilíndrica que se elevava direto para o céu, atingindo uma altura próxima a das nuvens. A torre estava construída com uma antiga e brilhante pedra negra e Thor podia sentir o poder que emanava dela até mesmo ali, onde ele se encontrava.

Quando eles voaram mais perto dela, de repente Thor avistou algo no alto, no topo da torre. Era uma pessoa. Ela estava em pé no parapeito, com os braços abertos e as palmas das mãos estendidas. Seus olhos estavam fechados e ela estava balançando ao vento.

Thor soube imediatamente de quem se tratava.

Gwendolyn.

Seu coração disparou quando ele a viu de pé, lá. Ele sabia o que ela estava pensando. E ele sabia o porquê. Thor pensou que ela tinha desistido de viver e ele não podia deixar de sentir que era o culpado disso.

“MAIS RÁPIDO!” Thor exclamou.

Mycoples bateu suas asas ainda mais fortemente e então eles voaram tão rápido que Thor ficou quase sem fôlego.

Enquanto se aproximavam, Thor viu quando Gwen deu um passo para trás, para fora da borda, e voltou para a segurança do telhado. Seu coração se encheu de alívio. Sem nem sequer vê-lo, Gwen mudou de ideia por conta própria e decidiu não saltar.

Mycoples rugiu e Gwen olhou para cima e viu Thor pela primeira vez. Seus olhos se encontraram mesmo desde aquela grande distância e ele viu quando a surpresa inundou o rosto dela.

Mycoples pousou no telhado, e assim que ela fez isso Thor pulou, ele mal esperou que ela assentasse, ele correu imediatamente para Gwendolyn.

Gwen virou-se e olhou para ele, seus olhos estavam arregalados em completa surpresa. Parecia que ela estava vendo um fantasma.

Thor correu para ela, seu coração estava aos pulos, inundado com a emoção, ele estendeu seus braços. Eles se abraçaram fortemente, então Thor a agarrou fortemente, a levantou em seus braços e girou-a uma vez após outra.

Thor a ouviu chorar em seu ouvido, ele sentiu as lágrimas quentes dela escorrendo pelo seu pescoço, ele mal podia acreditar que estava realmente ali, abraçando-a, em carne e osso. Ele mal podia acreditar que isso estava realmente acontecendo. Aquele era o sonho que ele tinha visto em sua mente, dia após dia, noite após noite, enquanto ele estava nos confins do Império, quando ele tinha tido a certeza de que nunca mais voltaria e que jamais poria os olhos em Gwendolyn novamente. E ali estava ele agora, segurando-a em seus braços.

Por haver estado longe dela por tanto tempo, tudo sobre ela parecia novidade. Parecia perfeito. E ele jurou que ele nunca mais daria por sentado um momento com ela novamente.

“Gwendolyn.” Ele sussurrou em seu ouvido.

“Thorgrin.” Ela sussurrou em resposta.

Eles se abraçaram por um tempo que Thor não soube calcular, então, lentamente, eles se inclinaram e se beijaram. Foi um beijo longo e apaixonado, nenhum deles queria se afastar.

“Você está vivo.” Disse ela “Você está aqui. Eu não acredito que você esteja aqui.”

Mycoples resfolegou e Gwendolyn olhou por cima do ombro de Thor, então Mycoples bateu as asas uma vez. O rosto de Gwen corou com medo.

“Não tenha medo.” Disse Thor. “O nome dela é Mycoples. Ela é minha amiga. E ela vai ser sua amiga também. Deixe-me mostrar-lhe.”

Thor pegou a mão de Gwen e guiou-a lentamente pelo parapeito. Ele podia sentir o medo de Gwen enquanto eles se aproximavam. Ele compreendia. Afinal, aquele era um dragão de verdade e estava mais perto do que Gwen jamais tinha estado de um deles em toda sua vida.

Mycoples olhou para Gwen com seus enormes olhos vermelhos, ela resfolegou delicadamente, bateu suas asas e arqueou seu pescoço para trás. Thor percebeu algo parecido com ciúmes e, talvez, curiosidade.

“Mycoples, eu lhe apresento Gwendolyn.”

Mycoples virou a cabeça para longe, orgulhosamente.

Então, de repente ela se aproximou novamente e ao fazer isso, ela olhou bem nos olhos de Gwendolyn, como se estivesse vendo através dela. Ela inclinou-se para tão perto que seu rosto estava quase tocando o rosto de Gwendolyn.

Gwen engasgou de surpresa, espanto, e talvez de medo. Ela estendeu a mão trêmula, colocou-a suavemente no longo nariz de Mycoples e tocou suas escamas roxas.

Depois de alguns segundos de tensão, Mycoples finalmente piscou os olhos, baixou o nariz e esfregou-o contra o ventre de Gwen em um sinal de afeto. Mycoples ficou esfregando o nariz contra o ventre de Gwen, como se tivesse uma fixação com ele, Thor não conseguia entender por que ela atuava assim.

Em seguida, com a mesma rapidez, Mycoples virou a cabeça e desviou o olhar para o horizonte.

“Ela é linda.” Gwen sussurrou.

Ela se virou e olhou para Thor.

“Eu havia perdido as esperanças de que você voltasse.” Disse ela. “Eu não pensei que você voltaria.”

“Nem eu.” Disse Thor. “Pensar em você foi o que me sustentou. Deu-me razão para sobreviver. Para retornar.”

Eles se abraçaram novamente, apertando-se com força enquanto a brisa os acariciava, então, finalmente, eles se separaram.

Gwendolyn olhou para baixo e notou a Espada do Destino no quadril de Thor, seus olhos se arregalaram. Ela engasgou com a surpresa.

“Você trouxe de volta a espada.” Disse ela. Ela olhou para ele, incrédula. “Foi você quem a ergueu.”

Thor assentiu com a cabeça.

“Mas como…?” Ela começou a falar, então parou. Ela estava, claramente, perplexa.

“Eu não sei.” Disse Thor. “Eu simplesmente fui capaz de levantá-la.”

Seus olhos se abriram com esperança quando ela percebeu algo mais.

“Então o escudo está ativo outra vez.” Ela disse esperançosa.

Thor acenou de volta solenemente.

“Andronicus está preso.” Disse ele. “Nós já libertamos a Corte do Rei e Silésia.”

O semblante de Gwendolyn levantou-se com alegria e alívio.

“Foi você.” Ela disse ao perceber tudo. “Você libertou nossas cidades.”

Thor deu de ombros, modestamente.

“Foi principalmente obra de Mycoples. E da espada. Eu apenas segui o curso dos eventos.”

Gwen estava radiante.

“E nosso povo? Ele está a salvo? Alguém sobreviveu?”

Thor assentiu com a cabeça.

“A maioria está viva e se encontra bem.”

Ela sorriu, parecendo mais jovem novamente.

“Kendrick espera por você em Silésia.” Disse Thor. “… Junto com Godfrey, Reece, Srog e muitos, muitos outros. Eles estão todos vivos e bem, e a cidade está livre.”

Gwendolyn correu e abraçou Thor, segurando-o firmemente. Ele podia sentir o enorme alívio percorrendo-a.

“Eu pensei que tudo havia acabado…” Disse ela chorando baixinho. “… Que tudo estava perdido para sempre.”

Thor balançou a cabeça.

“O Anel sobreviveu.” Disse ele. “Andronicus está em fuga. Nós vamos voltar e eliminá-lo de uma vez por todas. E então vamos reconstruir tudo.”

De repente, Gwendolyn virou as costas para ele e desviou o olhar, ela olhava para o céu enquanto enxugava uma lágrima. Ela envolveu seus ombros apertando o seu manto ao redor deles, seu rosto estava cheio de apreensão.

“Eu não sei se eu poderei regressar.” Ela disse hesitante. “Algo me sucedeu enquanto você estava longe.”

Thor se virou e olhou para ela, segurando seus ombros.

“Eu sei o que aconteceu com você.” Disse ele. “Sua mãe me contou. Não há nada do qual você deva sentir vergonha.” Disse ele.

Gwendolyn olhava para ele, os olhos dela estavam cheios de surpresa e admiração.

“Você já sabe?” Ela perguntou, perplexa.

Thor assentiu com a cabeça.

“Isso não me afeta.” Disse ele. “Eu amo você da mesma maneira. Ou ainda mais. O nosso amor – isso é o que realmente importa. Ele é inquebrantável. Eu vou vingar você. Eu vou matar Andronicus com minhas mãos. E o nosso amor, ele nunca vai morrer.”

Gwen correu e abraçou Thor apertadamente, as lágrimas escorriam pelo seu pescoço. Ele podia sentir como ela estava aliviada.

“Eu amo você.” Gwen disse no ouvido dele.

“Eu também a amo.” Respondeu ele.

Thor ficou ali, abraçando-a, seu coração estava acelerado com a emoção. Ele queria ali, naquele momento, mais do que nunca, pedi-la em casamento. Mas ele sentia que não podia, não antes de revelar-lhe o seu segredo, não antes que ele lhe contasse quem era seu pai.

Esse pensamento o encheu de vergonha e humilhação. Ali estava ele, a pessoa que havia acabado de jurar que mataria o homem que ambos mais odiavam. Como era possível então, que suas palavras revelassem que Andronicus era seu pai?

Thor tinha certeza de que se ele fizesse isso, Gwendolyn o odiaria para sempre. E ele não podia arriscar-se a perdê-la. Não depois de tudo o que tinha acontecido. Ele a amava muitíssimo.

Assim, em vez disso, Thor meteu a mão em um bolso interior de sua camisa e com as mãos trêmulas, tirou o colar, o que ele tinha encontrado entre os tesouros do dragão. Era um cordão de ouro brilhante com um pingente de ouro em forma de coração cravejado com diamantes e rubis. Ele segurou-o contra a luz e Gwen ficou sem palavras ao vê-lo.

 

Thor veio por trás dela e abotoou-o em volta do pescoço.

“Uma pequena amostra de meu amor e afeto.” Disse ele.

Ele pendia maravilhosamente no pescoço dela, o ouro brilhava na luz, refletindo tudo.

O anel queimava no bolso de Thor. Ele prometeu a si mesmo que iria dá-lo a ela quando fosse o momento certo. Quando ele conseguisse reunir a coragem de lhe dizer a verdade. Mas aquele não era o momento apropriado, por mais que ele desejasse que fosse.

“Então como você pode ver, você pode retornar.” Thor disse, acariciando o rosto dela com as costas da mão. “Você tem de voltar. O seu povo precisa de você. Eles precisam de um líder. O Anel, sem um líder não é nada. Eles esperam que você os oriente. Andronicus ainda habita metade do Anel. Nossas cidades ainda precisam ser reconstruídas.”

Ele olhou nos olhos dela e podia ver que ela estava pensando.

“Diga que sim.” Thor insistiu. “Volte comigo. Esta torre não é o lugar ideal para que uma mulher jovem viva o resto de seus dias. O Anel precisa de você. Eu preciso de você.”

Thor estendeu uma mão e esperou.

Gwendolyn olhou para baixo, hesitante.

Então, finalmente ela estendeu a mão e tomou a mão dele. Seus olhos brilhavam mais e mais, irradiando amor e carinho. Ele podia vê-la lentamente voltando a ser a velha e querida Gwendolyn que ele tinha conhecido: cheia de vida, de amor e de alegria. Era como se ela fosse uma flor que estava desabrochando diante de seus olhos.

“Sim.” Ela disse suavemente, sorrindo.

Eles se abraçaram e ele a apertou fortemente, então Thor jurou nunca mais deixá-la ir embora outra vez.

CAPÍTULO SETE

Erec abriu os olhos para encontrar-se deitado nos braços de Alistair, olhando para seus olhos azuis e cristalinos, os quais brilhavam com amor e carinho. Ela exibia um pequeno sorriso no canto dos lábios e ele sentia o calor que irradiava de suas mãos e percorria seu corpo. Ao verificar seu estado, ele sentiu-se completamente curado, renascido, era como se ele nunca tivesse sido ferido. Ela o havia trazido de volta da morte.

Erec se sentou e olhou nos olhos de Alistair com surpresa, ele encontrou-se mais uma vez perguntando-se quem ela realmente era e como ela poderia ter tais poderes.

Erec se sentou e coçou a cabeça, ele imediatamente se lembrou: os homens de Andronicus; o ataque; a defesa da ravina; o rochedo.

Erec ficou de pé e viu todos os seus homens olhando na direção dele, como se estivessem à espera de sua ressurreição e de seu comando. Seus rostos estavam cheios de alívio.

“Por quanto tempo eu estive inconsciente?” Ele se virou e perguntou para Alistair, ansioso. Ele se sentia culpado por ter abandonado seus homens por tanto tempo.

Mas ela sorriu docemente para ele.

“Por menos de um Segundo.” Disse ela

Erec não podia compreender como isso poderia ser possível. Ele se sentia tão revigorado, era como se ele tivesse dormido por anos. Ele sentia uma nova força em seu passo, então ele ficou de pé, virou-se e correu para a entrada da ravina e viu sua obra: a enorme pedra que ele havia golpeado agora estava imóvel, impedindo que os homens de Andronicus pudessem passar. Eles haviam conseguido o impossível: tinham repelido um exército muito maior. Pelo menos por enquanto.

Antes que Erec pudesse comemorar, ele ouviu um grito repentino vindo do alto. Ele olhou para cima e viu quando um de seus homens, lá no topo do penhasco, deu um grito e em seguida caiu para trás, dando voltas sobre si mesmo, até cair no chão já morto.

Erec olhou para baixo e viu uma lança incrustada no corpo do homem. Ele olhou para cima novamente e em seguida percebeu que havia uma grande agitação ali, ele ouvia gritos e mais gritos ecoando por todos os lugares. Ele avistou dezenas de homens de Andronicus ali no topo, lutando corpo a corpo com os homens do Duque, todos iam golpe a golpe. Erec percebeu logo o que tinha acontecido: o comandante do Império havia dividido suas forças, enviando alguns homens através da ravina e enviando outros para a parte alta da montanha.

“PARA CIMA!” Erec ordenou. “SUBAM!”

Os homens do Duque o seguiam enquanto ele corria pelas paredes da montanha, de espada na mão, tentando escalar a subida íngreme de rocha e poeira. A cada vários metros ele escorregava e se apoiava com a palma da mão, raspando-a contra a pedra, ele se agarrava firmemente, fazendo tudo o que podia para não cair para trás. Ele corria, mas a parede era tão íngreme que a corrida se assemelhava mais a uma escalada; cada etapa era uma luta árdua, as armaduras tiniam ao redor dele enquanto seus homens resfolegavam e arfavam pelo caminho, como cabras montesas, direto para o penhasco.

“ARQUEIROS!” Gritou Erec.

Abaixo, várias dezenas de arqueiros do Duque, os quais também estavam escalando a montanha, pararam e apontaram para o topo do penhasco. Eles lançaram uma saraivada de flechas e vários soldados do Império gritaram e caíram para trás, despencando pela lateral do penhasco. Um corpo despencou na direção de Erec; ele se esquivou e quase foi atingido por ele. Um dos homens do Duque não teve tanta sorte, já que um cadáver o atingiu e o derrubou de costas no chão, ele caiu no chão com um grito, morrendo esmagando pelo peso.

Os arqueiros do Duque atacaram e se posicionaram em cima e na parte de baixo da montanha, eles disparavam suas flechas cada vez que um soldado do Império colocava a cabeça sobre a borda do penhasco e assim os mantinham à distância.

Mas a luta lá em cima estava difícil, havia combate corpo a corpo e nem sempre as flechas atingiam o seu alvo; uma flecha perdida feriu acidentalmente as costas de um dos homens do Duque. O soldado gritou e arqueou as costas, então um soldado do Império aproveitou-se da situação e o apunhalou, fazendo-o cair de costas, o soldado gritava enquanto caía pelo penhasco. Mas como o soldado do Império estava exposto, outro arqueiro acertou uma flecha em seu ventre e o abateu também, o cadáver dele caiu de cara pela borda.

Erec redobrou seus esforços, assim como aqueles em torno dele, ele corria o mais rápido que podia para cima do penhasco. Quando estava a poucos metros de distância do topo, ele escorregou e começou a cair; ele se debateu, estendeu a mão e agarrou uma raiz grossa que emergia entre as pedras. Ele se aferrava a sua vida enquanto pendurava-se na raiz, pouco depois ele conseguiu recuperar o equilíbrio, levantou-se e continuou subindo até o topo.

Erec alcançou o topo antes dos outros e correu para a frente com um grito de guerra e sua espada levantada bem alto. Ele estava ansioso para ajudar a defender seus homens, os quais estavam aguentando em seus postos no topo, mas estavam sendo forçados a recuar. Havia apenas algumas dezenas de seus homens ali em cima e cada um estava envolvido em um combate corpo a corpo com os soldados do Império. Os homens de Erec estavam em franca desvantagem, eram dois contra um. A cada segundo que passava, mais e mais soldados do Império iam aparecendo no topo.

Erec lutava como um louco, atacando e apunhalando dois soldados de uma só vez, enquanto liberava seus homens. Não havia ninguém mais rápido do que ele no campo de batalha e tampouco havia em todo o Anel. Com suas duas espadas na mão e desferindo golpes por todos os lados, Erec usava suas habilidades únicas como campeão do Exército Prata para combater os soldados do Império. Erec era uma verdadeira máquina de destruição, ele girava, se abaixava e golpeava, avançando cada vez mais para o núcleo dos soldados do Império. Ele se esquivava, dava cabeçadas e se defendia e ia tão rápido que ele simplesmente optou por não usar seu escudo.

Erec ia abrindo alas através deles como o vento, derrubando dezenas de soldados antes que eles praticamente tivessem a chance de se defender. E todos os homens do Duque, ao seu redor, se uniram a ele.

Logo o resto dos homens do Duque, que vinham atrás de Erec, também chegou ao topo. Brandt e o Duque lideravam o caminho, lutando ao lado com Erec. Em breve a situação se inverteu e eles se encontraram repelindo os homens do Império, seus cadáveres iam se acumulando ao redor deles.

Erec se defendeu do último soldado do Império que ainda restava ali no topo e foi fazendo com que ele recuasse para a borda do precipício, em seguida, Erec inclinou-se para trás e chutou-o, mandando-o pelo abismo, o soldado gritava enquanto caía para trás.

Erec e seus homens ficaram ali, recuperando o fôlego. Erec avançou e caminhou por todo o amplo patamar, até chegar à beira do lado do Império do penhasco. Ele queria ver o que havia abaixo. O Império, sabiamente, tinha parado de enviar homens ali em cima, mas Erec tinha a terrível sensação de que eles ainda poderiam ter algum contingente de reserva. Seus homens aproximaram-se dele e olharam para baixo, também.

Nada na imaginação de Erec o havia preparado para o que ele viu a seguir. Seu coração afundou no peito. Apesar das centenas de homens que eles tinham conseguido matar; apesar do fato de que eles haviam bloqueado com sucesso a ravina e tomado o terreno elevado, ali abaixo ainda havia dezenas de milhares de soldados do Império.

Erec mal podia acreditar. Eles haviam usado todos os seus recursos para chegar onde estavam e todo o dano que tinham causado não tinha feito a menor diferença no exército interminável do Império. O Império simplesmente continuaria enviando mais e mais homens ali. Erec e seus homens poderiam matar dezenas, talvez até centenas deles. Mas no final das contas, milhares deles iriam avançar.

Erec ficou ali, sentindo-se completamente sem esperança. Pela primeira vez em sua vida, ele sabia que estava prestes a morrer ali, naquela terra, naquele dia. Não havia nenhuma maneira de que ele pudesse contornar aquela situação. Ele não se arrependia. Ele tinha montado uma defesa heróica, e se ele tivesse de morrer, não haveria melhor maneira, ou lugar para fazer isso. Ele agarrou sua espada e preparou-se, a única coisa que o fazia hesitar era o fato de que Alistair devia estar a salvo.

Talvez, ele pensou, na próxima vida ele pudesse passar mais tempo com ela.

“Bem, foi bom enquanto durou.” Disse uma voz.

Erec se virou e viu Brandt de pé ao seu lado, com a mão no punho da sua espada, também resignado. Os dois lutaram inúmeras batalhas juntos, haviam sido superados em número muitas vezes e ainda assim Erec nunca tinha visto aquela expressão no rosto do seu amigo. Ela devia estar refletindo a sua própria: ela indicava que a morte estava ali.

“Pelo menos nós morreremos empunhando nossas espadas.” Disse o Duque.

Aquelas palavras eram o eco exato dos pensamentos de Erec.

Lá embaixo, os homens do Império pareciam perceber isso, eles olharam para cima. Milhares deles começaram a se reunir para marchar em uníssono, em direção ao penhasco, de armas em punho. Centenas de arqueiros do Império começaram a se ajoelhar e Erec sabia que em poucos momentos o derramamento de sangue começaria. Ele se preparou e respirou fundo.

De repente, ouviu-se um barulho estridente que provinha de algum lugar do céu, fora do horizonte. Erec olhou para cima e examinou os céus, perguntando a si mesmo se ele não estaria ouvindo coisas. Uma vez, ele tinha ouvido o grito de um dragão e ele pensou que talvez ele soasse assim. Havia sido um som que ele nunca tinha esquecido, um som que ele tinha ouvido durante seu treinamento, durante a Centena. Era um grito que ele jamais pensou que ouviria novamente. Não era possível. Um dragão? Ali no Anel?

Erec esticou o pescoço e à distância, através das nuvens que se dispersavam, ele teve uma visão que ficaria marcada em sua mente para o resto de sua vida: voando em direção a eles e batendo suas grandes asas, havia um enorme dragão roxo com olhos vermelhos, enormes e brilhantes. A visão encheu Erec de terror, mais do que qualquer exército poderia fazer.

Mas quando ele olhou mais de perto, sua expressão passou a ser de total confusão. Ele pensou que tinha visto duas pessoas montadas nas costas do dragão. Erec entrecerrou os olhos e as reconheceu. Será que seus olhos estavam lhe pregando uma peça?

Lá, montado nas costas do dragão, estava Thorgrin e atrás dele, agarrando sua cintura, a filha do rei MacGil. Gwendolyn.

Antes que Erec pudesse começar a processar o que estava vendo, o dragão voou em picada e mergulhou em direção ao chão como uma águia. Ele abriu a boca e emitiu um som horrível, um som tão agudo que fez com que uma pedra que estava ao lado de Erec começasse a rachar. A terra inteira tremeu quando o dragão mergulhou, abriu a boca e soltou um fogo diferente de qualquer coisa que Erec já tinha visto.

 

O vale ficou repleto de gritos e berros de milhares de soldados do Império, quando onda após onda de fogo os engolia. Todo o vale se iluminou com as chamas. Thor dirigia o dragão para cima e para baixo ao longo das fileiras dos homens de Andronicus e ia acabando com dezenas deles em um piscar de olhos.

Os soldados restantes deram a volta e fugiram, correndo para o horizonte. Thor os perseguiu também e ordenou ao seu dragão que lançasse mais e mais fogo.

Em poucos instantes, todos os homens que se encontravam abaixo de Erec – os homens que ele tinha tanta certeza de que causariam sua morte, eles próprios estavam mortos. Já nada mais restava deles, exceto seus cadáveres carbonizados, fogo, chamas e suas almas extintas. Todo o batalhão do Império já não existia mais.

Erec olhou ao redor boquiaberto, em estado de choque, ele viu quando o dragão subiu para o alto, bateu suas grandes asas e voou sobre eles. Ele seguiu para o Norte. Seus homens proferiram gritos de grande alegria, quando o dragão passou por eles.

Erec ficou sem palavras e com uma enorme admiração pelo heroísmo de Thor; por seu destemor; por seu controle sobre aquela fera e seu controle sobre o poder dela. Erec tinha recebido uma segunda chance na vida, ele e todos os seus homens, pela primeira vez em muito tempo, estavam se sentindo otimistas. Agora eles poderiam vencer. Vencer até mesmo o milhão de homens de Andronicus. Com uma criatura como aquela, eles realmente poderiam vencer.

“Homens, marchem!” Ordenou Erec.

Ele estava determinado a seguir o rastro do dragão, o cheiro de enxofre, o fogo no céu, para onde quer que isso os levasse. Thorgrin havia retornado e era hora de se juntar a ele.