Um Rito de Espadas

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From the series: Anel Do Feiticeiro #7
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Ouviu-se um grande ruído de metal contra metal quando Kendrick e os outros levantaram espadas, machados, lanças e alabardas ao encontrar-se com milhares de soldados do Império que avançaram contra eles em seus cavalos. Kendrick foi o primeiro a fazer impacto, ele levantou seu escudo e bloqueou um golpe, ao mesmo tempo em que brandia sua espada e matava dois soldados. Sem hesitar, ele se virou e bloqueou outro golpe de espada, logo depois ele enfiou a espada na barriga de um soldado do Império. Enquanto o homem morria, Kendrick pensava em vingança; ele pensava em Gwendolyn, em seu povo, em todas as pessoas do Anel que haviam sofrido.

Reece, ao lado dele, balançou sua maça e golpeou um soldado em um lado de sua cabeça, derrubando-o do cavalo, logo depois ele levantou seu escudo e bloqueou um golpe lateral. Ele girou sua maça ao redor e abateu o seu atacante. Elden, ao lado dele, correu para a frente com seu grande machado e desceu-o sobre um soldado que apontava para Reece, o machado perfurou o escudo do soldado e atingiu seu peito.

O’Connor disparou várias flechas com uma precisão mortal, mesmo para uma distância tão pequena, já Conven lançava-se para a batalha e lutava de forma imprudente, ele ia avançando mais que todos os demais homens, sem nem mesmo se preocupar em levantar seu escudo. Ao invés disso, ele brandia duas espadas enquanto se dirigia para o grosso dos soldados do Império, como se quisesse morrer. Mas, surpreendentemente, ele não morria. Em vez disso, ele abatia os homens a torto e à direita.

Indra os seguia não muito atrás. Ela era destemida, muito mais do que a maioria dos homens. Ela usava o punhal com habilidade e astúcia, abrindo caminho através das fileiras e apunhalando os soldados do Império na garganta. Ao fazer isso, ela pensava em sua terra natal, pensava em quanto seu próprio povo tinha sofrido sob a bota opressora do Império.

Um soldado do Império veio descendo seu machado para a cabeça de Kendrick e ele não teve tempo de evitá-lo, então ele se preparou para o golpe; porém Kendrick ouviu um grande estrondo e viu quando seu amigo Atme, quem se encontrava ao lado dele, absorvia o golpe com seu escudo. Logo depois, Atme usou sua lança curta e perfurou os intestinos de seu atacante. Kendrick sabia que mais uma vez ele lhe devia sua vida.

Quando outro soldado apontou diretamente contra Atme com um arco e flecha, Kendrick avançou, levantou sua espada e desferiu um golpe que atingiu o arco e o fez voar pelos ares, a flecha saiu disparada, sem rumo, voando por cima da cabeça de Atme. Kendrick golpeou o cavalete do nariz do soldado com o punho de sua espada, derrubando-o do seu cavalo e fazendo com que ele fosse pisoteado até a morte. Agora ele e Atme estavam quites.

E assim prosseguiu a batalha, cada exército ia golpe a golpe, homens caíam em ambos os lados, porém os que mais caíam eram os homens do Império, enquanto os homens de Kendrick, alimentados pela raiva, avançavam mais e mais cidade adentro. Finalmente, seu ímpeto varreu a todos como uma maré. Os homens do Império eram guerreiros fortes, mas eles estavam acostumados apenas a atacar e foram pegos de surpresa; assim, eles não foram capazes de organizar-se e conter a onda destrutiva do exército de Kendrick. Eles sofriam as investidas e caíam em enormes quantidades.

Depois de quase uma hora de intensos combates, as perdas do Império ocasionaram uma retirada em grande escala. Alguém do seu lado tocou uma corneta e um por um, os soldados começaram a retirar-se cavalgando para longe, tentando sair da cidade.

Com um grito ainda mais alto, Kendrick e seus homens se lançaram atrás deles, perseguindo-os por todo o caminho através de Lúcia e perseguindo-os fora dos portões traseiros.

O restante do batalhão do Império, talvez uma centena de homens, cavalgavam por suas vidas em um caos semiorganizado, enquanto corriam em direção ao horizonte. Ouviu-se outro grande grito em Lúcia, eram os cativos MacGil que haviam sido libertados. Os homens de Kendrick cortaram suas cordas e os libertaram enquanto prosseguiam. Os ex-cativos não perderam tempo: eles rapidamente tomaram os cavalos e as armas dos cadáveres dos soldados do Império e juntaram-se aos homens de Kendrick.

O exército de Kendrick aumentou para quase o dobro do seu tamanho e milhares de seus homens agora perseguiam os soldados do Império. Eles subiam e desciam as colinas fechando o cerco sobre eles. O’Connor e os outros arqueiros conseguiram derrubar alguns deles, seus corpos caíam aqui e ali.

A perseguição continuou, Kendrick se perguntava para onde eles estariam indo, quando ele e seus homens subiram uma colina particularmente alta. Ao olhar para baixo ele viu uma das maiores cidades MacGil ao leste de Silésia: Vinésia, ela estava situada entre duas montanhas, alojada no vale. Era uma cidade importante, muito maior do que Lúcia, com suas grossas muralhas de pedra e seus sólidos portões de ferro. Era para lá, Kendrick percebeu, que os homens restantes do batalhão do Império tinham fugido, visto que a cidade estava protegida por dezenas de milhares de homens de Andronicus.

Kendrick fez uma pausa com os seus homens no topo da colina e avaliou a situação. Vinésia era uma cidade grande e eles estavam em número bem menor. Ele sabia que seria temerário tentar e que a medida mais segura a tomar seria voltar para Silésia e estar gratos pela sua vitória naquele dia.

Mas Kendrick não estava com disposição para decisões seguras e tampouco estavam seus homens. Eles queriam sangue. Eles queriam vingança. E em um dia como aquele, as probabilidades já não importavam mais. Já era hora de que os homens do Império soubessem de que os MacGils estavam feitos.

“ATACAR!” Kendrick gritou.

Um forte grito se ouviu e milhares de homens correram para a frente, avançando de forma imprudente, morro abaixo, em direção à cidade grande e ao seu maior oponente, todos preparados para renunciar às suas vidas e para arriscar tudo pela honra e pelo valor.

CAPÍTULO QUATRO

Gareth tossia e ofegava enquanto ia percorrendo tropegamente seu caminho através da paisagem desolada. Os lábios ele estavam rachados devido à falta de água, seus olhos estavam fundos e com olheiras. Ele havia passado por dias angustiantes durante os quais, mais de uma vez, ele pensou que morreria.

Gareth tinha escapado por um triz dos homens de Andronicus em Silésia, ele havia se escondido em uma passagem secreta metida na parede e ficou ali aguardando. Ele havia permanecido ali, metido como um rato dentro da escuridão, à espera de um momento oportuno. Ele sentia que tinha estado ali por vários dias. Ele havia testemunhado tudo, tinha visto com descrença quando Thor tinha chegado montado em um dragão, tinha visto também quando ele matou todos aqueles homens do Império. No meio da confusão e do caos que se seguiu, Gareth encontrou a sua chance de escapar.

Gareth tinha se esgueirado para fora através do portão traseiro de Silésia, enquanto ninguém estava olhando e tinha tomado a estrada Sul. Ele havia traçado o seu caminho ao longo da borda do Canyon, caminhando sempre pela floresta, de modo a não ser detectado. Já não era necessária tanta precaução. As estradas estavam desertas, mesmo. Todo mundo estava fora no Leste, lutando na grande batalha pelo Anel. Enquanto prosseguia, Gareth observava os corpos carbonizados dos homens de Andronicus, eles cobriam todo o caminho, então ele percebeu que as batalhas ali no Sul, já tinham sido travadas.

Gareth fez o seu caminho avançando cada vez mais para o Sul, seu instinto o conduzia de volta à Corte do Rei, ou para o que restasse dela. Ele sabia que ela havia sido devastada pelos homens de Andronicus e que provavelmente estivesse em ruínas, mas ainda assim, ele queria ir para lá. Ele queria ficar longe de Silésia e ir para o lugar que ele sabia que poderia ser um porto seguro. O único lugar que todos os outros tinham abandonado. O único lugar do qual ele, Gareth, uma vez havia sido rei supremo.

Após dias de caminhada, já se encontrando fraco e delirante de fome, Gareth finalmente tinha saído do bosque e visto à distância, a Corte do Rei. Lá estava ela, suas paredes ainda estavam de pé, pelo menos parcialmente, embora estivessem carbonizadas e em ruínas. Ao seu redor estavam os cadáveres dos homens de Andronicus, evidenciando que Thor havia estado ali. Com exceção dos cadáveres, a corte se encontrava vazia, não havia nada mais, além do assobio do vento.

Tudo isso era perfeito para Gareth. De todas as maneiras, ele não estava pensando em entrar na cidade. Ele tinha ido ali em busca de uma pequena estrutura escondida do lado de fora dos muros da cidade. Era um lugar que ele havia frequentado quando criança, uma estrutura circular de mármore, que se elevava apenas alguns metros acima do solo e estava adornada com estátuas talhadas sobre seu teto. Ela sempre parecia antiga, devido a sua pouca altura parecia que havia brotado da terra. E era assim. Era a cripta dos MacGils. O lugar onde seu pai e seu avô, tinham sido enterrados.

A cripta era a única estrutura que Gareth sabia que seria deixada intacta. Afinal, quem iria se preocupar em atacar um túmulo? Aquele era o único lugar que lhe restava, ele sabia que ninguém jamais se preocuparia em procurar por ele ali, aquele era o lugar onde ele poderia procurar abrigo. Era um lugar onde ele poderia se esconder e permanecer completamente sozinho. Era um lugar onde ele poderia estar com seus antepassados. Por mais que Gareth odiasse seu pai, curiosamente, ele se encontrou desejando estar mais perto dele ultimamente.

Gareth cruzou apressadamente o campo aberto, uma rajada de vento frio lhe fez estremecer e ele enrolou o manto esfarrapado apertadamente ao redor de seus ombros. Ele ouviu o grito estridente de um pássaro de inverno e quando ele olhou para cima viu uma enorme e terrível criatura preta voando em círculos no alto, certamente com cada grito, ela antecipava a queda dele, sua próxima refeição. Gareth não podia culpá-la. Ele sentia que já estava nas últimas e tinha certeza que ele parecia ser uma bela refeição para o pássaro.

 

Gareth finalmente chegou ao edifício, ele agarrou a maçaneta da porta de ferro maciço com as duas mãos e puxou-a com toda a força, o mundo girava, Gareth estava quase delirante de exaustão. A porta rangeu e ele precisou usar toda a sua força para erguê-la.

Gareth se meteu rapidamente na tumba escura, a porta de ferro bateu com força e ecoou atrás dele.

Ele retirou a tocha apagada do suporte que estava na parede, golpeou sua pederneira e acendeu-a, ela brindava apenas a luz suficiente para iluminar os degraus enquanto Gareth mergulhava cada vez mais fundo na escuridão. À medida que ele descia os degraus, o lugar se tornava cada vez mais frio e as correntes de ar se intensificavam, o vento assobiava ao penetrar pelas pequenas rachaduras. Ele não podia evitar sentir que eram seus antepassados quem estavam uivando para ele, repreendendo-o.

“DEIXEM-ME EM PAZ!” Ele gritou em resposta.

Sua voz ecoou novamente pelas paredes da cripta.

“VOCÊ VAI TER O SEU PRÊMIO EM BREVE!”

Ainda assim o vento persistia.

Gareth, enfurecido, desceu mais fundo, até que finalmente chegou à grande câmara de mármore, escavada com o seu teto de três metros de altura. Todos os seus antepassados jaziam ali, sepultados em sarcófagos de mármore. Gareth marchou solenemente pelo corredor, seus passos ecoavam no mármore, em direção ao final da cripta, onde seu pai jazia.

O velho Gareth teria esmagado o sarcófago de seu pai. Mas agora, por alguma razão, ele estava começando a sentir apreço por ele. Ele mal conseguia entender. Talvez fosse porque o efeito do ópio estava passando; ou talvez fosse porque Gareth sabia que em breve, ele mesmo também estaria morto.

Gareth chegou ao alto sarcófago, debruçou-se sobre ele e inclinou sua cabeça para baixo. Ele surpreendeu a si mesmo quando começou a chorar.

“Eu sinto sua falta, pai.” Gareth gemia, sua voz ecoou no vazio.

Ele chorava sem cessar, as lágrimas escorriam pelo seu rosto, até que finalmente seus joelhos ficaram fracos, ele cedeu à exaustão e caiu ao lado do mármore, ele ficou ali, sentado no chão, encostado na tumba. O vento uivava como resposta e Gareth baixou a tocha, cuja chama se extinguia cada vez mais na escuridão. Gareth sabia que logo tudo seria escuridão e que, em breve, ele iria se juntar a todos aqueles que ele mais amava.

CAPÍTULO CINCO

Steffen caminhava taciturno pela estrada solitária da floresta, enquanto regressava lentamente da Torre de Refúgio. Seu coração estava destroçado ao deixar Gwendolyn, a mulher a quem ele havia jurado proteger, lá sozinha. Sem ela, ele não era nada. Desde que Stephen a conhecera, ele sentia que tinha finalmente encontrado um propósito na vida: proteger Gwendolyn, dedicar sua vida a recompensá-la por permitir que ele, um mero servo, pudesse ascender, e acima de tudo, recompensá-la por ser a primeira pessoa na sua vida a não detestá-lo nem a subestimá-lo com base em sua aparência.

Steffen tinha se sentido orgulhoso por ajudá-la a alcançar a Torre em segurança. Mas deixá-la ali fez com que ele ficasse sentindo-se vazio por dentro. Para onde ele iria agora? O que ele faria?

Sem Gwen para proteger, sua vida se encontrava sem rumo mais uma vez. Ele não podia voltar à Corte do Rei ou a Silésia: Andronicus tinha derrotado a ambas e ele recordava a destruição que tinha visto quando fugiu de Silésia. Era a última coisa de que ele se lembrava: todo o seu povo era cativo ou escravo. Não fazia sentido voltar. Além disso, Steffen não queria atravessar o Anel novamente e ficar tão longe de Gwendolyn.

Steffen caminhou sem rumo por horas, percorrendo as trilhas sinuosas da floresta, meditando até que lhe ocorresse um lugar para onde ir. Ele seguiu a estrada do Norte e subiu até o topo de uma colina, desde aquele ponto de observação, ele avistou à distância uma pequena aldeia, no topo de outra colina. Ele dirigiu-se para lá e quando ele chegou, ele virou-se para trás e viu que aquela aldeia tinha o que ele precisava: uma visão perfeita da Torre de Refúgio. Se Gwendolyn alguma vez quisesse sair dela, ele queria estar por perto para assegurar-se de que ele estaria lá para acompanhá-la e protegê-la. Afinal, sua lealdade era para com ela agora. Ele não devia sua lealdade a um exército ou a uma cidade, mas sim a Gwendolyn. Ela era sua nação.

Ao chegar à pequena e humilde aldeia, Steffen decidiu que ficaria ali, naquele lugar, onde ele poderia sempre ver a Torre e estar pendente de Gwendolyn. Ao passar através de seus portões, ele viu que era uma cidadezinha pobre e sem graça, outra pequena aldeia nos arredores mais distantes do Anel. Ela estava tão escondida na floresta do Sul que os homens de Andronicus, certamente, nem sequer se incomodariam em chegar até ali.

Steffen chegou sob os olhares de surpresa de dezenas de moradores, seus rostos estavam marcados pela ignorância e falta de compaixão, todos olhavam para ele boquiabertos revelando o desprezo e escárnio tão familiares que ele tinha recebido desde que tinha nascido. Ele podia sentir os olhos zombeteiros de todos sobre ele, enquanto todos eles examinavam sua aparência.

Steffen queria dar a volta e correr, mas ele se obrigou a não fazer isso. Ele precisava estar perto da Torre e por amor a Gwendolyn, ele suportaria qualquer coisa.

Um morador, um homem corpulento em seus quarenta anos e vestido com roupas esfarrapadas, tal como os outros, se virou e dirigiu-se a Stephen ameaçadoramente.

“O que nós temos aqui, uma espécie de homem deformado?”

Os outros riram, deram a volta e se aproximaram.

Steffen manteve a calma, ele já contava com aquele tipo de saudação, a qual ele tinha recebido durante toda sua vida. Ele havia descoberto que quanto mais provincianas eram as pessoas, mais alegria elas sentiam em ridicularizá-lo.

Steffen recostou-se e assegurou-se de que seu arco estivesse pronto, caso aqueles aldeões fossem além de cruéis, violentos. Ele sabia que se fosse preciso, ele poderia abater vários deles em um piscar de olhos. Mas ele não estava ali em prol da violência. Ele estava ali para encontrar abrigo.

“Ele pode ser mais do que apenas uma simples aberração, não é?” Perguntou outro homem, enquanto um grupo grande e crescente de aldeões ameaçadores começou a rodeá-lo.

“Pelas suas divisas, eu diria que ele é.” Disse outro. “Isso parece uma armadura real.”

“E o arco – é de couro fino.”

“Sem mencionar as flechas. A ponta delas é de ouro, não é?”

Eles pararam a escassos metros de distância e olhavam para ele carrancudos e de forma ameaçadora. Eles lhe fizeram lembrar os valentões que o atormentavam quando ele era criança.

“Então, quem você é, seu bicho estranho?” Um deles perguntou zombeteiramente.

Steffen respirou fundo, determinado a manter a calma.

“Eu não quero fazer dano a ninguém.” Ele começou a dizer.

O grupo caiu na gargalhada.

“Dano? Você? E que dano você poderia nos causar?”

“Você não seria capaz de fazer dano nem às nossas galinhas!” Riu outro homem.

Steffen ficou vermelho enquanto as risadas aumentavam; mas ele não se deixaria levar pelas provocações.

“Eu preciso de um lugar para ficar, e de comida. Tenho as mãos calejadas e as costas fortes para o trabalho. Deem-me um trabalho e eu me ocuparei nele. Eu não preciso de muito. Apenas do mesmo que qualquer pessoa.”

Steffen queria mergulhar no trabalho braçal de novo, tal como ele havia feito durante todos aqueles anos nos porões do castelo, servindo ao Rei MacGil. Isso distrairia sua mente da situação. Ele poderia realizar um trabalho duro e viver uma vida de anonimato, já que ele havia estado acostumado a fazer isso muito antes de conhecer Gwendolyn.

“Você se considera um homem?” Um deles gritou, rindo.

“Talvez possamos encontrar alguma utilidade para ele.” Exclamou outro.

Steffen olhou para ele com esperança.

“Isso mesmo, ele pode lutar contra nossos cães ou galinhas!”

Todos riram.

“Eu pagaria um bom dinheiro para ver isso!”

“Há uma guerra lá fora, caso vocês não tenham notado.” Disse Steffen friamente. “Eu tenho certeza de que, mesmo em uma cidade provincial e rudimentar como esta, vocês podem precisar de ajuda para armazenar provisões.”

Os aldeões se entreolharam, perplexos.

“Claro que sabemos da guerra.” Disse um deles. “ Mas nossa aldeia é muito pequena. Os exércitos não vão se incomodar em vir até aqui.”

“Eu não gosto do jeito que você fala.” Disse outro. “Todo cheio de prosa! Parece que você teve alguma instrução. Você acha que é melhor do que nós?”

“Eu não sou melhor do que ninguém.” Disse Steffen.

“Isso é mais do que óbvio.” Riu outro.

“Chega de brincadeira!” Gritou um dos moradores em um tom sério.

Ele se adiantou e empurrou os outros para o lado com sua mão forte. Ele era mais velho do que os outros e parecia ser um homem sério. A multidão acalmou-se em sua presença.

“Se você estiver falando sério…” Disse o homem com sua voz profunda e brusca. “… Eu posso usar um par de mãos extra em meu moinho. O pagamento é um saco de grãos por dia e uma jarra de água. Você dorme no celeiro, junto com o resto dos rapazes da aldeia. Se isso for de seu agrado, eu lhe darei trabalho.”

Steffen assentiu com a cabeça, satisfeito ao ver finalmente, um homem sério.

“Eu não peço mais do que isso.” Disse Stephen.

“Venha por aqui.” Disse o homem, abrindo caminho entre a multidão.

Steffen o seguiu e foi levado até uma enorme moenda feita de madeira, ao redor da qual havia adolescentes e homens. Cada um deles suava e estava coberto de terra, eles estavam posicionados nas pistas lamacentas e empurravam a roda de madeira maciça, cada um pegava um raio e avançava com ele. Steffen ficou ali, examinando o trabalho, ele percebeu que seria um trabalho extenuante. Um trabalho realmente esgotante.

Steffen virou-se para dizer ao homem que ele aceitaria o trabalho, mas o homem já tinha ido embora, supondo que ele faria isso. Os moradores, depois de dizer suas últimas pilhérias, voltaram aos seus afazeres enquanto Steffen olhava para a frente, para a roda, para a nova vida que estava diante dele.

Por um vislumbre no tempo, ele tinha sido fraco, tinha se permitido sonhar. Tinha imaginado uma vida de castelos, de realeza e de classe. Tinha visto a si mesmo sendo uma pessoa importante, a mão direita da Rainha. Ele deveria ter pensado melhor antes de sonhar tão alto. Ele, é claro, não estava destinado a isso. Ele nunca tinha estado. Tudo o que tinha acontecido com ele, ter conhecido Gwendolyn, tinha sido um mero golpe de sorte. Agora, sua vida estaria relegada ao trabalho braçal. Mas, pelo menos, essa era a vida que ele conhecia. Uma vida a qual ele estava habituado. Uma vida de dificuldades. E mesmo que Gwendolyn não estivesse presente nela, essa vida estaria bem para ele.