A mentira mora ao lado

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A mentira mora ao lado
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a m e n t i r a m o r a a o l a d o

(um suspense psicológico de Chloe Fine — livro 2)

b l a k e p i e r c e

Blake Pierce

Blake Pierce é autor do best-seller RILEY PAGE, série de mistérios, que conta com treze livros (e continua crescendo). Blake Pierce também é autor da série de mistérios MACKENZIE WHITE, de nove livros (que também continua crescendo); da série de mistérios AVERY BLACK, de seis livros, da série de mistérios KERI LOCKE, de cinco livros, da série de mistérios MAKING OF RILEY PAIGE, de três livros (que continua crescendo); da série de mistérios KATE WISE, de dois livros (que também segue crescendo), e da série de suspense psicológico CHLOE FINE, de três livros (que segue crescendo).

Um leitor ávido e fã de longa data dos gêneros de mistério e suspense, Blake ama ouvir opiniões. Então, por favor, sinta-se à vontade para visitar www.blakepierceauthor.com para saber mais e manter-se em contato.

Copyright © 2017 por Blake Pierce. Todos os direitos reservados. Exceto conforme permitido na Lei de Direitos Autorais dos Estados Unidos (US. Copyright Act of 1976), nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida de nenhuma forma e por motivo algum, ou colocada em um sistema de dados ou sistema de recuperação sem permissão prévia do autor. Este e-book está licenciado apenas para seu aproveitamento pessoal. Este e-book não pode ser revendido ou dado a outras pessoas. Se você gostaria de compartilhar este e-book com outra pessoa, por favor compre uma cópia adicional para cada beneficiário. Se você está lendo este e-book e não o comprou, ou ele não foi comprado apenas para uso pessoal, então por favor devolva-o e compre seu próprio exemplar. Obrigado por respeitar o trabalho árduo do autor. Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, empresas, organizações, lugares, eventos e acontecimentos são obras da imaginação do autor ou serão usadas apenas na ficção. Qualquer semelhança com pessoas de verdade, em vida ou falecidas, é totalmente coincidência. Imagem de capa: Copyright emin kulirev, usada sob licença de Shutterstock.com.

LIVROS DE BLAKE PIERCE

SUSPENSES PSICOLÓGICOS CHLOE FINE

A PRÓXIMA PORTA (Livro 1)

A MENTIRA MORA AO LADO (Livro 2)

CUL DE SAC (Livro 3)

SÉRIE OS PRIMÓRDIOS DE RILEY PAIGE

ALVOS A ABATER (Livro #1)

ESPERANDO (Livro #2)

SÉRIE DE MISTÉRIO DE RILEY PAIGE

SEM PISTAS (Livro #1)

ACORRENTADAS (Livro #2)

ARREBATADAS (Livro #3)

ATRAÍDAS (Livro #4)

PERSEGUIDA (Livro #5)

A CARÍCIA DA MORTE (Livro #6)

COBIÇADAS (Livro #7)

SÉRIE DE ENIGMAS MACKENZIE WHITE

ANTES QUE ELE MATE (Livro nº1)

ANTES QUE ELE VEJA (Livro nº2)

SÉRIE DE ENIGMAS AVERY BLACK

MOTIVO PARA MATAR (Livro nº1)

MOTIVO PARA CORRER (Livro nº2)

SÉRIE DE MISTÉRIO KERI LOCKE

RASTRO DE MORTE (Livro 1)

ÍNDICE

PRÓLOGO

CAPÍTULO UM

CAPÍTULO DOIS

CAPÍTULO TRÊS

CAPÍTULO QUATRO

CAPÍTULO CINCO

CAPÍTULO SEIS

CAPÍTULO SETE

CAPÍTULO OITO

CAPÍTULO NOVE

CAPÍTULO DEZ

CAPÍTULO ONZE

CAPÍTULO DOZE

CAPÍTULO TREZE

CAPÍTULO QUATORZE

CAPÍTULO QUINZE

CAPÍTULO DEZESSEIS

CAPÍTULO DEZESSETE

CAPÍTULO DEZOITO

CAPÍTULO DEZENOVE

CAPÍTULO VINTE

CAPÍTULO VINTE E UM

CAPÍTULO VINTE E DOIS

CAPÍTULO VINTE E TRÊS

CAPÍTULO VINTE E QUATRO

CAPÍTULO VINTE E CINCO

CAPÍTULO VINTE E SEIS

CAPÍTULO VINTE E SETE

CAPÍTULO VINTE E OITO

CAPÍTULO VINTE E NOVE

CAPÍTULO TRINTA

CAPÍTULO TRINTA E UM

PRÓLOGO

Trabalhar como babá não era a vida que Kim Wielding havia sonhado para si mesma, mas era algo bem divertido. O que era um pouco surpreendente, considerando que, com vinte e poucos anos, ela havia corrido atrás da carreira de seus sonhos, em Washington, trabalhando em campanhas e escrevendo discursos para candidatos com poucas chances. E quase havia conseguido se dar bem.

Quase.

A vida prega peças engraçadas às vezes.

Agora, aos trinta e seis anos, aqueles sonhos de trabalhar na capital haviam ficado para trás. Ela havia os substituído por outro sonho: o de escrever uma incrível história americana nos horários livres de seu trabalho como babá. Ela havia, de certa forma, caído de paraquedas naquele emprego, depois de uma derrota horrível de um candidato promissor para quem havia trabalhado. Aquilo fora o necessário para que ela deixasse a ideia de lado por um tempo. E longe da política, uma nova oportunidade de emprego caíra em seu colo. Nunca havia pensado em cuidar de crianças, mas estava dando certo.

Kim refletia sobre seu primeiro emprego como babá enquanto estava sentada na cozinha, dentro da casa de Bill e Sandra Carver. Era difícil acreditar que mais de dez anos já haviam se passado. Essa década era período de tempo que, de alguma maneira, havia borrado as memórias de trabalhar na capital, escrevendo discursos de esperança com um leve toque de mentiras.

Seu notebook estava a sua frente. Ela havia chegado a marca de quarenta mil palavras em seu livro. Imaginou que estivesse mais ou menos na metade. Talvez, ela terminaria em mais ou menos seis meses. Tudo dependia da direção que as vidas dos três filhos dos Carver tomaria. O mais velho, Zack, estava na nona série naquele ano, encarando o futebol americano como um passatempo, mas levando a sério. O filho do meio, Declan, jogava futebol. E a mais nova, Madeline, praticava ginástica. Kim sabia que teria muito trabalho nos próximos meses.

Ela fechou seu notebook e olhou pela cozinha. Estava descongelando frango para a janta. A bancada já estava vazia, a louça estava limpa, e a quarta leva de roupas estava batendo na máquina de lavar. Até que as crianças chegassem, ela não teria mais o que fazer. E por isso estivera trabalhando em seu livro pelos últimos quarenta e cinco minutos.

Olhou para o relógio e viu que o dia havia passado muito rápido—algo que ela estava começando a entender que acontecia muito com as babás. Ela precisaria sair para pegar as crianças na escola em quinze minutos... e essa não era uma simples tarefa, já que os filhos dos Carver estavam crescendo em escadinha, com a mais nova no primário, o do meio no ginásio e o mais velho no ensino médio. Assim, ela levava pelo menos uma hora no trânsito para pegar todas as crianças e retornar para a casa delas. Mas a tarefa havia ficado mais fácil, agora que Kim recentemente descobrira quão úteis eram os áudio-books para matar tempo no carro.

Ela levantou-se e olhou o frango, quase descongelado na pia. Depois, colocou a roupa na secadora e pegou todos os temperos que precisaria para fazer a janta. Quando estava colocando a páprica na bancada, alguém bateu na porta da frente.

Aquilo era muito comum na casa dos Carver. Sandra Carver era viciada em comprar na Amazon e Bill Carver sempre tinha entregas da FedEx chegando em sua casa. Kim pegou sua bolsa, pensando em já sair para pegar as crianças depois de receber as encomendas.

Ela abriu a porta e olhou instantaneamente para o chão, procurando uma caixa da Amazon. Por isso seu cérebro levou um segundo para entender que havia a forma de uma pessoa à sua frente. Quando olhou para ver o rosto, seu olhar foi bloqueado por—algo.

 

Fosse o que fosse, a acertou na cabeça. Diretamente entre seus olhos, acima do nariz. O barulho do golpe entrou em sua cabeça, mas ela mal teve tempo para entender antes de sentir que estava caindo.

Quando caiu no chão de madeira dos Carver, a parte de trás de sua cabeça bateu com força no piso. Ela sentiu sangue saindo do nariz ao tentar rolar para trás.

A pessoa na entrada deu um passo à frente e fechou a porta. Kim tentou gritar, mas havia muito sangue em seu nariz, descendo pela garganta e pela boca. Ela tossiu, quase engasgada, e a pessoa deu mais um largo passo à frente.

Ela pegou o mesmo objeto novamente—um tubo. Kim refletiu vagamente enquanto a dor invadiu sua mente como um furação—e aquela foi a última cena que ela viu.

Antes do golpe final, sua mente chegou a um lugar estranho. Kim Wielding morreu pensando no que aconteceria com aquele frango, ainda descongelando na pia dos Carver.

CAPÍTULO UM

Por conta da maneira como sua vida começara—uma mãe morta, um pai preso e avós que sempre estiveram em volta dela—Chloe Fine geralmente preferia fazer as coisas por conta própria. As pessoas às vezes referiam-se a ela como alguém muito introvertida e, por ela, estava tudo bem. Era aquela personalidade que havia a levado a ter notas espetaculares na escola e a ajudado a ir muito bem nos estudos e treinamentos da academia do FBI.

Mas era também aquela personalidade que a fizera mudar-se para seu novo apartamento sem uma única pessoa para ajudá-la. Claro, ela poderia ter contratado uma empresa de frete, mas seus avós haviam a ensinado o valor do dinheiro. E já que tinha braços fortes, costas fortes e uma mente teimosa, ela havia escolhido se mudar por conta própria. Afinal de contas, tinha apenas dois móveis pesados. Todo o resto seria muito fácil de carregar.

Mas Chloe percebeu que esse não era o caso quando finalmente conseguiu arrastar sua cômoda escada acima—com a ajuda de um carrinho, várias catracas e degraus felizmente bem largos e que levavam a seu apartamento, no segundo andar. Sim, ela havia conseguido, mas tinha certeza de que havia machucado um ou dois pontos das costas no caminho.

Ela havia deixado a cômoda por último, sabendo que aquela seria a parte mais difícil da mudança. Intencionalmente, havia guardado as coisas em caixas leves, sabendo que faria o trabalho sozinha. Pensou que poderia ter ligado para Danielle pedindo ajuda, mas nunca fora do tipo que pedia favores familiares.

Chloe afastou algumas caixas de livros e cadernos e se jogou na poltrona que tinha desde o segundo ano da faculdade. Pensar em Danielle estando ali com ela para começar a organizar todas as coisas era algo atraente. As coisas não estavam tão tensas entre elas desde que Chloe havia descoberto a verdade sobre o que acontecera com os pais delas quando elas eram crianças, mas com certeza havia algo diferente. As duas sabiam muito bem do peso de seu pai em suas mentes—da verdade do que ele havia feito e dos segredos que estiveram guardados por muito tempo. Chloe sentia que as duas estavam lidando com aqueles segredos de suas próprias maneiras, e que elas sabiam que suas opiniões divergiam de um jeito quase psíquico, algo que acontecia apenas com irmãos muito próximos.

O que ela nunca ousara expressar a Danielle era o quanto ela sentira falta de seu pai. Danielle guardara muito rancor dele após sua prisão. Mas Chloe sentira a falta da figura de um pai em sua vida. Era ela quem sempre pensara que, talvez, os policiais estavam errados, e que era impossível que seu pai tivesse matado sua mãe.

E fora aquela esperança e crença que resultara na pequena aventura que elas haviam enfrentado juntas, culminando na prisão de Ruthanne Carwile e em um ponto de vista totalmente novo no caso Aiden Fine. O problema de aquilo tudo ser descoberto para Chloe, no entanto, é que ela havia começado a sentir a falta dele ainda mais. E ela sabia que Danielle poderia encarar aquilo como algo terrível, até mesmo masoquista.

Mesmo assim, apesar de tudo, ela queria ligar para Danielle para celebrar sua pequena vitória de se mudar para uma casa nova. Era um apartamento pequeno, de dois quartos, no bairro Mount Pleasant em Washington. Era pequeno e ela teria dificuldades de pagar, mas era exatamente o que estava procurando. Fazia quase dois meses desde a última vez em que elas haviam saído juntas—o que parecia estranho, dado tudo o que acontecera na última vez em que haviam compartilhado seu tempo. Elas haviam conversando por telefone algumas vezes e, mesmo sendo boas conversas, todas elas foram rasas. E Chloe não gostava de coisas rasas.

Foda-se, ela pensou, pegando seu telefone. O que poderia dar errado?

Ao procurar o número de Danielle, ela deu-se conta da realidade da situação. Claro, fazia apenas dois meses desde que tudo acontecera, mas elas eram pessoas diferentes agora. Danielle havia começado a ajeitar sua vida. Ela tinha um trabalho com chances de crescer muito—bartender e gerente assistente em um bar que estava crescendo muito em Reston, Virginia. Já Chloe ainda estava tentando descobrir como se transformar: de alguém que estivera recentemente noiva para alguém solteira, que aparentemente nem se lembrava como se fazia para conseguir alguém para um encontro.

Você não pode forçar algo assim, ela pensou. Especialmente com Danielle.

Com seu coração agitado, Chloe telefonou. Ela esperava que a ligação caísse na caixa de mensagens. Por isso, quando Danielle atendeu na segunda chamada, levou um momento para responder.

- Ei, Danielle.

- Chloe, como você está? – ela perguntou. Foi estranho ouvir a voz de Danielle com uma ponta de felicidade.

- Muito bem. Me mudei hoje. Pensei que seria legal celebrar com uma visita sua, uma garrafa de vinho e alguma comida nada saudável. Mas então lembrei do seu novo trabalho.

- É, estou trabalhando muito – Danielle disse, rindo.

- Você está gostando?

- Chloe, eu estou amando. Quer dizer, faz só três semanas, mas é como se eu tivesse nascido para esse trabalho. Eu sei que é só um emprego de bartender, mas...

- Bom, você é gerente assistente também, certo?

- Sim. Essa definição ainda me assusta.

- Fico feliz por você estar gostando.

- Bom, e você? Como é o apartamento? Como foi a mudança?

Chloe não queria que Danielle soubesse que ela havia feito a mudança sozinha, então deu uma resposta genérica—que também odiou.

Não foi tão ruim. Ainda tenho que tirar as coisas da caixas, mas estou feliz por estar aqui, sabe?

- Com certeza eu vou querer ir aí tomar o vinho e comer porcarias com você. Como vai o resto?

- Sinceramente?

- Danielle ficou em silêncio por um momento antes de responder.

- Hum... Sim.

- Estive pensando no pai. Estive pensando em ir até lá vê-lo.

- E por que diabos você faria isso?

- Eu queria ter uma boa resposta para te dar – Chloe disse. – Depois de tudo o que aconteceu, não sei, eu sinto que preciso. Quero dar um sentido a isso tudo.

- Meu Deus, Chloe. Deixe isso para lá. Seu novo trabalho não deveria ser sobre solucionar outros crimes? Cara... Pensei que era eu quem passava o tempo vivendo no passado.

- Por que isso te irrita tanto? – Chloe perguntou. – Digo, eu ir visitá-lo...

- Porque eu sinto que nós duas já demos muito das nossas vidas para ele. E eu sei que se você vê-lo, meu nome vai sair de uma das bocas de vocês e eu prefiro que isso não aconteça. Para mim, ele já era, Chloe. Eu queria que para você também.

Sim, eu queria a mesma coisa, Chloe pensou, mas segurou o comentário para si mesma.

- Chloe, eu te amo, mas se você está pensando em continuar nesse assunto eu vou ter que dizer tchau agora mesmo.

- Quando você vai trabalhar? – Chloe perguntou.

- Todas as noites essa semana, menos sábado.

- Quem sabe eu poderia ir ver você na sexta à tarde. Acho que você poderia me servir algum drink que você considere especial.

- É melhor você não querer voltar para casa dirigindo, então – Danielle disse.

- Anotado.

- E você? Quando começa no novo trabalho?

- Amanhã de manhã, na verdade.

- No meio da semana? – Danielle perguntou.

- Vai ser um tipo de orientação. Vários reuniões no dia.

- Estou animada por você – Danielle disse. – Eu sei o quanto você queria isso.

Era bom ouvir Danielle interessada em seu trabalho. Não só isso, mas também querendo demonstrar esse interesse.

Houve um silêncio profundo entre as duas, que felizmente terminou com Danielle dizendo algo que não era do tipo dela.

- Cuide-se, Chloe. Com o trabalho... com nosso pai... com tudo.

- Vou me cuidar – Chloe disse, percebendo que o comentário da irmã a surpreendera.

Danielle encerrou a ligação, e Chloe olhou em volta em seu apartamento. Era difícil ver o lugar inteiro por conta de todas as tralhas, mas ela já sentia aquele lugar como sendo sua casa.

Nada como uma conversa estranha com Danielle para fazer um lugar parecer sua casa, ela pensou.

Devagar, esticando as costas, Chloe saiu da poltrona e foi até a caixa mais próxima. Ela começou a tirar as coisas, pensando em como sua vida seria se ela não soubesse como reconciliar seus relacionamentos. Fosse com sua irmã, com seu pai ou com seu ex-noivo, ela não tinha o melhor histórico quando se tratava de manter as pessoas por perto.

Ao pensar em seu ex-noivo, Chloe deparou-se com vários fotos emolduradas no fundo da primeira caixa. Havia três fotos, dela e de Steven. Duas eram muito antigas, quando eles só queriam saber de namorar. Mas a terceira era uma foto de depois de que ele havia a pedido em casamento... depois de que ela havia dito sim quase chorando.

Ela juntou as fotos fora da caixa e colocou-as na bancada da cozinha. Olhou em volta e encontrou a lixeira no canto da sala, ao lado do colchão. Chloe pegou as fotos e jogou-as na lixeira. O som do vidro quebrando em pedaços foi um pouco agradável demais.

Fácil assim, ela pensou. Mal posso esperar para deixar isso para trás. Mas por que você não pode deixar essa história sem noção com seu pai para trás assim fácil também?

Ela não tinha resposta para aquela pergunta. E o que mais a assustou foi que ela sentia que a resposta poderia estar em uma conversa com ele.

Com esse pensamento, o apartamento pareceu mais vazio do que antes, e Chloe sentiu-se muito sozinha. Esse mero pensamento a fez ir até a geladeira e abrir a caixa de cerveja que havia comprado mais cedo. Ela abriu uma garrafa, um pouco assustada com quão bom havia sido o primeiro gole.

Fez o que pode para se ocupar naquela tarde e até à noite, não tirando as coisas da caixa, mas sim vagarosamente passando uma por uma e tentando decidir se precisava de cada item. O troféu que havia ganho no debate no ensino médio foi para a lixeira. O CD de Fiona Apple que escutara quando perdera sua virgindade no segundo ano do ensino médio, ela guardou.

Todas as fotos de seu pai foram para o lixo. Doeu um pouco no começo, mas na quarta garrafa de cerveja, a tarefa tornou-se mais fácil.

Passou por duas caixas... e teria visto pelo menos mais uma se não tivesse ido até a geladeira e descoberto que, de alguma maneira, havia tomado a caixa inteira de seis cervejas. Olhou para o relógio acima do forno e suspirou ao ver a hora.

Eram quinze para uma da manhã. Muito tarde para dar tempo de descansar bem antes do meu primeiro dia, pensou.

Mas o mais preocupante era o fato de que ela estava mais triste com a caixa de cerveja vazia do que uma possível manhã “grogue” em seu primeiro dia no FBI. Chloe caiu na cama após escovar seus dentes, e o quarto girou um pouco. Então, percebeu que havia passado a noite inteira tentando fazer a si mesma não dar a mínima para a tentativa de apagar as memórias de seu pai.

CAPÍTULO DOIS

Chloe não sabia ao certo o que esperar quando chegou à sede do FBI na manhã seguinte. Mas o que ela com certeza não esperava era ser recebida por um agente mais velho na entrada. Ela viu quando ele notou sua presença, e não teve certeza do que fazer quando percebeu que ele estava vindo diretamente em sua direção. Por um momento, ela pensou que fosse o Agente Greene, o homem que havia sido seu instrutor e parceiro em seu “quase caso”, que a levara a descobrir a verdade sobre seu pai.

 

Mas quando olhou melhor para o rosto do homem, viu que tratava-se de alguém bem diferente. Ele parecia durão e feito de pedra, e sua boca era desenhada em uma linha apertada em sua mandíbula.

- Chloe Fine? – O agente perguntou.

- Sim?

- O diretor Johnson gostaria de falar com você antes das orientações.

Aquilo a animou e a assustou. O diretor Johnson havia aberto exceções para ela quando ela fora parceira de Greene. Talvez ele estava mudando de ideia? As ações dela no última caso teriam trazido problemas para ele? Teria ela chegado tão longe apenas para ter seus sonhos destruídos no primeiro dia?

- Para que? – Chloe perguntou.

O agente encolheu os ombros, sem se importar com a pergunta.

- Por aqui, por favor – ele disse.

Ele a levou até os elevadores e, por um momento, Chloe sentiu-se como se estivesse voltando no tempo. Ela pode se ver entrando nos mesmos elevadores um pouco mais de dois meses antes, com o mesmo nó de preocupação no estômago, sabendo que iria encontrar o Diretor Johnson. E como da última vez, aquele nó de preocupação tomou conta de seu corpo inteiro quando o elevador começou a subir.

O agente com cara de durão a levou para fora do elevador quando ele parou no segundo andar. Eles passaram por vários escritórios e salas antes que o agente parasse na porta da sala de Johnson. A secretária na mesa assentiu educadamente, e disse:

- Você pode entrar. Ele está esperando por você.

O agente também assentiu para Chloe – não de um jeito tão educado – e fez um gesto em direção à porta do escritório. Estava claro que ele não iria entrar.

Fazendo o possível para manter-se calma, Chloe caminhou até a porta do diretor Johnson. Por que estou com tanto medo? Ela pensou. Na última vez que foi chamada na sala dele, ganhei responsabilidades e tarefas que a maioria dos agentes novos como eu não ganham. Aquilo era verdade, mas não serviu para acalmá-la.

O Diretor Johson estava sentado em sua mesa, lendo atentamente algo em seu notebook quando Chloe entrou. Quando ele olhou para cima, toda sua atenção estava nela. Ele até fechou a tela do notebook.

- Agente Fine – ele disse. – Obrigado por vir. Vamos levar só um segundo. Não quero que você perca nada das orientações—que, vou me adiantar e te dizer—também são muito rápidas e tranquilas.

Ouvir Agente Fine era algo que a animava muito, mas Chloe tentou não demonstrar. Ela sentou-se na cadeira em frente à mesa do diretor e sorriu o mais normalmente possível.

- Sem problemas - ela disse. – Eu... bem... tem algo errado?

- Não, não, nada disso – ele disse. – Eu queria lhe apresentar uma opção sobre suas responsabilidades. Eu sei que você está começando uma carreira na Equipe de Evidências. Isso é algo que você sempre buscou?

- Sim, senhor. Tenho uma visão muito boa para encontrar detalhes.

- Sim, eu soube disso. O Agente Greene falou muito bem de você. E mesmo com alguns tropeços nas coisas que aconteceram meses atrás, tenho que admitir—também fiquei muito impressionado. Você carrega uma confiança em si mesma e uma certeza inabalável que não é comum em novos agentes. E é por causa disso e do feedback do Agente Greene e de outros instrutores da academia que eu gostaria que você repensasse no departamento que você quer seguir.

- Você tem algum departamento particular em mente? – Chloe perguntou.

- Você conhece o PaCV?

- O Programa de Apreensão de Crimes Violentos? Sim, eu conheço um pouco.

- O título já diz tudo, mas acho que esse programa também se encaixa no seu talento para encontrar provas. Além disso, sendo muito sincero, a Equipe de Evidências tem um grupo grande de agentes primeiro-anistas desta vez. Melhor do que se perder no meio de tantos, eu acho que você se daria bem no PaCV. Isso te interessaria?

- Sendo sincera, eu não sei. Nunca pensei sobre isso.

Johnson balançou a cabeça, mas Chloe tinha certeza que ele já estava decidido.

- Se você quiser, eu gostaria que você ao menos tentasse. Se depois de alguns dias você achar que não se encaixa, eu pessoalmente vou colocá-la de volta, sem problemas, em sua vaga atual nas Evidências.

Chloe realmente não estava certa do que dizer ou fazer. O que ela sabia, no entanto, era que estava se sentindo orgulhosa por ver que o diretor queria muito tê-la em um departamento específico por conta de suas habilidades e de feedbacks positivos.

- Tudo bem, posso trabalhar lá – ela finalmente respondeu.

- Fantástico. Já temos um caso em que quero te colocar. Você começaria amanhã de manhã. A polícia de Maryland State está cuidando disso, mas ligaram hoje de manhã pedindo ajuda. Vou colocar você com outra agente que está sem parceiro. O parceiro dela não aguentou a pressão e pediu demissão ontem.

- Posso perguntar por quê?

- No Programa de Apreensão de Crimes Violentos, alguns crimes tendem a ser um pouco sinistros. Isso acontece com novos recrutados... eles passam pelo treinamento, vendo casos-exemplo e até cenários da vida real. Mas no fim, quando percebem que vão viver no meio disso... Alguns acham que já é demais para eles.

Chloe não disse nada. Ela tentou entender como alguém poderia tomar uma decisão assim, mas não conseguiu. Ela queria aquele trabalho desde sempre—desde que aprendera a diferença entre o certo e o errado.

- Vou precisar fazer algum treinamento adicional?

- Eu recomendaria mais treinamentos de arma de fogo – Johnson disse. – Vou deixar tudo preparado para você. Suas notas na Equipe de Evidências no que diz respeito a armas de fogo são muito boas, mas você vai querer ter mais habilidade nessa área quando entrar de vez no PaCV—se você decidir ficar.

- Entendo.

- Bom, se você não tiver mais perguntas, acho que você pode seguir para a orientação, lá embaixo. Temos três minutos até começar.

- Sem mais perguntas por enquanto. E obrigado pela oportunidade. E pela confiança.

- Claro. Vou tomar conta da papelada e alguém vai te ligar para falar sobre as assinaturas até o fim do dia. E, Agente Fine... estou com um bom pressentimento nisso. Acho que você vai ser um reforço e tanto para o PaCV.

Foi então, quando levantou-se e saiu da sala, que Chloe percebeu que nunca fora boa em escutar elogios. Talvez fosse porque ela nunca recebera muitos durante sua juventude. Naquele momento, ela simplesmente sorriu de um jeito estranho e saiu. O nó de nervosismo que estivera em seu estômago havia ido embora, sendo substituído por uma sensação de como se seus pés não tivessem tocando o chão no caminho até o elevador.

***

A orientação foi praticamente como ela esperava. Tratava-se de uma lista do que se poderia e não poderia fazer, sendo dita por vários agentes. Havia exemplos de casos que haviam dado errado, casos tão ruins que os agentes haviam se demitido ou até cometido suicídio. Os instrutores contaram histórias horríveis de crianças assassinadas e de estupradores em série que, até aquele dia, ainda não havia sido presos.

Enquanto as histórias eram contadas, Chloe pode escutar alguns murmúrios entre os novos agentes. Dois lugares à sua esquerda, ela ouviu uma mulher murmurando para o homem a seu lado.

- Aparentemente, meu parceiro ouviu essas histórias antes de nós. Talvez por isso ele pediu para ir embora – Ela disse que um jeito sacana, em um tom malvado que irritou Chloe instantaneamente.

Com a sorte que tenho, essa é a parceira-sem-um-parceiro que Johnson vai colocar comigo, Chloe pensou.

A orientação parou para o almoço. Nesse momento, os instrutores separaram os novos agentes em departamentos específicos. Quando Chloe escutou a Equipe de Evidências sendo chamada, sentiu uma pequena pontada de tristeza. Ela viu cerca de vinte recrutados juntarem-se no canto direito da sala. Saber que ela poderia estar entre eles até menos de três horas antes a fez sentir-se um pouco isolada, especialmente quando viu que alguns dos agentes pareciam já ter começado algumas amizades.

Quando os agentes do Programa de Apreensão de Crimes Violentos foram chamados, Chloe levantou-se. O grupo com o qual ela caminhou era menor do que a Equipe de Evidências. Incluindo a si mesma, ela contou nove pessoas. E uma delas era, de fato, a mulher que havia feito o comentário maldoso sobre a demissão do parceiro.

Chloe estava tão focada naquela mulher que não percebeu o homem que aproximou-se dela enquanto eles caminhavam.

- Eu não sei você - ele disse, - mas eu sinto como se precisasse esconder meu rosto. Fazer parte de um programa com a palavra “Violento” nele... me faz pensar que as pessoas estão me julgando.

- Acho que eu nunca pensei desse jeito – Chloe disse.

- Bom, você tem tendência a ser violenta?

Ele perguntou com um sorriso sacana, e foi esse sorriso que a fez perceber que o homem era extremamente bonito. Claro, o comentário sobre a tendência a violência estragou um pouco sua aparência.

- Não que eu saiba – ela respondeu de um jeito estranho, quando eles chegaram ao andar onde o grupo se reuniu.

- Ok – o instrutor, um senhor mais velho vestido de jeans e camiseta preta, disse. – Primeiro vamos almoçar, depois vamos nos encontrar na Sala de Conferências Três para analisar alguns detalhes e fazer uma sessão de perguntas e respostas. Mas antes de tudo... – Ele pausou e olhou um pedaço de papel, analisando-o com um de seus dedos. – Chloe Fine está aqui?

- Sou eu – Chloe disse, quase suando por ter sido escolhida em meio a um grupo de pessoas que não conhecia.

- Preciso falar com você por um momento, por favor.

Chloe caminhou até o instrutor e viu que o senhor também estava chamando outra agente à frente.

- Agente Fine, estou vendo aqui que você é um reforço para o PaCV, recomendada diretamente pelo Diretor Johnson.

- Está certo.

- Bom ter você. Agora, gostaria que você conhecesse sua parceira, a Agente Nikki Rhodes.

Ele apontou para a outra agente que vinha em sua direção. De fato, era a mulher maldosa de antes. Nikki Rhodes sorriu para Chloe de um jeito que deixava claro que ela sabia que era bonita. E até Chloe tinha que admitir. Alta, pele perfeitamente bronzeada, olhos azuis brilhantes, cabelo loiro impecável.