Amor Como Este

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From the series: Crônicas Românticas #1
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CAPÍTULO DOIS

Mais tarde naquela noite, quando chegou ao apartamento que compartilhava com seu namorado, Keira percebeu que ainda tremia de emoção e descrença. Sua mão tremia enquanto tentava colocar a chave na fechadura da porta de seu apartamento.

Finalmente, ela abriu a porta e entrou. O aroma de comida ainda estava no ar, misturado com o cheiro de produtos de limpeza. Zachary tinha feito limpeza. Isso significava que estava bravo.

“Eu sei, eu sei, eu sei,” ela começou antes que pudesse vê-lo. “Você está bravo. Eu sinto muito.” Ela jogou suas chaves no pote ao lado da porta e fechou a porta. “Mas, babe, tenho ótimas notícias!” Ela tirou os sapatos de salto alto e esfregou seu pé dolorido.

Zachary apareceu na porta da sala, seus braços cruzados. Seu cabeço escuro espelhavam sua expressão sombria.

“Você perdeu o brunch,” ele disse. “Tudo.”

“Desculpe!” Keira implorou. Ela jogou seus braços ao redor do pescoço dele, mas percebeu que ele estava resistente, então decidiu mudar de tática. Começou a falar com sua voz sensual. “Que tal a gente conversar sobre o assunto e, depois, eu te compensar?”

Zachary afastou os braços dela e andou bravo para a sala de estar, onde despencou no sofá. A sala estava imaculadamente limpa. Até o pó do PlayStation dele foi tirado. Ele estava mais bravo desta vez do que nunca, Keira percebeu.

Ela sentou ao seu lado e, gentilmente, colocou uma mão sobre seu joelho, batendo em sua calça jeans com a ponta dos dedos. Zachary olhava fixamente para a TV que não estava ligada.

“O que você quer que eu faça Zach?” ela perguntou delicadamente. “Tenho que trabalhar. Você sabe disso.”

Ele exalou e balançou a cabeça. “Entendo que precisa trabalhar. Eu também trabalho. O mundo inteiro trabalha. Mas nem todo mundo tem um chefe que estala os dedos e faz com que todos seus funcionários saiam correndo como escravos!”

Era uma observação justa.

“Espera aí, você não está com ciúmes do Josh, está?” Keira perguntou. A ideia era ridícula. “Se você o visse!”

“Keira,” berrou Zachary, finalmente olhando para ela. “Não estou com ciúmes de seu chefe. Pelo menos não dessa maneira. Estou com ciúmes com o fato de ele conseguir tanto de você, de sua energia e de seu foco na vida.”

Agora era a vez de Keira suspirar. Por um lado, ela entendia o que Zach estava sentindo, mas por outro ela desejava que ele fosse solidário com seu sucesso. Ela queria que ele a apoiasse enquanto ela estivesse na base da escada. As coisas estavam prestes a ficarem mais fáceis, depois que ela desse esse próximo passo em sua carreira.

“Queria que ele não fizesse isso,” concordou Keira. “Mas todo esse esforço e energia colocados em minha carreira não vai mudar. Pelo menos não ao longo do próximo mês.”

Zachary fechou a cara. “O que você quer dizer com isso?”

Keira queria conter sua empolgação em respeito ao Zach, mas não conseguiu se segurar. Ela quase gritou quando disse, “Estou indo para a Irlanda!”

Houve uma longa, longa pausa, enquanto Zach absorvia a informação.

“Quando?” ele disse, friamente.

“O negócio é o seguinte,” respondeu Keira. “É uma mudança de pessoal de última hora. Josh quebrou a perna. É uma longa história.”

Zach apenas olhou feio enquanto ela divagava, esperando ansiosamente pelo ponto principal da história.

Keira se agachou perto do sofá, tentando parecer o menor possível. “Parto amanhã.”

A expressão de Zachary mudou tão rápido quanto um raio de tempestade. Se ele fosse uma nuvem de chuva antes, agora ele seria um trovão e raio.

“Mas o casamento é amanhã,” ele disse.

Keira segurou as duas mãos dele. “O momento é uma droga, sou a primeira a admitir. Mas juro que Ruth não vai se importar.”

“Não vai se importar?” Zach falou rispidamente, puxando suas mãos. “Você faz parte da festa do casamento!”

De repente ele estava de pé, andando, passando a mão no cabelo. Keira pulou e correu até ele, tentando acalmá-lo com carinho. Mas Zach não estava aceitando nenhum nesse momento.

“Não acredito nisso,” ele falou de modo ofegante. “Eu passo o dia todo organizando um brunch para sua família, escutando Bryn falando sem parar sobre o quão gostoso seu novo professor de meditação é e todas as suas opiniões vazias—”

“Ei!” disse Keira, agora brava. Criticar sua irmã mais velha não era legal.

“E, em vez de me agradecer,” Zach continuou, “você despeja isso em mim! Como diabos devo dizer isso a Ruth?”

“Eu falo para ela,” Keira sugeriu. “Deixe-me ser o vilão, eu não ligo.”

“Você é a vilã!” exclamou Zack.

Ele saiu da sala de estar. Keira o seguiu impotentemente. Eles estavam juntos por dois anos e ela nunca o tinha visto tão bravo.

Ela o seguiu até o quarto e observou enquanto ele puxou sua mala que estava debaixo da cama.

“O que você está fazendo?” ela perguntou frustrada.

“Tirando isso daqui,” ele retrucou. “Você não pode ir sem uma mala, pode?”

Keira balançou a cabeça. “Eu sei que está bravo, mas você está exagerando um pouco.”

Ela tirou a mala das mãos dele e a jogou na cama. A mala caiu aberta como se estivesse convidando-a para começar a arrumar. Keira teve que lutar contra o desejo dentro dela de começar a encher a mala.

Zach parecia ter perdido sua força momentaneamente. Ele desanimou, sentou na borda da cama com a cabeça em suas mãos.

“Você sempre escolhe trabalho em vez de mim.”

“Desculpe,” disse Keira, sem olhar para ele enquanto pegava do chão sua blusa favorita e a colocava discretamente na mala. “Mas essa é uma oportunidade única.” Ela foi até a cômoda e procurou seus frascos de hidratante e perfume. “De qualquer forma, Ruth me odeia. Ela só me colocou como madrinha porque você pediu a ela.”

“Porque é isso que você deve fazer,” disse Zack tristemente. “Você deve fazer coisas de família junto.”

Ela virou e rapidamente adicionou os itens em sua mala. Mas Zach notou o que ela estava fazendo e sua expressão sempre sombria se tornou ainda mais sombria.

“Você está fazendo a mala?”

Keira congelou e mordeu seu lábio inferior. “Sinto muito.”

“Não, você não sente,” ele disse de forma fria e calculista. Em seguida, ele olhou para cima e disse, “Se você for, não sei se podemos continuar juntos.”

Keira elevou uma sobrancelha, perplexa com a ameaça. “É mesmo?” Ela cruzou os braços. Agora ele conseguiu a atenção dela. “Você vai me dar um ultimato?”

Zachary jogou os braços para cima, frustrado. “Não aja como se não estivesse me forçando a isso! Você não percebe o quão constrangedor será para mim, aparecer amanhã no casamento de Ruth sem você?”

Keira suspirou, igualmente frustrada. “Não entendo o porquê você não pode apenas dizer a eles que consegui uma ótima oportunidade no trabalho. Algo que não poderia perder.”

“O casamento de minha irmã deveria ser algo que você não pode perder. Deveria ser uma prioridade!”

Ah. Lá estava novamente. Aquela palavra. Prioridade. A coisa que Keira nunca iria admitir para o Zach, que não era ele, mas sim sua carreira.

“Desculpe,” ela repetiu, sentindo sua determinação finalmente enfraquecer. “Mas é simplesmente impossível. Minha carreira tem que vir primeiro.”

Ela inclinou a cabeça, não de vergonha, mas sim de tristeza. Não tinha que ser dessa maneira. Zach nunca deveria ter confrontado a relação deles com a sua carreira. Era uma batalha que inevitavelmente perderia.

Keira não sabia mais o que dizer. Ela olhou para o rosto enfurecido de Zach. Nenhuma outra palavra foi dita entre eles. Não havia mais nada a dizer. Em seguida, Zach levantou da cama, saiu do quarto em direção ao corredor, e pegou suas chaves no pote ao lado da porta antes de abri-la e fechá-la após sair. Enquanto escutava o som do carro indo embora, Keira sabia que ele não voltaria naquela noite; ele dormiria no sofá-cama de Ruth para provar seu ponto de vista.

Keira ganhou a briga, mas não houve prazer em sua vitória. Ela se jogou na cama ao lado de sua mala aberta e sentiu um nó se formar em sua garganta.

Na necessidade de carinho, ela pegou o celular e ligou para sua mãe.

“Oi querida,” a mulher disse, atendendo imediatamente, como se a visão do nome de sua caçula no identificador de chamadas tivesse impelido a uma ação imediata. “Está tudo bem?”

Keira suspirou. “Estou ligando para contar sobre uma tarefa que recebi hoje no trabalho. É uma matéria de capa. Tenho que ir para a Irlanda.”

“Querida, que notícia maravilhosa. Que emocionante! Parabéns. Mas porque sua voz está tão abatida?”

Keira virou de barriga para baixo. “Zach. Ele está irritado. Ele basicamente disse que se eu fosse tudo estaria acabado entre nós.”

“Tenho certeza que ele não falou sério,” sua mãe disse docemente. “Você sabe como os homens são. Você acabou de ferir o ego dele colocando suas prioridades acima dele.”

Keira distraidamente arrancou o canto de uma fronha. “Tem mais a ver com o casamento de Ruth amanhã,” ela explicou. “Ele acha que o estou abandonando, deixando-o em uma má situação. Como se a vida dele fosse desmoronar se aparecesse sem uma companhia.” Ela riu ironicamente, mas foi recebida com silêncio no outro lado da linha.

“Oh,”, sua mãe disse.

“Oh o quê?” Keira perguntou, fechando a cara.

A voz de sua mãe havia perdido um pouco da receptividade. Havia uma vertente na voz que Keira reconhecia muito bem, visto que tinha escutado milhares de vezes quando criança. Desaprovação.

“Bem, não me dei conta que você perderia o casamento da irmã dele,” ela disse.

“E isso muda as coisas em sua opinião?” disse Keira, engrossando um pouco.

Sua mãe respondeu na voz que Keira reconhecia como “diplomática.” “Se você já tivesse esse compromisso antes. E é a irmã dele. Chegar sozinho em casamentos é realmente horrível. Todos olham e sussurram. Ele vai se sentir bem desconfortável.”

 

“Mãe!” lamentou Keira. “Não estamos mais na década de 50. O conforto de um homem não é mais importante que a carreira de uma mulher!”

“Não foi isso que quis dizer, querida,” sua mãe disse. “Eu quis dizer que Zachary é um jovem adorável e não há nada errado em priorizar um casamento. Você não quer ser igual à sua irmã, sempre naqueles websites de relacionamento, tendo aquelas noites horríveis com homens que dizem ter 1,80 m quando na verdade têm apenas 1,60 m!”

“Mãe!” Keira gritou novamente, colocando um fim na incoerência de sua mãe. “Preciso que seja solidária nesse momento.”

Sua mãe suspirou. “Estou sendo. Estou muito feliz por você. E eu amo sua… paixão. Eu amo.”

Keira revirou os olhos. Sua mãe não era muito boa em ser convincente.

“Apenas acho que nesta situação você deveria ficar com seu namorado. Quero dizer, o que realmente importa mais? De qualquer forma, estará pedindo demissão daquele emprego daqui três anos para começar a ter filhos.”

“Ok, mãe, pare de falar agora!” interrompeu Keira. Ter filhos estava tão longe de seu radar que era uma sugestão absurda.

“Querida,” sua mãe disse calmamente. “É muito nobre que queira trabalhar tanto. Mas o amor também é importante. Tão importante quanto. Escrever este artigo realmente significa mais para você do que o Zachary?”

Keira percebeu que estava segurando o telefone firmemente. Ela soltou um pouco. “Tenho que ir, mãe.”

“Pense sobre o que eu disse.”

“Vou pensar.”

Ela desligou, seu coração pesado. A euforia que tinha sentido antes tinha evaporado completamente. Só havia uma pessoa que poderia animá-la nesse momento, e esta era Bryn. Ela rapidamente encontrou os detalhes de contato de sua irmã mais velha e ligou.

“Oi irmãzinha,” Bryn disse quando atendeu. “Você perdeu o brunch.”

“Estava trabalhando,” Keira respondeu. “Joshua arrastou todos nós para o escritório, acho que apenas para se mostrar em frente do Elliot sobre essa matéria de capa da Irlanda que ele iria escrever. Só que ele escorregou e… bem, ele quebrou a perna.”

“Você está brincando?” exclamou Bryn, rindo histericamente. “Como isso aconteceu?”

Logo, Keira sentiu sua infelicidade começar a derreter, tamanho era o poder de Bryn.

“Foi insano,” ela disse. “Eu vi o osso dele. E, então, ele gritou sobre como ele tinha arruinado suas calças caras!”

As duas irmãs riram juntas.

“E o que aconteceu depois?” perguntou Bryn, sendo a plateia cativa que Keira tinha buscado no Zachary e em sua mãe.

“Ele estava sendo carregado na maca pelos paramédicos e percebi que a reunião estava prestes a começar—Elliot odeia quando as pessoas se atrasam—então fui lá e sentei. E acredito que chamei a atenção dele por causa disso, e ele me deu o artigo da Irlanda.”

“Não acredito!” exclamou Bryn. “Você está brincando? Minha irmã caçula está escrevendo a história de capa?”

Keira sorriu. Ela sabia que Bryn não compreendia completamente a extensão de como isso era importante para ela e estava fingindo pelo menos 20% de seu entusiasmo, mas ela valorizava isso. Foi o tipo de reação que ela esperava de Zach.

“Sim. É ótimo. Mas eu tenho que ir para Irlanda amanhã, então perderei o casamento de Ruth.”

“Oh, grande coisa. E daí?” Bryn disse. “Isso é muito mais importante. Na verdade, nunca achei que você gostasse de Ruth.”

“Não gosto. Mas gosto do Zach,” disse Keira, incitando Bryn a considerar o porquê ir para a Irlanda de um dia para o outro pode não ser a coisa mais fácil de fazer no mundo. “Eu deixei ele bastante bravo dessa vez.”

Bryn exalou. “Olha. Mana. Eu sei que isso é difícil. E eu gosto do cara, acredite em mim, eu gosto. Mas você tem que ir! Você tem que fazer isso. Odeio ser a pessoa a te dizer isso, mas você não deveria ficar com um cara que te impede de seguir adiante. Você só vai ficar ressentida com ele se ceder às suas exigências.”

“E ele ficará ressentido comigo se eu não ceder.”

“Isso. Essa é uma triste realidade, mas às vezes a vida atrapalha o amor. Duas pessoas podem ser certas uma para a outra, mas o momento pode ser errado.”

Keira sentiu uma dor no peito por terminar com Zachary a favor de sua carreira. Mas talvez Bryn estivesse certa. Talvez não fosse o momento certo para eles.

“Então, o que você vai fazer?” perguntou Bryn, despertando Keira de seu devaneio.

Keira respirou fundo. “Sabe de uma coisa, já aguentei muita porcaria subindo a escada corporativa para desistir no último obstáculo. Não posso desperdiçar isso.”

Keira sentiu sua motivação voltando. Ela estava triste com a hipótese de deixar Zachary para trás, mas não conseguia enxergar outra opção. Recusar esta oportunidade seria o final de sua carreira. Não havia outro caminho.

Ela tinha que ir.

CAPÍTULO TRÊS

O alarme de Keira a acordou em um horário estupidamente cedo na manhã seguinte, soando como uma sirene. Ela rolou e o desligou e, então, percebeu que o outro lado da cama estava vazio. Zach não tinha dormido lá na noite passada.

Ela levantou, esfregando os olhos, e deu uma espiada na sala de estar. Nada de Zach. Tal como ela previu, ele não tinha voltado para a casa na noite passada. Ele deve ter ficado na casa de Ruth.

Repelindo sua decepção e tristeza, Keira tomou um banho rápido, lutando para impedir que a água quente a arrastasse de volta para cama, e se vestiu com roupas confortáveis para a longa viagem.

Ela pegou a mala, e verificou se estava com as passagens e o itinerário que Heather lhe dera. Satisfeita que sua papelada e passaporte estavam em sua posse, ela saiu de casa e entrou no banco de trás de um táxi que a estava esperando.

Enquanto percorria as ruas de Nova York no início da manhã, Keira reservou um momento para colocar seus pensamentos desenfreados em ordem. Isto estava realmente acontecendo. Ela somente desejava que Zachary tivesse escolhido compartilhar este momento com ela, em vez de se distanciar.

O aeroporto de Newark estava tão cheio quanto o horário de pico em um metrô. Um começo às 5 da manhã era normal em muitos tipos de carreira, e Keira sentiu um súbito sentimento de orgulho por estar entre eles. Ela despachou sua bagagem, sentindo-se uma estrela de Los Angeles, com sua cabeça tão erguida quanto. Em seguida, encontrou uma cafeteria para tomar seu café da manhã e passar o tempo até que seu voo estivesse pronto para decolar.

Quando sentou na cafeteria agitada, ela verificou o celular diversas vezes. Mesmo sabendo que Zachary ainda estaria dormindo, ela desesperadamente queria ter alguma notícia dele. Ela sabia que havia feito a coisa certa ao aceitar a tarefa, e esperava que Zach eventualmente achasse a mesma coisa. Ou talvez a relação realmente estivesse condenada, como Bryn parecia achar que estava. Talvez as diferentes prioridades eram realmente um obstáculo que eles não conseguiam mais ultrapassar.

Ela enviou uma mensagem engraçadinha para Zachary, não mencionando a briga, com a esperança que ele se sentisse mais afetuoso em relação à ele se acordasse com uma mensagem carinhosa.

Seu celular vibrou e ela saltou de emoção, achando que o Zach havia respondido. Mas era Heather verificando se tudo estava indo de acordo com o plano e se Keira tinha chegado a tempo para seu voo. Decepcionada, Keira respondeu a mensagem dizendo a Heather que estava tudo bem.

Naquele momento, ela escutou a chamada de embarque para seu voo. Terminando rapidamente seu café, Keira dirigiu-se ao portão de check-in, jurando ligar para Zachary assim que aterrissasse. Havia uma diferença de cinco horas entre Nova York e Irlanda que ela teria que lembrar durante toda a sua estada.

À bordo do avião, Keira se acomodou em seu assento, verificando uma última vez por qualquer comunicação de Zach. Mas não havia nenhuma e a comissária de bordo lhe lançou um olhar de reprovação ao vê-la usando o celular mesmo depois de eles terem pedido que todos os dispositivos eletrônicos fossem desligados. Suspirando, Keira desligou o celular e o guardou em seu bolso.

Então, um bando de festeiros entrou no avião, falando alto. Keira chiou. Iria ser um longo voo. Sete horas, na realidade, até Shannon no Condado de Clare. Seria noite quando ela aterrissasse, mas seu corpo iria pensar que era meio-dia. Ela tinha a esperança de descansar um pouco durante o voo, mas o grupo de homens barulhentos seria um obstáculo.

O avião começou a se dirigir para a pista. Em uma tentativa de bloquear a despedida de solteiro barulhenta, Keira colocou os protetores auriculares e fechou os olhos. Mas isso nem de perto bloqueava as brincadeiras barulhentas.

O avião decolou e Keira partiu para o plano B: cafeína. Ela chamou a comissária de bordo e pediu um café, sabendo que seria o primeiro de muitos. Ela bebeu o café, com raiva do som ao fundo da despedida de solteiro.

Durante a viagem, Keira olhou o itinerário e os lembretes de Heather.

Não há nenhum táxi, então um carro alugado estará lhe esperando no estacionamento. Espero que consiga dirigir um carro com câmbio manual. E lembre-se de dirigir na ESQUERDA.

A ideia de ter que dirigir com tanto sono preocupou Keira. Ela não dirigia há séculos, visto que geralmente usava o metrô para ir a todos os lugares. Câmbio manual certamente apresentava um desafio adicional. E dirigir na esquerda iria ser ainda mais difícil. Se ela quisesse ter alguma chance de não bater o carro, iria precisar beber muito mais café!

Você ficará hospedada em uma pousada irlandesa tradicional, então não espere nenhum tratamento de Hilton. Será o básico.

Isso não incomodava Keira. Ela era uma redatora pobretona desde que se formou na faculdade; hotéis estavam fora da sua faixa de preços por anos! Ela poderia morar na favela por um mês sem problema algum. Desde que não precisasse mijar em um banheiro externo, ela com certeza era capaz de sobreviver até mesmo às acomodações mais básicas.

Você terá a noite para se adaptar antes de começar a trabalhar. Nós providenciamos um guia turístico para te mostrar a cidade. Você encontrará o casamenteiro e dono do festival na manhã seguinte. O festival começa na noite seguinte.

Keira começou a ficar ainda mais entusiasmada à medida que lia todas as informações. O voo parecia estar indo muito mais rápido do que ela esperava, o que deveria ser graças à adrenalina bombeando em seu corpo. Isso e a grande quantidade de cafeína.

Keira aterrissou em Shannon bem disposta, descendo do avião, no frio e ar fresco de setembro. Ela esperava ver colinas verdes ondulantes e campos repletos de vacas e ovelhas, mas não havia muita coisa para olhar no aeroporto de Shannon. A área era um tanto industrializada, com grandes edifícios de cor cinza, sem nenhum tipo de ostentação arquitetônica.

O lugar de aluguel de carros era igualmente sombrio. Em vez de uma saudação irlandesa afetuosa, ela encontrou um jovem com um semblante sério que a levou em silêncio ao local de reservas e lhe entregou as chaves sem pronunciar uma sílaba.

Keira pegou as chaves e encontrou o carro no estacionamento. Era insuportavelmente pequeno. Ela entrou no lado direito, lembrando do lembrete de Heather de dirigir na esquerda. Demorou um tempo para ela se refamiliarizar com o conceito de um câmbio manual e pedal de embreagem e, então, ela usou o SatNav para ver como sair de Shannon. Levaria aproximadamente uma hora para chegar ao seu destino, Lisdoonvarna.

Logo que saiu da rua principal, ela percebeu que estava dirigindo em estradas pequenas, sinuosas, sem acostamento, placas ou iluminação. Keira agarrou o volante ansiosamente e usou toda a sua energia e concentração para dirigir ao longo de estradas que pareciam cada vez mais estreitas.

Após mais ou menos quinze minutos, ela começou a relaxar um pouco. O tráfego era muito pequeno, o que ajudou a acalmar seus nervos, pois ela não estava com tanto medo de bater em ninguém. O ambiente também era muito relaxante, sem nada ao redor por quilômetros além de encostas e campos lotados de ovelhas. A grama era o verde mais verde que Keira já tinha visto na vida. Ela abaixou o vidro para cheirar o ar puro, mas em vez, sentiu o cheiro de estrume. Ela fechou o vidro rapidamente.

Quase não havia placas para orientá-la, e ela estava agradecida pelo SatNav. Mas também não havia iluminação na estrada, o que dificultou a condução, especialmente com tantos cantos cegos e apertados. E as marcas na estrada tinham quase desaparecido. Keira também achou desorientador dirigir na esquerda. O difícil percurso foi agravado ainda mais pelo grande número de tratores que ela teve que ultrapassar!

 

De repente, a estrada se tornou tão estreita que só havia espaço para um carro. Keira quase bateu no tráfego em sentido contrário e teve que brecar cantando o pneu, desviando o carro para o lado da estrada e raspando na sebe. Keira levantou uma mão para se desculpar com o motorista do outro carro, mas ele apena sorriu gentilmente como se não fosse nenhum problema, e deu marcha à ré para dar espaço para ela passar. Em Nova York, Keira teria sido xingada aos berros com este tipo de incidente. Ela já estava tendo uma ideia daquela infame hospitalidade irlandesa.

Com o coração ainda batendo forte devido ao choque do quase acidente, Keira conseguiu andar para frente lentamente até passar o carro.

Ela continuou adiante com cautela, sentindo mais medo das estradas do que antes. Ela esperava que a raspada com a sebe não fosse visível na pintura—ela não sabia como a empresa iria reagir se ela voltasse com uma conta enorme da agência de aluguel de carros por danos!

Qualquer resíduo de animação que ela estava sentindo antes da estrada traiçoeira estava começando a esmorecer. Adrenalina e café funcionaram somente até certo ponto para Keira. Agora, em vez de admirar a beleza da natureza, ela via os arredores como escassos e um tanto deprimentes. As únicas criaturas vivas que via eram ovelhas. Havia antigas fazendas de pedra espalhadas, que estavam abandonadas e desmoronando. No alto das encostas, Keira também viu um castelo abandonado, situado entre um punhado de árvores, e se perguntou como um antigo edifício histórico havia sido deixado às ruínas.

Ela começou a fazer anotações mentais para seu artigo, lembrando-se do ângulo cínico que Elliot queria que ela tomasse. Em vez de ver a beleza da vista litorânea, ela focou nas nuvens cinzentas. Em vez de ver a vasta paisagem sobre o oceano como milagroso, ela decidiu lançar seu olhar para a solidão das montanhas escarpadas distantes. Embora fosse deslumbrantemente bonito por um lado, Keira achou que não seria um grande desafio desmascarar o romance da Irlanda. Ela apenas precisava saber para onde olhar e como distorcer as coisas.

Ela passou por várias cidades pequenas com muros de pedra. Uma se chamava Killinaboy e ela riu em voz alta, rapidamente enviando uma foto da placa da cidade para Zach, esperando que ele fosse gostar.

Ela estava tão distraída com a placa engraçada da cidade, que quase nem notou o próximo obstáculo na estrada—um rebanho de ovelhas! Ela pisou nos freios e conseguiu parar a tempo. Demorou um longo tempo até que seu terror diminuísse. Ela poderia ter massacrado uma família inteira de ovelhas!

Tirando um momento para acalmar seu batimento cardíaco, Keira pegou o celular e tirou uma foto dos traseiros do grupo de ovelhas, enviando-a para Zach com a legenda: o tráfego aqui é um pesadelo.

É claro que ela não recebeu resposta. Frustrada com a total falta de interesse dele, ela enviou as mesmas fotos para Nina e Bryn. Ambas responderam quase que imediatamente com emojis dando risada e Keira acenou a cabeça, satisfeita em saber que pelo menos alguém em sua vida achou suas escapadelas interessantes.

Keira religou o carro e vagarosamente ultrapassou o comboio de ovelhas. As ovelhas a observaram passar com expressões sábias, e ela quase se deparou se desculpando em voz alta. O céu estava começando a escurecer, fazendo com que a estrada parecesse ainda mais precária. Não ajudava que as únicas construções que ela via na beira da estrada eram de igrejas, com estátuas solenes da Virgem Maria.

Finalmente, Keira chegou a Lisdoonvarna e ficou agradavelmente surpresa com o que viu. Pelo menos parecia um lugar onde as pessoas viviam! Havia ruas com mais de uma casa, o que dava a impressão de uma cidade… quase. Todos os edifícios, casas e lojas eram muito pequenos e pitorescos, muitos a poucos passos de distância da estrada, e pintados em cores brilhantes do arco-íris. Keira estava feliz por finalmente estar em um lugar que parecia uma comunidade, e não apenas habitações individuais ligadas por estradas.

Ela desacelerou o carro, seguindo as placas de rua até que encontrasse o endereço que estava procurando, o St. Paddy’s Inn. A pousada ficava bem na esquina de duas ruas, um edifício de tijolos vermelhos escuros de três andares. Do lado de fora, parecia bastante irlandês para Keira.

Ela estacionou na pequena vaga e desceu do carro, pegando suas malas no porta-malas. Ela estava exausta e pronta para entrar e descansar.

Mas à medida que se aproximava, percebeu que descanso não era algo que estava prestes a conseguir. Porque, mesmo daqui, ela conseguia escutar o som de conversas animadas e debates barulhentos. Ela também conseguia escutar o som de música ao vivo, de violinos, pianos e acordeões.

Um sino sobre a porta tocou quando ela entrou, e ela logo viu um bar pequeno e escuro, com papel de parede carmesim velho e várias mesas redondas de madeira. O lugar estava abarrotado de pessoas com cerveja na mão. Eles olharam para ela como se pudessem dizer imediatamente que ela não era da área, que não era apenas uma turista, mas uma americana.

Keira sentiu-se um pouco sufocada pelo choque cultural.

“Como posso te ajudar?” uma voz masculina disse com um forte sotaque que Keira mal conseguia entender.

Ela olhou para o bar e viu um senhor de pé atrás do balcão. Ele tinha um rosto enrugado e um tufo de cabelo grisalho brotando no centro de uma cabeça calva.

“Meu nome é Keira Swanson,” Keira disse, aproximando-se dele. “Da revista Viatorum.”

“Não consigo escutar! Fale alto!”

Keira aumentou a voz, falando mais alto que a música tradicional ao vivo, e repetiu seu nome. “Tenho um quarto reservado aqui,” ela adicionou quando o homem apenas olhou para ela com um olhar vazio. “Sou uma escritora da América.”

Pelo menos o homem parecia entender quem ela era e o porquê estava lá.

“Claro!” ele exclamou, um sorriso espalhando-se pelo seu rosto. “Do jornal com o nome chique em latim.”

Ele tinha uma aura acolhedora, bem de avô, e Keira sentiu-se relaxada novamente.

“É esse mesmo,” ela confirmou.

“Sou Orin,” ele disse. “Sou o proprietário do St. Paddy. Moro aqui também. E isto é para você.” De repente, uma caneca de Guinness foi colocada descuidadamente no balcão em frente de Keira. “Uma recepção de boas-vindas tradicional de St. Paddy.”

Keira foi pega de surpresa. “Não sou muito de beber,” ela riu.

Orin olhou para ela. “Você é enquanto estiver no Condado de Clare, minha moça! Você está aqui para relaxar, assim como o resto dos locais. E, de qualquer forma, temos que brindar sua viagem segura! Graças à Virgem Maria.” Ele fez o sinal da cruz em seu peito.

Keira ficou com um pouco de vergonha quando aceitou o Guinness, e tomou um gole do líquido cremoso e forte. Ela nunca tinha provado Guinness e o sabor não era particularmente agradável para ela. Após apenas um gole, ela estava segura de que não conseguiria terminar a caneca toda.

“Todo mundo,” Orin berrou para os clientes do bar, “esta é uma repórter americana!”

Keira se encolheu quando o bar inteiro virou e começou a aplaudir e gritar como se ela fosse algum tipo de celebridade.

“Estamos tão animados por você estar aqui!” disse uma mulher de cabelos crespos, inclinando-se um pouco muito perto e sorrindo um pouco demais para o conforto de Keira. Então, em uma voz mais baixa ela acrescentou, “Talvez você queira limpar seu bigode de Guinness.”

Sentindo suas bochechas queimarem de vergonha, Keira rapidamente limpou a cerveja de seu lábio superior. Um segundo depois, outra cliente do bar forçou a passagem por ela, batendo os cotovelos com outros no caminho—ninguém parecia se importar. A bebida dela derramou um pouco enquanto ela tropeçava. “Mal posso esperar para ler seu artigo!”

“Oh, obrigada,” disse Keira, encolhendo os ombros. Não tinha passado por sua cabeça que as pessoas iriam querer ler o que ela escreveria sobre eles. Isso pode tornar o ângulo cético um pouco mais difícil para ela.

“Então, o que a fez querer se tornar uma repórter?” o homem ao lado dela disse.

“Sou apenas uma redatora,” Keira disse enrubescida, “não uma repórter.”

“Só uma redatora?” o homem exclamou, falando alto e procurando a atenção de outros ao seu redor. “Vocês escutaram isso? Ela disse que é apenas uma redatora. Bem, mal posso segurar uma caneta, então você é um gênio em minha opinião.”