Santa María de Montesa

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A coincidência cronológica com o que se estava a passar além da fronteira é sugestiva e conduz à hipótese de o rei de Portugal ter informação bastante atualizada, ou até privilegiada, no que toca a esta matéria. Em primeiro lugar, e ainda antes de Filipe IV ter decretado a prisão dos Templários em 13 de outubro de 1307,68 começou em Portugal um processo de confiscação da propriedade que estava na posse dos freires portugueses, cujo primeiro documento que se conhece é de 18 de agosto de 1307.69 Embora a curta distância, nesta fase inicial, D. Dinis age com precocidade quando comparado com o seu cunhado, Jaime II de Aragão, que em novembro de 1307 subscreve medida semelhante no que toca aos bens que os freires possuíam no seu reino.70 Em segundo lugar, assim que se tornaram públicas as decisões do concílio de Vienne em 1312, começaram também as inquirições régias sobre os bens dos Templários com o objetivo de deitar mão a essa propriedade.

Com a instalação da casa conventual da Ordem de Cristo perto da foz do rio Guadiana dava-se sinal de que se estava a desenhar uma estratégia de expansão marítima (suportada no plano ideológico pela cruzada tardia), da qual dependeria uma boa parte da projeção externa da soberania portuguesa e a qual o monarca não tinha capacidade de desenvolver sem o contributo destas Ordens Militares.

A Ordem de Cristo é uma síntese, diríamos, quase perfeita à luz da conjuntura em que foi instituída. Na perspetiva da crítica histórica, representa uma solução pouco inovadora e geradora de algum incómodo para a Coroa. Resultou, pois, da incapacidade de garantir a necessária aprovação do Papado em relação ao destino a dar aos bens que pertenciam à Igreja, por via da Ordem do Templo, implementando outra alternativa que ficasse à margem do enquadramento institucional de uma Ordem Militar. Ou seja, sabendo de antemão que os bens da Ordem do Templo nunca poderiam sair do círculo da Igreja, o rei limitou-se a decalcar um modelo preexistente, sugerindo a criação de uma nova Ordem Militar (tenha-se também em consideração o exemplo da Ordem de Montesa, instituída em 10 de junho de 1317),71 embora com um vínculo institucional à Ordem de Calatrava, dependente do rei de Castela, o que encerra uma contradição significativa. Para mitigar esta influência, que poderia minimizar a supremacia do rei de Portugal, estipularam-se duas cláusulas fundamentais: a Ordem ficava submetida à correição e visitação do Abade de Alcobaça, mosteiro português de Cister,72 e o Mestre de Cristo devia fidelidade ao rei de Portugal.73 Na perspetiva dos freires, esta manipulação régia poderia não constituir uma limitação e ser até conveniente, já que se viviam tempos em que a proximidade à Coroa viabilizaria o modo de vida destes homens, nomeadamente, os seus compromissos sociopolíticos. Por sua vez, na perspetiva de D. Dinis, não se sabe se prevaleceria um sentimento de satisfação e de segurança, por ter conseguido intervir de forma direta no universo institucional das Ordens Militares, exercendo apertado controlo sobre as mesmas, ou, um sentimento de frustração, por ter tido a pretensão de dar um outro destino a esses bens, mas de impossível resolução no quadro do Papado que dirigiu o processo.

1. Francesco Gabrieli: Arab Historians of the Crusades, 2.ª ed., London, Routledge & Kegan Paul, 1969, pp. 349-350.

2. Riley-Smith definiu cruzada como uma peregrinação armada proclamada pelos papas, destinada a recuperar ou a defender territórios e pessoas cristãos. Cada cruzado (ou, pelo menos, alguns deles) fazia um voto, colocava uma cruz nas suas vestes, recebia a garantia de privilégios espirituais, como a indulgência, e temporais. A cruz era associada a uma ideia de penitência e auto-santificação. Jonathan Riley-Smith: «Rethinking the Crusades», First Things, 101, março 2000, pp. 20-23. Disponível em: <http://www.firstthings.com/ftissues/ft0003/opinion/riley-smith.html>.

3. Franco Cardini: «Il ruolo degli ordini militari nel progetto di ‘recuperatio’ della Terrasanta secondo la trattatistica dalla fine del XIII al XIV secolo», em Francesco Tommasi (ed.): Acri 1291. La fine della presenza degli ordini militari in Terra Santa e i nuovi orientamenti nel XIV secolo, Perugia, Quattroemme, 1996, p. 137.

4. Judith Bronstein: The Hospitallers and the Holy Land. Financing the Latin East: 1187-1274, 1.ª ed., Woodbridge, The Boydell Press, 2005, pp. 103-132.

5. Antony Leopold: How to Recover the Holy Land. The Crusade Proposals of the Late Thirteenth and Early Fourteenth Centuries, Ashgate, 2000.

6. F. Cardini: Il ruolo degli ordini militari..., p. 137. Jonathan Riley-Smith: The Crusades. A History, 2.ª ed., Londres, Continuum, 2005, pp. 246-247.

7. F. Cardini: Il ruolo degli ordini militari..., p. 140. Alan Forey: «The Military Orders in the crusading proposals of the late-thirteenth and early-fourteenth centuries», em Military Orders and the Crusades, Variorum Reprints, 1994, p. 320, 334 y 337, n. 104.

8. A. Forey: «The Military Orders in the crusading proposals…», p. 321.

9. Norman Housley: «The Crusading Movement: 1274-1700», em J. Riley-Smith (ed.): The Oxford History of the Crusades, Oxford, Oxford University Press, 1999, pp. 258-290.

10. A. Leopold: How to Recover the Holy Land..., pp. 1-51. Os dois verdadeiros propagandistas deste período foram Ramon Llull e Marino Sanudo Torsello, mercador do patriciado veneziano e autor do tratado Liber secretorum fidelium crucis (1306-1321). Norman Housley: Contesting the Crusades, Blackwell Publishing, 2006, p. 123.

11. Alain Demurger: A grande aventura dos Templários. Da origem ao fim, Lisboa, A Esfera dos Livros, 2006, p. 449.

12. Disponível em: <http://www.documentacatholicaomnia.eu/03d/1311-1312,_Concilium_Viennense,_Documenta_Omnia,_LT.pdf > [consultado em 24.11.2017].

13. A. Demurger: A grande aventura dos Templários..., pp. 483-491.

14. António Domingues de Sousa Costa (ed.): Monumenta Portugaliae Vaticana, Braga, Editorial Franciscana, vol. II, 1970, p. XXIII.

15. A. Demurger: A grande aventura dos Templários..., p. 449.

16. O primeiro documento que se conhece em Portugal é de 18 de agosto de 1307. Torre do Tombo (TT), Gaveta 12, maço 1, n.º 7. Publ. Livro das Lezírias d’el rey Dom Dinis, Lisboa, Fundação para a Ciência e a Tecnologia, 2003, pp. 235-236, entre outros.

17. Referido por A. D. S. Costa (ed.): Monumenta Portugaliae Vaticana, vol. II, p. XX.

18. A exceção recaiu sobre os bens existentes nos reinos de Castela, Aragão, Maiorca e Portugal.

Publ. Magnum Bullarium Romanum, t. IX, 1741, pp. 148-150. Veja-se, também, A. Demurger: A grande aventura dos Templários…, pp. 486-491. María Bonet Donato: La Orden del Hospital en la Corona de Aragón. Poder y gobierno en la Castellanía de Amposta (ss. XII-XV), Madrid, Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 1994, pp. 65-73. Esteban Sarasa Sánchez: «La supresión de la Orden del Temple en Aragón. Proceso y consecuencias», em Las Órdenes Militares en la Península Ibérica, Cuenca, Ediciones de la Universidad de Castilla-La Mancha, vol. I, 2000, pp. 379-401.

19. Referido por A. D. C. Costa (ed.): Monumenta Portugaliae Vaticana, vol. II, p. XXXVI.

20. Monumenta Henricina, Coimbra, Comissão Executiva do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, vol. I, doc. 62, p. 112.

21. TT, Gaveta 7, maço 4, n.º 8; TT, Leitura Nova, Livro dos Mestrados, ff. 84r-85r.

22. Publ. Saúl Gomes: «A Extinção da Ordem do Templo em Portugal», Revista de História da Sociedade e da Cultura, 11, Universidade de Coimbra, 2011, pp. 100-116.

23. Publ. Saúl Gomes: «D. Gualdim Pais (c.1118/20-1195)», Revista População e Sociedade, 23, Porto, CEPESE, 2015, pp. 18-20.

 

24. Paula Pinto Costa e Joana Lencart: «A herança templária em Portugal: memória documental e patrimonial», em Ordens Militares – Entre Deus e o Rei. O mundo das Ordens Militares, Palmela, GESOS e Municipio de Palmela, 2018, pp. 647-699.

25. Procuração inserta em Monumenta Henricina, vol. I, doc. 61, pp. 97-110 e doc. 62, pp. 110-119 (versão em português de 11 de maio de 1320). Ref. A. D. S. Costa (ed.): Monumenta Portugaliae Vaticana, vol. II, p. XLIII.

26. Um dos documentos consta em TT, Gaveta 7, maço 16, n.º 2; TT, Leitura Nova, Livro dos Mestrados, ff. 23r-28v. O outro documento a que nos reportamos está em TT, Leitura Nova, Livro dos Mestrados, ff. 51v-77v.

27. Inserta em Monumenta Henricina, vol. I, doc. 61, pp. 97-110 e doc. 62, pp. 110-119 (versão em português de 11 de maio de 1320).

28. Monumenta Henricina, vol. I, doc. 61, pp. 97-110 e doc. 62, pp. 110-119 (versão em português de 11 de maio de 1320).

29. Monumenta Henricina, vol. I, doc. 63, pp. 119-120 e doc. 64, pp. 121-122 (versão em português). Sobre as origens da Ordem de Cristo, vejam-se os seguintes trabalhos de referência. Isabel Morgado Silva: «A Ordem de Cristo sob o Mestrado de D. Lopo Dias de Sousa», em Luís Adão da Fonseca (coord.), As Ordens Militares no Reinado de D. João I, Militarium Ordinum Analecta (1), Porto, Fundação Engº António de Almeida, 1997. Luís Adão da Fonseca: «La Orden de Cristo entre la cruzada y la monarquía: un marco ideológico con finalidad política», em Raquel Torres Jiménez e Francisco Ruiz Gómez (coords.), Órdenes militares y construcción de la sociedad occidental. Cultura, religiosidad y desarrollo social de los espacios de frontera (siglos XII-XV), Madrid, Sílex, 2016, pp. 681-699. Uma resenha mais completa de referências bibliográficas pode ser identificada a partir de Luís Filipe Oliveira, Luís Adão Fonseca, Maria Cristina Pimenta e Paula Pinto Costa: «Military Orders in the fifteenth century», em José Mattoso, Maria de Lurdes Rosa, Bernardo Vasconcelos e Sousa e Maria João Branco (eds.): The Historiography of Medieval Portugal, c. 1950-c.2010: a collective book and a collaborative project, Lisboa, Instituto de Estudos Medievais da Universidade Nova de Lisboa, 2011, pp. 425-457.

30. David Nicholas: «Economy», em Daniel Power (ed.): The Central Middle Ages. Europe 950-1320, The Short Oxford History of Europe, 1.ª edição, Oxford University Press, 2006, p. 78, onde se afirma que uma caravana demoraria entre 20 a 24 dias a percorrer a distância entre o Mediterrâneo e Paris, podendo este tempo ser reduzido praticamente a metade se a viagem fosse feita por uma pessoa sozinha a cavalo. Segundo o estudo de Maria Helena da Cruz Coelho e Maria José Azevedo Santos: De Coimbra a Roma. Uma viagem em meados de Quinhentos, Coimbra Editora, 1990, p. 39, uma comitiva saída do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, a 16 de setembro de 1558, chegou a Roma a 16 de dezembro desse mesmo ano, sendo que demorou 19 dias a percorrer o caminho entre Saragoça e Lyon.

31. Monumenta Henricina, vol. I, doc. 62, p. 116.

32. Por todos, veja a problematização feita por L. A. Fonseca: «La Orden de Cristo entre la cruzada y la monarquia...», pp. 681-699.

33. Monumenta Henricina, vol. I, doc. 62, p. 112.

34. TT, Ordem de Cristo/Convento de Tomar, maço 1, n.º 16 (inserto em documento de 1781.06.16).

35. Joana Lencart: «As ordenações inéditas da Ordem de Cristo de 1319 e 1323 – estudo comparativo com as ordenações de 1321 e 1326», População e Sociedade. CEPESE, Porto, vol. 26 (dez. 2016), p. 101, nota 9. Disponível em: <http://www.cepesepublicacoes.pt/portal/pt/obras/populacao-e-socie-dade-n-o-26/as-ordenacoes-ineditas-da-ordem-de-cristo-de-1319-e-1323-2013-estudo-comparativo--com-as-ordenacoes-de-1321-e-1326> [consultado em 24.11.2017].

36. Publ. Frei António Brandão: Monarchia Lusytana que contem as historias dos ultimos 23 annos d’el rey D. Dinis, Sexta Parte, Lisboa, Officina de Joam da Costa,1672, pp. 291-292.

37. Monumenta Henricina, vol. I, doc. 68, pp. 129-131.

38. TT, Chancelaria de D. Dinis, liv. 3, ff. 154v-155r.

39. J. Lencart: «As ordenações inéditas da Ordem de Cristo de 1319 e 1323…», pp. 99-132.

40. Monumenta Henricina, vol. I, doc. 62, pp. 113-115.

41. TT, Ordem de Cristo/Convento de Tomar, documentos particulares, maço 2, n.º 2, publ. J. Lencart: «As ordenações inéditas da Ordem de Cristo de 1319 e 1323…», pp. 121-126.

42. Monumenta Henricina, vol. I, doc. 73, pp. 142-150. I. M. Silva: «A Ordem de Cristo sob o Mestrado de D. Lopo Dias de Sousa...», pp. 26-27.

43. TT, Ordem de Cristo/Convento de Tomar, Documentos Particulares, maço 2, n.º 5. Publ. J. Lencart: «As ordenações inéditas da Ordem de Cristo de 1319 e 1323…», pp. 127-132.

44. Monumenta Henricina, vol. I, doc. 74, pp. 150-160. I. M. Silva: «A Ordem de Cristo sob o Mestrado de D. Lopo Dias de Sousa...», p. 28.

45. A. Demurger: A grande aventura dos Templários..., pp. 492-497.

46. P. P. Costa e J. Lencart: «A herança templária em Portugal: memória documental e patrimonial», em Ordens Militares – Entre Deus e o Rei. O mundo das Ordens Militares (no prelo).

47. José Augusto de Sottomayor Pizarro: D. Dinis (1261-1325), Lisboa, Círculo de Leitores, 2005, pp. 164-166.

48. Publ. Chancelaria de D. Afonso III, liv. I, vol. 2, n.º 526, pp. 115-116.

49. Publ. em Chancelaria de D. Afonso III, liv. I, vol. 2, n.º 640, pp. 218-220.

50. Publ. em Chancelaria de D. Afonso III, liv. I, vol. 2, n.º 687, pp. 254-255.

51. TT, Gaveta 3, maço 8, n.º 9, TT, Leitura Nova, Estremadura, liv. 11, f. 288.

52. TT, Chancelaria de D. Dinis, liv. 1, f. 171v e Gav. VI, maço único, n.º 61; publ. Jean Delaville Le Roulx (ed.): Cartulaire Générale de l’Ordre des Hospitaliers de Saint-Jean de Jérusalem (1100 - 1310), Paris, vol. III, 1899, n.º 3937, p. 492, e Livro dos forais, escripturas, doações, privilégios e inquirições, com um estudo de José Mendes da Cunha Saraiva: Subsídios para a História da Ordem de Malta, II-IV, 3 vols., separata de Ocidente, vols. 25-28, Lisboa, Arquivo Histórico do Ministério das Finanças, 1946-48, vol. 3, doc. 314, p. 140. Ref. José Anastácio de Figueiredo: Nova história da Militar Ordem de Malta e dos senhores grão-priores della em Portugal, Lisboa, vol. II, 1800, p. 268 e ss.

53. TT, Gav. XII, maço 1, n.º 4 e Gav. VI, maço único, n.º 115 e n.º 261 e Leitura Nova, Direitos reais, liv. 2, f. 156. Publ. Cartulaire générale..., IV, n.º 4697, pp. 115-116, e As Gavetas da Torre do Tombo, introdução de A. da Silva Rego, 12 vols., Lisboa, Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, tomo II, 1960-1977, p. 745. Ref. J. A. de Figueiredo: Nova história da Militar Ordem de Malta..., II, p. 356.

54. TT, Chancelaria de D. Dinis, liv. 3, f. 154-154v, e publ. Livro dos forais..., vol. 2, doc. 11, pp. 30-31 e vol. 3, doc. 298, pp. 50-52.

55. TT, Chancelaria de D. Dinis, liv. 3, f. 160v e Gav. VI, maço único, n.º 135 e 156, e TT, Corpo cronológico, I, maço 1, n.º 9; publ. Livro dos forais..., vol. 2, doc. 12, pp. 32-33 e Milenário de Aveiro. Colectânea de documentos históricos (959-1516), António Gomes da Rocha Madahil (organização, leitura e revisão), Câmara Municipal de Aveiro, 1959, doc. 62, pp. 120-121.

56. Situação semelhante aconteceu na Coroa de Aragão, como afirma M. Bonet Donato: La Orden del Hospital en la Corona de Aragón..., p. 53.

57. Paula Pinto Costa: «D. Dinis e a Ordem do Hospital: dois poderes em confronto», em Actas da II Semana de Estudios Alfonsíes, Puerto de Santa Maria, 2001 (separata).

58. TT, Gav. XII, maço 1, n.º 15 e Gav. VI, maço único, n.º 116 e 262, e Leitura Nova, Direitos reais, liv. 2, ff. 161-162.

59. TT, Chancelaria de D. Dinis, liv. 3, ff. 68v-69.

60. TT, Gav. VI, maço único, n.º 28.

61. TT, Chancelaria de D. Dinis, liv. 3, f. 141, e Gav. VI, maço único, n.º 66.

62. Derek Lomax: «El Rey D. Diniz de Portugal y la Orden de Santiago», Hidalguía, 30, 1982, pp. 477-487; Mário Cunha: «A quebra da unidade santiaguista e o mestrado de D. João Osório», em Isabel Cristina Fernandes (ed.): As Ordens Militares em Portugal e no Sul da Europa, Lisboa, ed. Colibri/C.M. Palmela, 1997, pp. 393-405; Carlos de Ayala Martínez: «La escisión de los Santiaguistas Portugueses: Algunas notas sobre los establecimientos de 1327», Historia. Instituciones. Documentos, 24, 1997, pp. 53-69. Mário Raul Cunha: A Ordem Militar de Santiago: das origens a 1327, Porto, ed. Policopiada, 1989, pp. 156-169, onde o autor analisa o processo de independência face a Uclés, destacando o período de D. Lourenço Eanes (1315-1318) e a atuação de D. Pedro Escacho, com a promulgação dos estabelecimentos de 1327.

63. Maria Cristina Almeida Cunha: «A Ordem de Avis e a monarquia portuguesa até ao final do reinado de D. Dinis», Revista da Faculdade de Letras, II série, vol. XII, 1995, p. 123. A autora destaca a primeira confirmação de um Mestre feita pelo Arcebispo de Braga, cuja autorização papal data de 10 de junho de 1330. Maria Cristina Cunha: «A eleição do mestre de Avis nos séc. XIII-XV», em I. C. Fernandes (ed.): As Ordens Militares em Portugal e no Sul da Europa..., pp. 373-392.

64. TT, Chancelaria de D. Dinis, liv. 3, f. 74, com data de 14 de abril de 1311.

65. M. C. A. Cunha: «A Ordem de Avis e a monarquia portuguesa...», p. 119. A autora, atendendo ao aumento do número de diplomas relacionados com litígios entre a Ordem de Avis e certas pessoas, entre os finais do séc. XIII e inícios do séc. XIV, conclui que D. Dinis, ao intervir na sua resolução, controla a milícia.

 

66. J. A. S. Pizarro: D. Dinis (1261-1325)..., pp. 164-166.

67. Luís Filipe Oliveira: «As Definições da Ordem de Avis de 1327», em Isabel Cristina Fernandes (coord.): As Ordens Militares - Freires, Guerreiros, Cavaleiros, Palmela, Município de Palmela/GESOS, 2012, pp. 371-388. Isabel Lago Barbosa: «A Ordem de Santiago em Portugal nos finais da Idade Média», em Luís Adão da Fonseca (ed.): As Ordens de Cristo e de Santiago no início da Época Moderna: A Normativa, Militarium Ordinum Analecta, 2, Porto, Fundação Eng.º António de Almeida, 1998, p. 234.

68. A. Demurger: A grande aventura dos Templários..., p. 449.

69. TT, Gaveta 12, maço 1, n.º 7. Publ. Livro das Lezírias d’el rey Dom Dinis, pp. 235-236, entre outros.

70. Enric Guinot Rodríguez: «La fundación de la Orden Militar de Santa María de Montesa», Saitabi, XXXV, 1985, pp. 75-76.

71. Enric Guinot Rodríguez: «La fundación de la Orden Militar de Santa María de Montesa», Saitabi, XXXV, 1985, pp. 73-86 (esp. p. 78).

72. Monumenta Henricina, vol. I, doc. 62, pp. 113-115.

73. Monumenta Henricina, vol. I, doc. 62, p. 113.

FREY ARNAU DE SOLER, SEGUNDO MAESTRE DE LA ORDEN DE MONTESA (1320-1327)

Vicent Garcia Edo Universitat Jaume I

El día 4 de marzo de 1320 el rey Jaime II de Aragón comunicó al papa Juan XXII el nombramiento de frey Arnau de Soler1 como nuevo maestre de la Orden de Montesa. El documento2 va precedido por el siguiente título: «Significatio promotionis fratris Arnaldi de Solerio in magistrum monasterii Muntesie», y al comienzo contiene un resumen de las iniciativas llevadas a cabo por el propio monarca en los meses inmediatamente anteriores, con el fin de poder cubrir de manera tranquila y rápida la vacante producida tras la imprevista muerte3 del primer maestre, cuyo nombramiento tanto esfuerzo había supuesto a la Corona desde la promulgación de la bula fundacional de la Orden en junio de 1317. También deseaba ahora Jaime II poder situar al frente de la Orden a alguna persona de su confianza, y lo consiguió tras obtener del papa, dadas las circunstancias y solo por una vez, que el nombramiento del nuevo maestre lo efectuara únicamente el abad del monasterio de Santes Creus, quien, evidentemente, no se opondría a que una persona respetable propuesta por el rey accediese a esa dignidad.

Jaime II eligió a frey Arnau de Soler, miembro hasta ese momento de la Orden de San Juan del Hospital, a quien calificaba como «homo bonus, sapiens et discretus», cualidades que iban unidas al hecho de que, tal como se declara en el documento, durante más de doce años había sido consejero real y era persona cuyos méritos conocía muy bien el monarca. Sin embargo, fue necesario solicitar la oportuna licencia al prior de los hospitalarios en Cataluña, para que el candidato pudiera sustraerse al voto de obediencia que tenía contraído con ellos desde hacía bastantes años e ingresar, de este modo, en la Orden de Calatrava. Y desde esta, acceder a la nueva dignidad de Maestre de Montesa, tras ser nombrado por el abad del Monasterio de Santes Creus.

Conseguida la licencia que lo desligaba de la Orden del Hospital, el jueves 28 de febrero de 1320, año bisiesto, tuvo lugar en Tarragona el acto de recepción de frey Arnau de Soler en la Orden de Calatrava, a cuyo fin el rey Jaime II había convocado al comendador de Alcañiz, frey Gonzalo Gómez, que acudió sin demora, aunque no fue un viaje gratuito, sino que recibió de la Orden de Montesa la cantidad de 4.000 sueldos barceloneses de terno, que le fueron entregados por Simó Negre, vecino de Tortosa, como declaró por escrito, «racione expenssarum per me actenus factarum, racione magistratus predicti de Muntesa».4

EL PRIMER CAPÍTULO GENERAL DE LA ORDEN

El mismo 28 de febrero también tuvo lugar el nombramiento de frey Arnau de Soler como nuevo maestre de Montesa, quien pocos días después salió de Tarragona y marchó en dirección a Sant Mateu para tomar posesión de algunos lugares pertenecientes a la Orden.5 Sin embargo la estancia fue corta, pues su interés en ese momento era llegar al castillo de Montesa lo antes posible para celebrar el primer capítulo general de la nueva institución.

Antes, sin embargo, pasó por Valencia, donde está documentado el 16 de marzo.6 Ya en Montesa presidió el mencionado capítulo el día 23 de marzo de 1320, con asistencia de la práctica totalidad de miembros de la Orden. No conocemos el texto del acta de dicho capítulo, si es que la hubo, como parece lógico, pero sí algunos documentos relativos a varios acuerdos adoptados en él.

El principal fue el otorgamiento de poderes al maestre para poder confirmar a las poblaciones de la Orden y en la forma que considerase más oportuna sus respectivos privilegios, libertades, franquezas, inmunidades, fueros, buenos usos y costumbres. También le autorizaron para conceder nuevos privilegios y franquezas a esas mismas localidades, o a personas, así como efectuar establecimientos de heredades y, por tanto, licencia también para poder firmar los documentos necesarios para revestir de carácter legal tales actos de disposición.7

Otro de los acuerdos tomados fue el nombramiento del jurista Pere Celma, residente en Valencia, para desempeñar el oficio de abogado de la Orden con carácter vitalicio, quien por ello recibiría anualmente la cantidad de 400 sueldos, la mitad por San Juan y la otra por Navidad. En el supuesto de que tuviese que salir de la ciudad de Valencia por asuntos relacionados con cualesquiera causas o lites relativas a la Orden de Montesa, se le asignaría un escudero y dos palafreneros, así como dos animales de monta y carga para transportar cuanto necesitase. Si fuese necesario llevar libros, se añadiría un tercer animal de carga.8

Ese mismo día, seguramente ya fuera del capítulo, nombró a frey Fernando Pérez de Aragón9 comendador del castillo de Perputxent, convirtiéndose en el primer freire comendador de una encomienda de la Orden, aunque fue una decisión circunstancial, pues por aquellas fechas, apenas tres semanas después del nombramiento del maestre Soler, no se tenía una idea totalmente clara del modo en que se estructuraría la nueva orden, por lo que podría decirse que todos sus miembros estaban en expectativa de destino. Ahora bien, la situación cambió de manera muy significativa a partir de 1321, como veremos después, porque cada uno ya había ocupado el lugar que le correspondía y, por tanto, podemos hablar desde entonces de normalidad dentro del organigrama institucional.

DIGNIDADES Y OFICIOS DE LA ORDEN DE MONTESA EN 1320

Si el maestre Soler ostentaba la primera dignidad de la Orden, recaía la segunda en la figura del comendador mayor, oficio que no documentamos durante el efímero mandato de frey Guillem d’Erill, sino al comienzo del gobierno del maestre Soler y que recayó en la persona de frey Berenguer de Montoliu, quien lo ejerció al menos entre el 23 de marzo de 132010 y el 26 de mayo de 1322.11 Su principal cometido era el de ayudar al maestre en el ejercicio de sus funciones y sustituirlo cuando fuese necesario.

El clavero era la tercera dignidad de la Orden, pero el oficio fue establecido el primer día del mandato de frey Guillem d’Erill, y tuvo un papel muy importante en las semanas siguientes, pues la enfermedad sobrevenida del maestre provocó que el clavero, frey Erimán de Eroles, le sustituyera en el proceso de toma de posesión de las primeras poblaciones de la Orden de Montesa a las que tenían previsto acudir. Este primer clavero permaneció en su puesto al menos hasta el 20 de noviembre de 1320,12 pasando después a desempeñar otros cargos u oficios dentro de la Orden. Si nos atenemos al sentido estricto de la palabra, era misión del clavero la de custodia de las llaves del convento, pero las Definiciones13 de 1326 señalan, en su artículo 22, que el clavero debería proveer al convento de todo lo necesario para el sustento de los freires, y en caso de que en algún momento faltase pan, vino, carne, pescado, queso o aceite, estaría a pan y agua tantos días cuantos se hubiera carecido de alguna de estas cosas.

Durante el primer año de mandato del maestre Soler y, con carácter transitorio, hasta que se distribuyó el territorio de Montesa en encomiendas, en vez de comendadores hubo lugartenientes del maestre. Sus funciones figuran especificadas en los correspondientes títulos de nombramiento. Es ahí donde podemos leer que el maestre los declaraba sus procuradores, con licencia para regir, gobernar, procurar y administrar en el lugar de destino de que se tratase, lo que implicaba ostentar la autoridad maestral delegada sobre personas y bienes y, por tanto, podrían pedir o exigir y con ello recaudar las rentas pertenecientes a la Orden. También podían otorgar cartas de venta o establecimientos a favor de particulares, conceder cartas de pago o ápocas por cantidades recibidas, y en general llevar a cabo cuantos actos fuesen necesarios, incluso apertura de pleitos, para defender los derechos de la Orden. Se trata, en definitiva, de las mismas funciones que tendrían en adelante los comendadores, pero en esta etapa tan inicial, cuando todo estaba por hacer, estas cartas notariales de apoderamiento, pues es lo que en esencia parecen, eran instrumento jurídico suficiente para que en los diferentes pueblos de la Orden y sin mayor demora, sus habitantes se acostumbraran a tener en los administradores un referente que los vinculara directamente con la institución recién creada. Las lugartenencias documentadas son las siguientes:


Año 1320
24/4Frey Berenguer de Montoliu
22/6Frey Bernat Sarroca
23/6Frey Guillem Cerdà
23/6Frey Juan Pérez de Mallén
28/7Frey Berenguer d’Erill
2/11Frey Arnau Pedrissa
Año 1321
17/1Frey Berenguer de Montoliu

Las lugartenencias fueron desapareciendo a partir de comienzos de 1321, con el establecimiento de los oficios de comendadores. Sin embargo, algunos de los lugartenientes continuaron ejerciendo funciones en los mismos lugares, tras ser ratificados en estos como sus primeros comendadores, como fue el caso de frey Bernat Sarroca en Onda, frey Berenguer d’Erill en Peñíscola y frey Bernat de Montsonís en Culla.

El oficio de comendador, por tanto, guarda un notable parecido con el de lugarteniente, al que sustituye. Casi no se conocen documentos de nombramiento de comendador durante el mandato de frey Arnau de Soler, aunque sí el del primero, frey Fernando Pérez de Aragón, antes referido, nombrado el 31 de marzo de 1320 para hacerse cargo del castillo de Perputxent. En unas pocas líneas se definieron sus competencias, y el fragmento que nos interesa dice así:

... que vos sciats comanador del dit castell e los hòmens d’aquell castell, axí christians com sarrahiïns, mantengats e deffenats, donan a cada ú dret e justícia en totes coses e per totes, e demanets, cullats e reebats, e demanar, cullir e reebre façats, calònies e tots altres drets a nós pertanyents en lo castell damunt dit e en sos térmens, e que puscats fer e espatxar totes altres coses que sien a profit de nós o del orde damunt dit...21

Desde comienzos de 1321 ya disponemos de numerosas noticias relativas a la existencia de comendadores en Ares, Borriana, Cervera, Coves de Vinromà, Culla, Onda, Peñíscola, Perputxent, Sueca, València, Vilafamés y Xivert. En Silla lo documentamos por vez primera en 1325. También existía la figura del subcomendador o lugarteniente de comendador, que no solo hacía funciones de alcaide, sino también otras, como la de sustituir la ausencia del titular de la encomienda.

El prior del convento de Montesa era el superior, o prelado ordinario. Durante los ocho años de mandato del maestre Soler encontramos en la documentación ocho freires ejerciendo ese oficio, demasiados para tan poco tiempo y en algunos casos coincidentes, lo que hace pensar que solo algunos lo eran del convento de Montesa y otros lo fueron en los prioratos de Cervera o Castielfabib. 22

Otros oficios. El rector de la iglesia de Montesa fue frey Berenguer d’Aravill entre 1320 y 1325, y el oficio de cantor lo ejercía frey Pere d’Olives en 1322. Fue sacristán frey Joan de Sant Pere entre 1322 y 1325; y el oficio de obrero lo tenían frey Ramón de Castellvell en 1322 y frey Bernat de Torre en 1323.

Freires. En el momento de creación de la Orden de Montesa fueron diez los freires que iniciaron la andadura en compañía del maestre Erill.23 Además de estos, a lo largo del mandato del maestre Soler hemos podido identificar un total de treinta y nueve más, de los cuales muchos desempeñaron uno o más oficios en la Orden, pero otros, en cambio, no ocuparon ninguno y su nombre es poco frecuente en la documentación conocida. Figuran todos relacionados en un apéndice a continuación de estas páginas.