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Caído do Céu
Romance com um pai solteiro milionário
Susana Torres
Susana Torres 2016-2021.
Todos os direitos reservados.
Publicado na Espanha por Susana Torres.
Tradução: Victor Cordeiro
Primeira edição.
Capítulos:
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo I
Seu filho, com seus sapatos de sola dura, corria em volta da casa, contando de um a dez, repetindo os números, às vezes os pulando; sua voz faz eco, o teto é muito alto, a casa é muito alta, o suficiente para uma que uma girafa adulta ocupe desde o porão até o terraço.
Mas seu filho continua correndo, contando sempre com uma harmonia pegajosa que, se diminui alguns tons, se torna uma música de terror, mas é uma criança, inofensiva e delicada. Quando aprendeu a dizer água seus pais ficaram orgulhosos, falavam com ele como a qualquer outro adulto, poderia dizer qualquer palavra, mas seu princípio básico de criança a levou apenas a dizer isso. Água.
Seu pai está recluso em sua sala, um escritório humilde que não tem a ver com o tamanho da casa. Revisa suas correspondências, suas anotações, uma ou outra pesquisa ou algumas gráficas de empresas de uma das empresas que administra.
Parece um homem bem-sucedido, mas isso não é mais do que um peso nos seus ombros, que mora em uma casa que está há gerações com sua família, que é nada mais do que uma cicatriz no tempo, um monumento à lembrança dos velhos e mortos, pela qual não gastou mais do que o dinheiro necessário para que não caísse ou que os cupins não a comessem, além dos detalhes que tanto cuidava. É uma dessas casas de madeira, não há dúvida porque fazem barulho os sapatos de seu filho.
O pai, Juan, acionista, dono de sua própria empresa, gerente de outra, responsável pela administração de várias e ex-genro do dono de mais uma, tem os recursos necessários para dar uma boa qualidade de vida ao seu único filho, Samir, por duas ou três vidas inteiras. Assim chamado pelo seu avô, um homem humilde que viveu e morreu nesses mesmos pisos.
Juan e Samir são uma equipe de dois; não existe amor maior que o seu. Ele, é o seu primeiro e único filho, sua única lembrança, a única planta que semeou, que rega todos os dias sem falta, que espera que cresça saudável, forte e por quem daria tudo de novo se fosse necessário.
Seu computador soa, vez ou outra, se arrepende do momento em decidiu por um toque em suas mensagens, suporta apenas um barulho; o dos números naturais que seu filho tanto recita. Mas continua sonhando, para ele parece piada que esteja tão requisitado ultimamente, mas desta vez chega a ele uma que lhe chama a atenção. É um e-mail desconhecido, o assunto com letra maiúscula foi o que pediu a gritos sua curiosidade.
POR FAVOR, PREZADO SR. DUARTE, ME DÊ A HONRA DE ME CONCEDER UMA ENTREVISTA.
Primeiramente leu o assunto, para ele, não era a forma que se escreveria para alguém para pedir uma entrevista exclusiva. Viu se podia descobrir o que dizia o resto da mensagem, se era um tipo de spam ou qualquer outra coisa inútil. Mas por algum motivo sentiu que era honesto, de todo modo, se não o fosse, não perderia nada abrindo-o.
- Bom dia, Sr. Duarte.
Lhe escrevo mediante o pedido de meu chefe de realizar uma entrevista exclusiva com o senhor com a finalidade de saber mais sobre o senhor para o The Business Art Magazine, de como conduz o seu sucesso e estaria interessado que fosse realizada pessoalmente. Lhe agradeceria muito que não fosse por Skype ou qualquer outra rede, tendo a ser um pouco tradicional e gostaria de poder fazê-lo dessa forma.
Sem mais delongas, espero ansiosamente sua resposta. Obrigado por sua atenção.
Mar Gálvez.
- Bem, parece interessante – disse enquanto se inclinava ao computador para responder à mensagem. Se esticou um pouco e começou a escrever – seria deselegante dizer não à The Business Art Magazine.
Mar não achou estranho quando viu que haviam respondido, apesar de estar acostumada a esperar vários dias para receber mensagens. Já não era uma novata, estava preparada para responder diante de qualquer situação, e que um empresário importante respondesse ao seu e-mail imediatamente após tê-lo enviado, não era uma situação para se alarmar, talvez no passado não saberia se responderia na hora ou lhe deixaria esperar.
Soltou os papeis que carregava e pôs seu casaco em um lado, iria embora, mas decidiu ler o quanto antes para evitar fazê-lo esperar, e achava um pouco deselegante não responder com a mesma eficiência. Aproximou-se do computador e leu.
- Bom dia, senhorita Gálvez.
Fico lisonjeado que vocês queiram fazer um artigo sobre minha pessoa, não me lembro em que momento fiz algo relevante a ponto de ser atendido pelo TBAM, mas já que existe a oportunidade, quem sou eu para recusá-la? Não tenho problema em fazê-la pessoalmente, se achar melhor podemos realizá-la aqui mesmo em minha casa. Tenho espaço suficiente para que se sinta confortável. Obrigado pelo seu interesse. Se tem algum pedido antes de realizar a entrevista, não pense duas vezes em me avisar.
Atenciosamente, Juan Duarte.
Deu um pequeno sorriso e se posicionou para escrever. Mandou sua mensagem, decidida que poderia ver sua resposta em casa e ir em embora antes que ficasse tarde. Deixou o escritório e se dirigiu o mais rápido possível para o elevador para pegar o seu carro e ir para a casa evitando o trânsito ou qualquer outro inconveniente. Queria chegar, sair, ficar um tempo sozinha, um jantar delicioso para um. Esta entrevista seria a de número 100, por isso Mar queria que ela fosse especial, receberia um aumento. Sempre acontecia este tipo de situação.
A noite transcorreu tranquilamente, pediu o prato mais caro que oferecia o menu, terminou o seu jantar, pediu sua sobremesa, levantou e saiu do restaurante. Foi embora realizada, em breve teria dinheiro suficiente dar a ela própria um jantar desses todas as noites sem reclamar, já ganhava um bom salário, mas com o seu próximo aumento, tudo ficaria em ordem. Pegou o seu carro e voltou para casa. Tomou um banho quente, ligou o notebook para ver seus e-mails e para se distrair um instante. Pensou em ter um fim de semana tranquilo e em paz.
Re: Re: Re: POR FAVOR, PREZADO SENHOR DUARTE, ME DÊ A HONRA DE ME CONCEDER UMA ENTREVISTA.
Leu o assunto do e-mail e por uns segundos acreditou que foi exagerado para iniciar uma conversa, no entanto, não deu importância.
A resposta de Mar à mensagem de Juan foi:
- Obrigada Por responder tão rapidamente, Sr.Duarte, se deseja que a entrevista aconteça em sua casa não tem problema para mim, não preciso estar confortável, mas agradeço sua atenção. E quanto a um pedido
adicional, eu gostaria de estabelecer os parâmetros da entrevista, do que o senhor quer se fale e do que não quer. Se há algum assunto que não gostaria de entrar, etc. Se não tem nenhum inconveniente ou alguma barreira que não queira que cruze, então apenas restaria saber quando nos encontraríamos para realizar a entrevista.
Espero sua resposta.
E Juan responde:
- Barreiras? Não sei se existe alguma coisa que uma revista de negócios não deva saber, ou quê outra coisa deveria me perguntar. Mas, desde que não seja imprudente com suas perguntas, estarei disposto a respondê-las sem problema algum. Por outro, quando ao dia da entrevista, especialmente esta semana não tenho nada para fazer. Decidi tirar um tempo para ficar sozinho com meu filho, como faço o tempo todo, para ser honesto, e acredito que seria ideal para falar com calma e lhe ajudar em seu trabalho. Poderia ser amanhã ou depois de amanhã, se não tiver nenhum problema sair para trabalhar domingo. Sei que eu não.
Neste caso, só falta que você me diga se está de acordo e eu lhe mando o endereço de minha casa, ou mando alguém que vá lhe buscar, caso não tenha um automóvel. De qualquer forma, seria bom que me respondesse assim que leia esta mensagem.
Mar leu a mensagem, levantou-se, colocou o pijama, preparou sua cama para deitar-se e foi ao computador para lhe responder.
- Boa noite, Sr. Duarte.
Acabo de ler sua mensagem agora que cheguei em minha casa, por favor, desculpe se demorei. Não tenho nenhum problema em começar amanhã, mas gostaria de fazer domingo, para aproveitar o sábado. Sim, por favor, me envie o endereço. Estarei aí cedo.
Até então, Sr. Duarte. Boa noite.
Capítulo II
O sábado começou como outro dia qualquer, Mar acordou, viu que o Sr. Duarte enviou o endereço de sua casa junto ao seu número de celular para que o avisasse quando estivesse perto ou se ia se perder com sua indicação.
Ela fez seu café da manhã e decidiu empregar o tempo para preparar as perguntas que faria na entrevista. Procurou sobre a bolsa de valores para estar por dentro do balanço das empresas do Sr. Duarte, sobre as companhias das que formava parte, seu histórico com elas, entre outras coisas.
Mar tinha a intenção de conhecer o homem através de seu trabalho, achava que a chave de seu sucesso apareceria escondida em algumas de suas decisões financeiras. Assim era como mantinha vivo o amor pelo que fazia e gostava; o seu papel era a investigação, unir cabos soltos; analisar, entender e escrever.
Pouco a pouco, no início de sua carreira, percebeu-se que seu talento valia dinheiro, que não o levariam em conta em um jornal de fofocas ou em qualquer noticiário que perdesse seu tempo dando noticias de ontem. Ela queria aparecer no momento, no agora, essa era sua meta.
Precisou de tempo para mergulhar nos artigos de negócios, já não vivia em um onde a rejeitassem por ser mulher, ao contrário, foi recebida de portas abertas, uma novata cujo único conhecimento do assunto era que os números subiam e desciam, que muitos tinham dinheiro suficiente para comprar e destruir uma revista qualquer. Sangue novo, estavam decididos a contratá-la porque um especialista poderia lhes custar mais.
E sua vida com o negócio da bolsa começou assim. A princípio se encarregava de conseguir e falar de diferentes novatos que fizeram um caminho no mundo das finanças, que conseguiram seu primeiro milhão, o qual investiram adequadamente. Às vezes, os mesmos conheciam a queda do seu próprio império e, da mesma forma como todos os caminhos levavam à Roma, cada coisa que decidissem os conduziriam à apenas um lugar: a falência; ela estava de acordo com essa analogia.
Por outro lado, foi conhecendo lentamente a grandeza daqueles que continuavam trabalhando seu empenho. Muitos, filhos de pais ricos que que foram criados nesse mundo, alguns, pessoas inteligentes que entendiam os números como nenhum outro indivíduo comum jamais faria. Outros, que sabiam manipulá-los e se aproveitar das fraquezas de qualquer um.
Mar, como muitos, via o número dos negócios como um lugar infeliz de pessoas de terno, ela não queria números nem operações (mesmo que, tecnicamente, agora viva disso), não queria tomar medidas para fazer casas, não queria aprender a cozinhar para restaurantes importantes, cuidar ou salvar doentes. Sua aptidão era as letras, a investigação, o seguir dos fatos e chegar a uma conclusão.
Tentou em pequenos jornais que, de uma vez, não a levaram onde queria, preferiu começar a trabalhar para algo que pudesse ser lido tanto na Internet como impresso sem que fosse sensacionalismo qualquer. Conseguiu um emprego em uma revista, o que ela considerava um golpe de sorte. Estando lá, cresceu do seu jeito.
Se fez com diferentes artigos, recebeu prêmios importantes, falou do sucesso, do fracasso, foi escalando posições e criou um nome para si mesma. Conheceu o amor, que logo descobriu que nunca foi essencial para ela. Não se imaginava como uma mulher casada porque se apaixonou pelo seu trabalho, o único grande amor que realmente conhecia.
Após uma exaustiva pesquisa do currículo de empresas e companhias das quais Sr. Duarte fazia parte, viu como suas decisões refletiam uma personalidade intuitiva, feroz e decidida. Um homem que sabia agir sob pressão, tomar decisões difíceis e não perder com nenhuma delas.
Achou interessante, muitos fazem seu lugar no mundo no mundo do dinheiro e dos balanços, muitos se acham importantes, boas pessoas. Ao mesmo tempo, outros fraudam, somente poucos são gênios, a grande maioria se desgoverna, perde ou mente no caminho, mas desses poucos, às vezes podem continuar lá, serem vistos como empresários de intelecto, de não serem consumidos pelo veneno do dinheiro ou seus dígitos.
Para ela, o Sr. Duarte não era diferente, certamente guardava algum segredo para ganhar, talvez fosse apenas talento nato ou uma habilidade dessas com as que resolvem números na cabeça. Mar conheceu como empresários ambicionavam cargos altos, de CEO, de políticos, burocratas, dominar empresas reconhecidas de comércio, de alimentos, de qualquer ramo.
Após sua própria análise, percebeu que parecia que ajudava a sair na frente àquelas empresas com as quais tinha associação, que ele as havia colocado à tona, que as fez o que eram hoje em dia. Uma vez conseguido, se segurava, não tinha grandes gastos, nem lhe foi atribuído nenhum desastre ou perda imensa.
Mar, deduziu suas respostas; como chegou onde se encontra agora? O que pensa quando toma uma decisão difícil? Gostaria de deixar o mundo da administração de empresas ou continuaria independente de tudo? Se considera um homem de negócios ou isso é apenas um título para o senhor? Entre outras. Tinha pronta suas perguntas, tinha tomado o café da manhã e ainda não chegava a hora do almoço. Ela sabia o que fazia, se encarregava de fazer muito bem. Da mesma forma que aqueles empresários importantes, sabia se conduzir e tinha a sua própria chave para o sucesso.
Juan, como qualquer pai, começou o dia se preparando mentalmente para atender o seu filho. Sem reclamar e alegre, lhe fez o café, aproveitou a manhã ao lado de seu primogênito, lhe arrumou o essencial para o dia... seria o início de uma semana interessante, ficaria um pouco com Samir, aproveitaria as diversões, atrações familiares e, em algum momento desta, daria uma entrevista para uma revista importante.
Passada a rotina matinal, foram ao quintal para brincar, Samir, ia e voltava dando uma volta de bicicleta e, enquanto isso acontecia, Juan pensou; para saber mais sobre o meu sucesso?
Quando voltava, seu pai corria como se tivesse sendo perseguido, ficaria em um lado, para que Samir desse uma volta inteira pelo quintal de sua casa que, de forma igual que aquela, não ficava atrás em tamanho.
O que fiz para ser posto no centro do negócio?
Juan não estava acostumado aos holofotes, às entrevistas, sabia que lhe pediam para trabalhar em empresas, um assessor importante com uma empresa em crescimento e bem fundada.
Com a quantidade necessária de contatos, recursos e conhecimento suficientes para chegar à presidência de um país do qual não fazia parte, pelo que muitos imaginavam que podia ser um político importante.
Mas ele não era assim, sua única preocupação era poder viver ao máximo, aproveitar a vida com seu filho, não ser um homem consumido pelo trabalho, mas também não queria dizer que o deixaria, pelo qual as preparou para ser um dos negócios com uma boa posição sem ter que estar o tempo todo atento a ele.
Sim, ficava noite ou outra resolvendo coisas importantes mas, nunca deixava seu filho de lado. As vantagens de ser o seu próprio chefe o ajudavam a estar com seu filho no escritório ou em suas viagens de negócios.
Muitas vezes, o pequeno lhe dava ideias, ou lhe ajudava com alguma pergunta por acaso a raciocinar, não se poder dizer que a chave de seu sucesso seria a ajuda que seu filho lhe dava com sua compreensão imaginária da vida, mas sim o que fazia por ele, por isso, a maioria das suas decisões, para não dizer todas, tinham o nome do seu filho como título.
Pensando muito bem, ao ver como seu filho dava voltas, respondeu uma das perguntas que acredita que a Srta. Gálvez poderia lhe fazer. A que deve o seu sucesso? Tinha certeza que responderia;
- A meu filho.
Tinha razão, grande parte de seu sucesso era devido ao seu filho, não apenas por sua habilidade como líder nem com os números, tampouco ao que seu pai lhe ensinou dos negócios e de uma carreira e estudos importantes. Isso, de algum modo, era apenas uma pequena fração do que o impulsionava a chegar longe, mas seu filho era sim um grande vento que soprava em suas velas.
Para ele, talvez se comportasse como qualquer outro pai atento que não fazia nada de outro mundo, ou o que não lhe correspondesse, mas sim, era visto como um excelente pai aos olhos de terceiros.
O filho de Juan, seu único filho, era o herdeiro de muitas coisas, como seu pai, Samir um registro de acontecimentos importantes em suas costas, não tinha mais do que 9 anos, pelos quais grande parte de sua vida se centravam em estudar e saber o quanto doía uma queda de sua bicicleta, patinete ou qualquer outro veículo que se mexia que lhe foi comprado.
Sentia-se alegre com seu pai, não conhecia a solidão, sempre estava com ele ou com os seus amigos que, mesmo que não tivessem tantos recursos, tinham entradas aceitáveis de dinheiro que permitiam a eles aproveitar a mesma qualidade de vida que ele. Era uma criança feliz, autodidata, inteligente e divertida. Sabia muita coisa que aprendeu com Juan, que o ensinava tudo o que podia para que estivesse preparado para o mundo e para o que quisesse fazer quando crescesse.
Juan, como sempre, sentia-se orgulhoso de sua maturidade mas, mais do que tudo, de seu filho. Não havia nada no mundo que o fizesse mandar de opinião. Ninguém lhe tiraria o que sentia por ele, o que tinha feito. Era a pessoa mais importante de sua vida, era a única que restava.
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