José, O Grande Servo

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- Este beijo não é para mim e eu sei!

José continuou a viagem e chegou onde o rei se encontrava. Ele se pôs elegante, pegando a roupa que levava guardada em um pacote para não manchá-la no caminho.

Ele se apresentou ao Rei e transmitiu a mensagem. E não lhe dando ouvidos, o Rei disse:

- Está bem! Coma o que quiser e depois volte para sua casa, porque você ainda não tem idade para andar sozinho por estas estradas.

Isso ofendeu José, que respondeu:

- Meu senhor, realmente não tenho idade para fazer isso, somente para escoltar seu cavalheiro e salvar sua vida quando foi necessário e também para servi-los e trazer a mensagem que você estava esperando. Portanto, vou embora para obedecer, mas você não tem razão!

Dizendo isso, ele começou a ir embora, mas o Rei o impediu, surpreso com a resposta e disse:

- Seu nome, qual é?

José disse e o Rei disse a seguir:

- Você tem razão em dizer estas coisas, mas quando um Rei pede que você vá embora, você vai embora e mais nada! Porque o Rei pode ter outros assuntos neste momento que está despachando ou apenas não quer ser importunado. E é privilégio seu ouvir ou dispensar as pessoas e mais nada. Diga-me uma coisa, pois apesar de ter razão, você se mostrou insolente e a juventude tem seus impulsos que costumam ser justos. Você considera que eu não lhe dei a atenção devida já que percorreu um longo caminho para transmitir um recado que poderia ter sido enviado por um criado? Você tem razão, portanto me desculpe. Fique hoje e aproveite as coisas do palácio e amanhã, descansado, vai embora para sua casa.

José ficou pensativo e perguntou:

- Como posso fazer duas coisas diferentes ao mesmo tempo já que o próprio Rei me mandou embora. Se fico, desobedeço. Se vou embora, também desobedeço. Portanto, meu senhor, diga a terceira para ver o que eu tenho de fazer.

O Rei começou a rir de bom grado e disse:

- Pois bem, a terceira é que você se sente aqui - e indicou um lugar ao seu lado.

José obedeceu e encontrou-se sentado ao lado do Rei que perguntou de onde ele era e quem era seu pai. E assim descobriu que José era descendente da casa real, em linha direta e brincando, o Rei disse aos presentes:

- Coma bem, porque você pode ser o pai do MESSIAS e trouxe a boa notícia que não preciso deixar o trono – e dizendo em voz baixa para José, continuou – em segredo te digo que não pretendia fazê-lo senão matar o recém-nascido e assim evitar que surja outro que possa tirá-lo de mim.

José viu que tinha diante de si um assassino e não um Rei, ou melhor dizendo, um Rei assassino pois pretendia matar uma criança sem sequer provar que ela era culpada de alguma coisa. Uma criança cujo único delito era ser filho de uma pessoa e que o ALTÍSSIMO havia abençoado. Ele pensou que precisava sair logo dali ou ficaria doente.

Naquele momento lhe ofereceram uma bebida e pegando o copo, ele o levou à boca. Mas como nunca bebia, ele pensou: - O que eu faço agora? E ocorreu-lhe a solução, que rapidamente colocou em prática. Ele tomou um gole e com ele molhou o Rei que era quem estava ao seu lado e começou a tossir sem parar. O Rei se irritou de tal maneira que, embora José continuasse tossindo, ele gritou:

- Saia da minha vista! Que desajeitado você é que nem sabe beber. Vá para casa e não volte até que não tenham lhe ensinado mais algumas coisas.

Sem parar de tossir e segurando a barriga para não rir ao mesmo tempo, José foi embora correndo entre os risos daqueles que estavam presentes. E assim conseguiu sair daquele aposento e dar ao Rei uma pequena lição de sabedoria e ao mesmo tempo uma pequena repreensão como aquelas empregadas por aqueles que o ALTÍSSIMO tinha por amigos.

Foi assim que o príncipe conheceu o Rei e digamos que o primeiro encontro não foi muito feliz, mas a verdade é que nenhum dos dois sentiu saudades do outro.

Quando o príncipe foi embora, o Rei falou muito mal dele, chamando-o de grosseiro e coisas assim e o príncipe também disse o que quis sobre ele, mas de maneira mais comedida e em voz baixa porque alguém poderia ouvi-lo e ele ainda estava no palácio.

Mas como nunca estivera em nenhum lugar tão luxuoso, ele ficou estupefato e quase se chocou com o chefe da Guarda que ia despachar com o Rei, exatamente na direção oposta que o garoto estava vindo.

Quando o chefe da Guarda tropeçou, ele o agarrou pela camisa com uma mão. E ele realmente muito forte porque deu um empurrão em José que o derrubou com os pés para cima e sem olhar para ele, disse:

- Afaste-se pirralho que está impedindo a passagem!

E José, que não tinha nada de covarde, do chão gritou:

- Claro, como é tão grande pode me atropelar! Mas com certeza quando era do meu tamanho não fazia estas coisas com as outras pessoas.

O chefe da Guarda ficou pregado no chão, virou-se e olhando para ele, perguntou:

- Você sabe quem eu sou?

- Não, senhor! - respondeu José – Mas com certeza o que eu disse é verdade.

- Sou o chefe da Guarda – respondeu o homem - e como sou aquele que mais manda depois do Rei, preciso ter trânsito livre. E você tem realmente razão no que diz. Há muito tempo algo semelhante ao que aconteceu com você aconteceu comigo, mas não me atrevi a tanto como você. Será que os jovens de hoje em dia são mais corajosos ou mais imprudentes? Espere que já volto! Vou falar com o Rei e saio logo – e ele foi embora.

José, que estava assustado, ouviu sua voz interior que disse:

- Não precisa ter cautela porque ele é uma boa pessoa, mas como tem este cargo, precisa se comportar como uma fera senão seus inimigos o devorariam.

Quando o chefe da Guarda saiu, ele disse:

- Venha que quero falar com você! – e ele levou José para sua casa.

Lá, ele chamou sua esposa e filho, que tinha uma idade aproximada a de José e disse o seguinte:

- Vocês têm uma pessoa corajosa diante de si e como aconteceu comigo quando um soldado me derrubou no chão de barriga para cima, eu fiz o mesmo com ele. Naquela ocasião eu não me atrevi a abrir a boca de medo e, no entanto, este menino que tem a mesma idade que você – referindo-se ao seu filho - me jogou isso na cara. E bem jogado, é verdade, que fizesse tal coisa. Portanto, enquanto ele estiver neste lugar, quero que você cuide dele e o trate como um amigo pois pessoas com bom senso e corajosas nem sempre são encontradas e chegam a ser importantes na vida.

O homem os deixou sozinhos e o garoto que não sabia sobre o que falar, perguntou:

- De onde você é? Qual é o seu nome? – e outras preguntas.

José respondeu a todas e também fez perguntas, assim descobriu seu nome e onde ele havia nascido e que sempre tinha de ir como criados atrás do Rei e que o garoto estava cansado de ir de um lugar para o outro atrás do Rei. José disse:

- Diga ao seu pai que você vai passar alguns dias na minha casa e assim poderá descansar um pouco desta vida que você não gosta, mas entenda que seu pai não tem outra escolha além de aguentar ou deixar seu posto para outro. E ele não vai querer fazer isso porque quando se chega a certa altura, é difícil deixar as coisas e ir embora.

O jovem disse ao seu pai, que descobriu quem era o pai de José e onde ele vivia. E por acaso, ele o conhecia há muitos anos.

Ele os deixou partir, aconselhando-os a terem muito cuidado. Eles partiram juntos e note que vendo os dois amigos ao longo da estrada eles pareciam diferentes e o que aconteceu a seguir provou isso.

Eles encontraram algumas pessoas que viajavam a pé em um lugar estreito e José permitiu que eles passassem primeiro, parando o cavalo, mas o outro menino não fez isso e tiveram de esperar que ele passasse e o jovem perguntou a José:

- Por que você permitiu que eles passassem primeiro se você é a pessoa mais importante? Você não precisa fazer isso! Porque se você não os trata com uma mão dura, eles não te respeitam – e ele dizia isso não porque fosse uma pessoa má, mas porque ele foi ensinado assim.

José lembrou-se da árvore jovem que quando se coloca um peso se deforma e disse: Será possível que ele não consiga se endireitar? Vou tentar porque ele me é simpático. E ele perguntou:

- Você reza para o ALTÍSSIMO?

- O que você está dizendo? Isso são coisas de mulheres e sacerdotes para que eu não seja ferido em batalha! Mas quando existe uma guerra muitos morrem, pessoas boas e más. Então me diga, do que adianta fazer isso?

José ficou pensativo e disse:

- No caminho irei lhe mostrar um lugar especial que me deixou fascinado pela sua beleza natural – já pensando que se o jovem falasse com o eremita, ele poderia endireitar a árvore com sua sabedoria.

Eles fizeram um desvio antes de chegarem à casa e passaram pela caverna do eremita. Quando chegaram ao sopé da montanha onde ficava a caverna, José disse:

- Vem, quero te mostrar algo.

O outro protestava e dizia:

- Como uma autoridade sobe as rochas como se fosse um pastorzinho?

Contrariado, ele o seguiu. Quando chegaram onde ficava a entrada da caverna, José gritou e o eremita saiu. José o cumprimentou e disse:

- Lembra-se de mim?

Mas o eremita estava olhando para seu companheiro e disse:

- De você sim, mas tenha cuidado com este que o acompanha pois não é confiável.

Os dois jovens ficaram petrificados com a resposta, mas o eremita continuou:

- Digo isso porque você sabe que eu leio as mentes das pessoas e vejo isso. Pode entrar, olhar e depois ir para sua casa, mas vou dizer que quero que você venha em outra ocasião. Você saberá quando, mas venha sozinho para ficar alguns dias comigo porque temos que conversar muito e demoradamente.

 

Eles entraram na caverna e José estava muito triste por causa das coisas que o eremita disse sobre seu acompanhante, mas logo suas palavras foram confirmadas. Assim que entraram e viram aquelas maravilhas, o jovem exclamou:

- Por que você me trouxe aqui? Um lugar tão escuro, que está tão úmido e cheira tão mal?

José se esforçava, dizendo:

- Mas veja a maravilha que você tem diante dos seus olhos!

- Vamos embora, não me provoque! – respondeu o outro.

E eles saíram da caverna e ao sair José olhou para o eremita que devolveu o olhar, mas nada disse.

Eles seguiram pela estrada e chegaram em casa, mas José já não sabia como mandá-lo de volta para casa porque estava arrependido de tê-lo convidado.

Quando chegou a hora da refeição, as coisas do campo pareceram estranhas para ele e como a maneira de cozinhar era diferente, ele disse em voz alta:

- Que nojo!

E empurrou o prato para um lado e então a solução para seu problema ocorreu a José, que foi falar com sua mãe e disse:

- Não sei como me livrar deste jovem que parecia uma coisa e acontece que não sabe se comportar.

A mãe, que também havia notado isso, respondeu:

- No entanto, é o filho do chefe da Guarda do Rei. Vamos ter de nos contentar com ele até que ele queira ir embora porque pode se incomodar se o mandamos embora.

- Veja o que pensei que podemos fazer – disse José - todos os dias você coloca a mesma comida, aquela que ele não gostou e se ele protesta, você diz que no campo se come o que se colhe e agora está sendo colhido este grão, o que é verdade.

A mãe gostou da artimanha, apesar dela ser sacrificada porque era uma boa cozinheira e poderia ter brilhado diante do convidado.

No dia seguinte, ela colocou a mesma comida e no outro dia também. E o jovem perguntou à mulher:

- Não se come outra coisa?

Ela respondeu o que José havia dito e o jovem perguntou:

- E falta muito para colher? – porque ele observava que todos os dias tinha de comer a mesma coisa.

- O que o ALTÍSSIMO quiser! – respondeu a mulher.

O jovem compreendeu que faltava muito e naquela noite, com o pretexto de que tinha o que fazer em casa, disse que na manhã iria embora e assim o fez.

Quando ele foi embora, a mãe disse:

- Na verdade, já era hora dele ir embora porque se ficasse mais um dia nem eu conseguiria comer mais a comida.

E para variar, ela preparou uma boa refeição para todos os presentes que celebraram que o jovem tivesse ido embora.

O jovem quando chegou na casa do seu pai, disse:

- A família é muito simpática, mas você precisa fazer alguma coisa por eles porque só tem para comer o que colhem do campo - e contou o que havia acontecido. – Peço que você fale com o Rei sobre eles, já que sendo da família real, ele pode mandar um pouco de dinheiro para que possam variar um pouco a comida - e explicou tudo com detalhes, acrescentando: - Tenho certeza de que alguém ficou sem comer para que eu comesse!

O pai falou com o Rei, que disse:

- Não fazia ideia de tal coisa. Há anos não me relaciono com eles e a renda deles, pelo que você me diz, tem de ser escassa. Portanto, fale com o Ministro da Fazenda e que seja dado a eles o necessário para que viviam de acordo com sua condição.

Assim, por causa da artimanha de um jovem para expulsar outro, seu pai encontrou-se com o Ministro da Fazenda em sua casa dizendo que havia sido enviado pelo chefe da Guarda.

Quando José ficou sabendo, saiu correndo para a cozinha para falar com sua mãe e disse:

- Você tem de colocar aquela comida que colocou quando o jovem esteve aqui - comida que não voltaram a repetir - e não deixe de colocá-la até que este homem tenha ido embora.

A mãe que confiava no bom senso do seu filho fez o que ele pedia.

Assim, quando foram comer, ela colocou a mesma comida e no dia seguinte também. Quando terminaram, o pai se levantou da mesa e encolerizado foi até a cozinha e disse:

- Você também quer que ele vá embora?

E José que estava ali com sua mãe, respondeu:

- Meu senhor, com certeza ele vem comprovar o que o jovem contou e se você lhe der uma boa refeição, ele vai descobrir o truque.

O pai achando que ele tinha razão, permitiu que eles fizessem isso.

No terceiro dia, repetiu-se a mesma comida e o comensal que não saía do seu assombro disse em voz alta:

- Eu sabia que vocês comiam todos os dias a mesma comida, mas foi-me dito que era porque a colheita estava sendo feita, mas a colheita já terminou há muito tempo e isso não é colhido agora.

José que estava comendo com eles e antes que seu pai pudesse falar, disse:

- Meu senhor, perdoe que eu responda em vez do meu pai, mas você vai ver que ele tem vergonha. Esta comida é a melhor que temos da colheita que agora se colhe e tínhamos para comer quando a colheita anterior acabou, mas amanhã terá mudado ao seu gosto.

- Isso espero porque não há quem consiga comer isso! – disse o homem.

À tarde, José foi para o campo com os criados para ver o que estava sendo colhido naquele momento e não encontraram nada no campo porque o calor já estava bem intenso e ele se questionou: - O que digo agora para o comensal? Mas sua voz interior disse:

- Olhe bem para o campo porque tem muitas coisas que podem ser comidas – e olhando ao redor viu alguns ratos do campo que havia por ali, ervas e algumas favas. No entanto, ele nunca havia comido nada daquilo e disse aos criados:

- Digam-me, de tudo que vemos, o que é comestível.

- Meu senhor, os ratos são muito bons, embora nunca estiveram em sua mesa e as favas são amargas, mas como prato também se come, e dos cactos se faz um licor, embora com um sabor especial – eles responderam.

- Recolham tudo o que temos que possamos colocar em bom banquete para o homem do Rei - disse José e assim eles fizeram. Ele acrescentou: - Vejam o que vamos fazer. Como não podemos entrar com tudo isso na cozinha para prepará-lo, preparem isso como vocês sabem e depois sirvam como se viesse da cozinha.

Assim eles fizeram e José foi correndo fazer a oração ao ALTÍSSIMO e na oração de todos os dias, acrescentou:

- E dá também aos seus filhos bons alimentos para comer – enquanto pensava que se não resolvesse isso, ficaria com as costas doloridas.

Chegou a hora de comer e os pais estavam com muito medo de ver o que seu filho havia trazido já que ele guardava grande mistério pois havia dito que cuidaria da cozinha naquele dia e os criados, da comida. E não queria que ninguém trabalhasse nela.

Na hora de comer, colocaram na mesa um prato de favas amargas que ele não gostou, mas não disse nada. No entanto, José havia garantido que eles iriam gostar e para isso os deixou sem comer o dia inteiro. Assim quando a comida foi colocada diante deles, eles estavam com tanta fome que tudo parecia bom. O convidado observava como os outros comiam.

Depois chegou a vez da carne e todos comeram dela, menos o convidado. Quando terminaram de comer, ele perguntou:

- De que animal era a carne porque tem um sabor um tão estranho que não consigo saber se é cabrito, mas certamente é um animal pequeno.

José, adiantando-se ao seu pai, respondeu:

- Meu senhor, eu lhe asseguro que é tudo o que cresce no campo neste momento. Quando terminar de comer, eu o levarei até a cozinha para que veja.

E, naquele dia, no lugar de vinho serviram suco de cacto. O pai de José experimentou, fingindo beber, mas sem consumi-lo enquanto dizia para si mesmo: - Assim que o convidado for embora, acertarei as contas com você! Irei contar suas costelas. Veja o que você nos serviu para beber em vez de pegar o melhor vinho que temos. E ele olhava de soslaio para seu filho, mas nada dizia observando que os demais estavam bem orientados e diziam que tudo estava muito bom.

Encerrada a refeição, o homem se levantou e pediu a José que lhe mostrasse a cozinha porque queria saber de onde eles haviam pego a comida, pensando que seria de algum campo plantado especialmente. José o levou até a cozinha que estava vazia e limpa. O homem estranhou e perguntou:

- Como é possível que não haja nada na cozinha de comer? Mostre-me de onde os alimentos saíram!

- Meu senhor, venha comigo! - disse José. E ele o levou até o campo e disse: - Veja, o primeiro prato! – e mostrou as favas. – Veja a carne! – e mostrou-lhe os ratos – E esta é a bebida! – e mostrou-lhe o cacto.

O homem vendo aquilo ficou assombrado com o que via e disse:

- Vim com uma missão que resistia cumprir porque vossa pobreza chegou aos ouvidos do Rei. Trago grandes bens para a família, mas o Rei e eu concordamos que primeiro deveríamos ver se tudo era verdade, porque as referências que tínhamos eram pouco confiáveis. Mas eu vi e verifiquei tudo que me foi encarregado. Amanhã começarão a chegar algumas carroças carregadas com um bom vinho e outras provisões para passar o inverno. Além disso, o Rei envia uma renda que vocês recolherão todos os anos e retira todos os impostos. Além disso, ele quer que todo o mobiliário que eu vi seja renovado que, embora não esteja mal, não é novo. Ele vai pagar por tudo. Da minha parte, irei dar a vocês uma renda particular que, embora não seja muita, poderá ajudar porque não se pode consentir que a família real tenha de viver nestas condições. Mas como seu pai é um homem de honra e eu não quero ofendê-lo, eu imploro que me desculpe diante dele e que explique tudo o que eu disse quando tiver ido embora.

Em pouco tempo, o homem foi embora e quando José explicou ao seu pai o que ele havia dito, seu pai não saía do seu espanto. E pegando uma correia, disse ao seu filho:

- Agora você vai ver. Você me deixou no ridículo! Como eu me apresento agora na corte? Porque eu costumava ir uma ou duas vezes por ano.

E ele tentou pegar José, que dando um passo para trás para que ele não conseguisse, disse:

- Meu senhor, espere e pense um pouco sobre o que você ganhou e verá que cresceu diante do próprio Rei e das pessoas importantes porque eles estarão pensando que apesar da maneira como vivemos não deixamos de pagar os impostos e isso cairá bem para sua fama de homem de honra.

Isso fez seu pai pensar, que se conteve e disse:

- Vamos ver o que vai acontecer! – e deixou a correia de lado.

As carroças levaram dois dias para chegar, mas quando o fizeram, traziam tal quantidade de alimentos e móveis que parecia que tinham de mobiliar um palácio inteiro.

Além disso, chegou um homem escoltado por cinco soldados que traziam uma arca com dinheiro. Ele se apresentou, dizendo ser um emissário do Ministro da Fazenda e trazer a arca como um presente para o jovem que o serviu. E todos ficaram muito contentes.

Quando terminaram de levar tudo, José se apresentou diante do seu pai e disse:

- Pai, isso não é justo! É como se estas coisas tivessem caído do céu e nós ficamos com elas e não compartilhamos com aqueles tem menos.

E tanto insistiu que seu pai após protestar, disse:

- Eu te dou três dias para que chame os mais necessitados para que venham pegar o que puderem, depois deste tempo ninguém levará nada. Mas se você der alguma coisa para alguém que não seja necessitado, eu te darei uma surra que os ossos das suas costelas doerão por uma temporada.

José se viu em um dilema. Por ter um coração bom estava em uma situação que não sabia o que fazer e sua voz interior lhe disse:

- Vá ao eremita e peça um conselho. Ele saberá o que fazer.

No dia seguinte ele partiu e ao fazê-lo, disse ao seu pai:

- Já pode começar a contar!

Quando chegou onde o eremita estava, contou tudo o que havia acontecido e o homem riu e disse:

- Não queria que o ALTÍSSIMO o ajudasse? Pois veja quão bem ELE o ajudou! Agora você tem tudo de sobra e por isso tem um problema, mas venha que vamos pedir ajuda novamente.

E ambos entraram na caverna e o eremita o levou a um lugar onde orar e ambos se ajoelharam com a cabeça no chão e ouviu-se:

- Oh, ALTÍSSIMO que conhece o coração dos seres humanos nos dê a solução para este problema, de tal maneira que o maior número de pessoas possa se beneficiar de tudo o que nos foi dado, mas apenas aquelas que sejam dignas disso.

E José ouviu em sua mente a voz que disse:

- José, meu servo, estou muito satisfeito com você e irei ajudá-lo, portanto ouça o que você precisa fazer. Dentro de um dia, você viajará em uma direção e a todos que encontrar dirá para se apresentarem em sua casa que seu pai irá ajudá-los. E depois faça o mesmo em outra direção e diga que se apressem porque está terminando o que há para ser distribuído. E eles se apressarão mais do que os primeiros e assim chegarão quase ao mesmo tempo.

 

José agradeceu ao ALTÍSSIMO e assim disse:

- Oh, ALTÍSSIMO que quero servi-LO, me diga qual caminho preciso escolher para fazer isso.

E a voz surgiu outra vez em seu pensamento e disse:

- Você tem ao seu lado o homem que irá lhe dizer e quando tiver de procurar uma profissão, lembre-se dos velhos que você encontrou.

Nada mais se ouviu. Ele se levantou e disse ao eremita:

- O ALTÍSSIMO falou comigo. Vou embora correndo fazer Sua Vontade.

- Acho muito bom que se apresse para fazer a vontade do ALTÍSSIMO – respondeu o eremita – mas não comece a correr agora para que não aconteça com você o que aconteceu com o cavalheiro. Desça a montanha primeiro e depois, quando estiver na estrada, comece a correr.

José se despediu dele e começou a descer tão devagar que deu um tropeção que quase acaba como o cavalheiro. E o eremita, vendo o tropeção lá de cima, disse: - Como você sobe muitas vezes, vou ter de procurar algo para curar seus ferimentos porque é óbvio que você vai acabar com a cabeça quebrada.

José partiu e fez tudo que lhe foi ordenado. E foi assim que começaram a chegar à casa do seu pai muitas pessoas que foram alimentadas. Algumas também receberam roupas e móveis. E continuaram chegando até o ponto em que o pai disse:

- Já chega! Porque demos mais do que recebemos e não quero que agora, por fazer caridade, me encontre precisamente na miséria e se torne realidade o que foi dito ao homem do Rei.

Alguns dias depois, enquanto estavam comendo, o pai de José perguntou:

- Que comida era aquela que você nos deu? Que não estava tão mal, mas a única coisa que não consegui engolir foi aquele licor que você nos serviu.

- Meu senhor e meu pai - respondeu José – se conto, o que você está comendo irá fazê-lo se sentir mal. É melhor respondê-lo hoje à tarde, depois da sesta.

E diante da insistência do pai, José voltou a dizer:

- Meu senhor e pai, não é prudente dizê-lo agora.

E seu pai se encheu de raiva e levantando-se, disse:

- Quando você me chama de meu senhor e pai é que algo está errado. Diga agora, de uma vez por todas porque eu estou mandando!

- Bem, meu senhor e pai - disse José que se afastava dissimuladamente – não havia outra coisa que não fosse do campo e para que sua honra não fosse maculada com uma mentira, tive de pegar o que surgiu na minha frente. E como não conheço nada sobre o campo, levei dois dos seus criados que foram criados no campo e que não tem segredo para eles. Eles me aconselharam a pegar tudo o que via e eu segui seu conselho. E tirando o licor, que saiu muito ruim, o resto não esteve tão mal.

O pai, segurando sua mão, disse:

- Sim, concordo com você, mas me diga mais uma coisa porque deve haver algo mais para seu corpo sentir tanto medo e você querer se posicionar para sair correndo.

José, que se viu preso, pensou: - É a hora de se portar como um homem! E ele respondeu:

- Meu pai, existe mais alguma coisa, mas é melhor me segurar com mais força porque você vai precisar das duas mãos – o pai não deu ouvidos a isso e José continuou – A carne que foi servida era de ratos do campo.

O pai levou ambas as mãos à boca, por causa de uma ânsia de vômito. E o rapaz que se viu livre, saiu correndo e o pai saiu atrás dele e mandou que os criados o pegassem porque queria lhe dar uma surra.

Ao longe, ele foi pego por um daqueles que o acompanharam e José disse:

- Essa é boa! Você me segura em vez de correr porque ele quer bater naqueles que se envolveram com a comida do outro dia.

E o outro que havia entendido muito bem, respondeu:

- Meu senhor, é melhor que batam em você porque assim deixam de bater em mim.

José vendo que seu pai se aproximava, disse:

- Não pense nisso. Mas se o filho recebe alguns golpes que não serão dados ao criado, então ele receberá uma dose dupla, primeiro da parte do pai e depois da parte do filho.

O criado, que era esperto, disse:

- Meu senhor, você tem razão! Por isso dizem que você é inteligente. Vá correndo e não fique na minha frente porque não quero atropelá-lo.

E eles correram juntos vendo quem chegava primeiro à saída da casa que dava para o campo.

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