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Memoria hydrografica das ilhas de Cabo Verde

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Querem vêr todos estes perigos desvanecidos, vão demandar a Ilha do Sal pela banda do Norte, e se as correntes, e outros obstaculos, que se encontrão nestas, e outras navegações, tiverem deitado o Navio para Oeste do Meridiano da Ilha do Sal, elle necessariamente irá encontrar com a Ilha de S. Nicoláo, ou com: a de S. Luzia, se navegar por maior Latitude. Em quanto ao erro da Latitude, bem se vê que as quatro Ilhas de S. Nicoláo, S. Luzia, S. Vicente, S. Antão, occupão hum intervallo de Latitude, que não póde ser varado por falta de dois, ou ainda mais dias de Sol. Por esta derrota até não he necessaria tanta segurança para Leste: por outra razão, a Ilha do Sal he livre de perigos, quando a da Boavista he perigosissima. Ora quem negar que este modo de navegar não he mais seguro, e mais breve, tambem nega, que 3 e mais 2 não fazem 5, e não he muito que negue a existencia das Ilhas de Anadias, que ficão lá no cabo do Mundo.

Por esta derrota vai hum Navio directamente para todas as Ilhas de Barlavento, e destas para as de Sotavento. Supponhamos por exemplo, que sahia hum Navio de Lisboa para as Ilhas de Cabo Verde, e que levava destino para ir a S. Nicoláo; que fazia este Navio em ir demandar a Ilha da Boavista? fazia huma viagem maior, e de mais perigo. E não obstante vêr-se na Carta, que o rumo da Boavista para S. Nicoláo seria a uma larga com Vento NE. ou NNE. não succede assim; porque he necessario attender a hum angulo de 4, ou 5 rumos para o Norte, a fim de compensar a velocidade da corrente, que vai para Oeste. As viagens por entre estas Ilhas bem mostrão o quanto he perigoso sotaventíallas, pois das Ilhas de Barlavento para as de Sotavento, a viagem he pouco mais, ou menos de vinte e quatro horas; porém destas para as de Barlavento, se gastão muitas vezes 12, 15, 18 dias com muito trabalho, e desassocego.

Por outra parte, a Ilha do Sal he livre de baixos, quando a da Boavista he cercada delles, como já tenho dito: nella se tem perdido varios Navios desgraçadamente: no anno antecedente ao da primeira viagem, que fiz para estas Ilhas, se perdeo nos baixos desta Ilha, vindo-a demandar segundo a derrota de Mr. d'Aprés, hum importante Navio Inglez da Companhia das Indias, que hia para a Asia, morreo a maior parte da gente, e se perdeo todo o Navio, carga, e mais de hum milhão de patacas; além deste ouvi fallar na perdição de outros, cujas épocas não erão muito antigas.

A respeito da derrota, que seguio Fleurieu, não me serve de exemplo, pois elle não foi de Rochefort, em direitura ás Ilhas de Cabo Verde, mas sim da Ilha Goréa na Costa da Africa, para a Villa da Praia; e foi demandar a Ilha do Maio.

Outro tanto direi de Mr. Verdum, porque fez a mesma viagem, e tambem foi demandar a Ilha do Maio.

Em conclusão, quer o Leitor vêr hum facto bem remarcavel, que authorisa os meus raciocinios, e que decisivamente reprova a derrota de d'Aprés, em mandar procurar a Ilha da Boavista, como tambem a daquelles, que vindo do Norte procurão a Ilha do Maio.

Torno a dizer, a Ilha da Boavista não deve jámais ser demandada, porque ella hia sacrificando nas suas ruinas o Principe dos Navegadores.

Sim, amigo Leitor, Cook o mais habil, o mais célebre, em fim o mais feliz dos Navegadores Inglezes, e de todas as Nações do Mundo, alli hia sendo victima dos rochedos, que cercão esta Ilha pela banda de Leste.

Na terceira viagem deste immortal Navegador, Tomo I. Capitulo III. se vê o que agora vou a descrever.

«Aos 10 de Agosto de 1776, ás nove horas da noite vimos a Ilha da Boavista demorando ao Sul, e a pouco mais de huma legoa: nós pensavamos estar muito mais longe, porém então reconhecemos o nosso engano. Tendo virado a Rumo de Leste até á meia noite, a fim de montar os baixos, que cercão a Ilha pela parte do Sueste, e que deitão huma legoa pouco mais, ou menos para o mar, nos achámos tão perto delles, que viamos encapellar o mar sobre os recifes. A nossa situação foi por alguns minutos consternavel: eu não achei acertado sondar, porque esta operação faria augmentar o perigo, sem usar primeiro dos meios de nos affastarmos, &c.»