Ligação De Sangue (Ligação De Sangue – Livro 5)

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Fez uma pausa de alguns segundos antes de se inclinar na direção do ecrã. “Tens gente à tua porta.”

O vídeo perdeu a ligação subitamente, deixando Ren a olhar para o ecrã com ar surpreso. Uma batida forte na porta fê-lo olhar para a entrada e depois de volta para o ecrã vazio.

“Detesto quando ele faz isto.” Ren resmungou e levantou-se da cadeira, pegando nos óculos de sol para esconder os olhos.

Passando pelas portas duplas abertas que levavam ao hall de entrada, Ren abriu a porta e fitou os seus visitantes, que viriam a ser os seus colegas de casa.

Zachary sorria enquanto olhava para o homem do outro lado da entrada. “É bom finalmente conhecer o verdadeiro ‘ás na manga’ de que o Storm fala desde que o conheço.”

Ren rangeu os dentes, mas aceitou a mão estendida de Zachary e acenou a Angelica antes de se afastar para o lado para os deixar entrar. Conhecia todas as caras do elenco da PIT e quais eram os seus dons. Tinha feito questão de memorizar os perfis de todos os membros da PIT pouco depois de Storm o ter acolhido.

Storm tinha adicionado notas à versão bloqueada dos perfis, que Ren transferira mentalmente também. Storm tinha razão – provavelmente sabia mais sobre eles do que eles sabiam sobre eles próprios.

Zachary era um miúdo meio rebelde, com o que Storm tinha descrito como uma dupla personalidade – num minuto, Zachary estava a brincar e no seguinte já era capaz de ser tão mortífero como uma cobra assanhada. Tinha visto notícias sobre o incêndio que destruíra a casa de um barão da máfia há uns tempos atrás e toda a situação tinha o nome da PIT, mais especificamente do Zachary, muito bem estampado. Na manhã seguinte, Zachary submetera o relatório no sistema da PIT e confirmara as suspeitas de Ren.

O poder de Angelica era um pouco mais complicado, sendo capaz de matar demónios usando a magia com que tinha nascido. Uma vez, Storm referira-se a ela como ‘a chave’, mas nunca disse o que é que ela abria.

O ficheiro dela era o maior de todos, como se Storm tivesse documentado todos os movimentos dela desde a nascença. Ren não percebia porquê, mas de momento também não queria saber. Sem uma palavra, fechou a porta e dirigiu-se à divisão que servia de escritório. De alguma forma sabia que o iriam seguir.

“Então…” – disse Zachary ao fim de menos de um minuto de silêncio incómodo – “Gostas de viver aqui sozinho?”

“Não” – disse Ren. “Tenho novos colegas de casa.”

Angelica esboçou um sorriso ao ver a expressão perplexa que surgiu no rosto de Zachary. “Acho que ele está a tentar quebrar o gelo.”

“Não está a correr muito bem” – respondeu Ren, sentindo-se já apertado.

“Eu sei” – admitiu Angelica. Reconhecia um tipo solitário quando o via.

Zachary dirigiu um olhar de gozo a Angelica. “Ei, era suposto estares do meu lado.”

“Porquê?” Angelica riu. “Acredites ou não, alguns de nós podem passar dias de boca fechada. Já tu… É uma grande sorte passar dois segundos sem te ouvir a tagarelar sobre qualquer coisa.”

“Também sei ficar calado!” Zachary exclamou. “Vais ver!”

Zachary começou então a esticar-se no sofá e cruzou os braços sobre o peito, com os lábios comprimidos numa linha fina. Angelica revirou os olhos antes de se levantar para ver melhor o sistema informático que Storm tinha criado.

Ren observou-a de perto, pronto para responder a quaisquer questões que ela pudesse ter e olhou de relance para Zachary. Por algum motivo, o outro homem tinha encontrado algo muito fascinante nos botões da sua camisa. Ren fez uma contagem mental de cinco para um antes de ocorrer a inevitável explosão.

“GAH!” Zachary gritou. “Não aguento isto.”

Ren riu-se, fazendo com que Angelica e Zachary olhassem para ele com surpresa. Não durou muito e Ren passou a mão pelo cabelo antes de receber os outros. “Estejam à vontade para explorar o castelo, há imensos quartos.” – disse ele assim que os vestígios de humor desapareceram do seu rosto.

Angelica acenou – “Vou buscar a minha mala.”

Quando ela saiu, Ren olhou para Zachary e deu por si frente a frente com o outro lado da sua personalidade borbulhante. “Estou curioso. Quais são os teus poderes?”

“O teu” – Ren esboçou um sorriso afetado – “e o da Angelica e o de qualquer pessoa que estiver ao alcance do meu súcubo.”

Zachary virou a palma da mão para cima e abriu-a, visivelmente satisfeito por ainda ter os seus poderes.

“Eu não disse que retirava o teu poder” – Ren encolheu os ombros, recusando-se a fazer truques de cortesia para demonstrar o que estava a dizer. Fixou o olhar nos olhos de Zach e viu o homem perturbado por trás da máscara. “Ao aproximares-te de mim, estás a dar-me o mesmo poder” – afirmou ele para ser mais claro.

“Eu tomo conta da Angelica enquanto ela estiver aqui” – anunciou Zach do nada.

“Eu não sou ama de ninguém, podes tomar conta de toda a gente que aparecer” – corrigiu Ren. “Não é esse o meu trabalho.”

Zach acenou como se tivesse acabado de ganhar uma guerra de estratégia – "Eu sei que o Storm está a reunir um exército."

Ren assentiu – “Sim.”

“Ele vai precisar” – Zach esfregou as mãos nas pernas e levantou-se. “Quem mais é que ele chamou para isto?”

“Tanto quanto sei, quase toda a gente” – respondeu Ren. “Mas há alguns que ele não conseguiu localizar.”

“Há alguma coisa que eu possa fazer para ajudar?” Perguntou Zach.

Ren fez um gesto com a cabeça na direção do computador. – “Encontra aqueles que o Storm não conseguiu encontrar. Ele fez uma lista de todos os que ainda estão desaparecidos em combate.”

Zach sorriu e caminhou na direção do computador. “Vejamos quem é que o todo poderoso não encontrou.”

Ren observou, completamente fascinado com a sua total mudança de atitude. Não sabia de que lado gostava mais – mas sabia em qual é que confiava mais.

Capítulo 4

Angelica deitou-se na cama com um par de almofadas apoiadas contra a cabeceira da cama para tentar evitar dormir, o seu novo passatempo favorito. Assim que voltou para dentro com a sua mala, percebeu que Zachary tinha ligado o interruptor com Ren, pois este estava sentado no sofá a observá-lo. Zachary tinha-lhe dito para escolher um quarto e dormir um pouco, por isso ela tinha alegremente fingido fazê-lo.

Tinha percorrido os longos corredores durante alguns momentos antes de escolher aleatoriamente uma porta e abri-la. Ao ver o interior, sorriu e pousou a sua mala na cama. O quarto estava decorado em tons de roxo com detalhes dourados e em tons mais claros de lavanda.

A cama era enorme, provavelmente de tamanho imperial, com um belo dossel, almofadas decorativas em tons de dourado e lilás e um edredom. Os lençóis e as fronhas eram em tom de lavanda e quase que se riu das pequenas borlas douradas nos cantos das almofadas.

Havia um grande armário no lado oposto do quarto. Quando o abriu, esperava vê-lo repleto de vestidos de baile antiquados. Para sua desilusão, estava vazio. Na parede oposta à da cama, havia um antigo toucador com um espelho enorme.

Junto à cama, havia uma escrivaninha com algumas canetas e uma pilha de papel, juntamente com uma nota a informar que a porta de dados para o seu portátil estava junto à parede por baixo da secretária. Angelica quase se rira ao ler isto e dobrou-se para espreitar. Viu logo o ponto de acesso e imediatamente retirou o seu portátil e ligou-o.

Da sua posição preguiçosa na cama, tinha uma vista perfeita através das portas da varanda para o luar refletido no oceano. Sorriu, pois era uma varanda mesmo fantástica.

A maioria das pessoas que a conhecia acharia que ela não era dada a essas coisas femininas. Mas todas as meninas têm a fantasia de serem princesas num castelo e ela não era exceção. Até costumava fingir que era a Cinderela ou a Bela Adormecida, esperando que o seu príncipe chegasse e a levasse para longe.

Era uma pena que já não acreditasse na teoria de um cavaleiro com armadura reluzente que a viesse salvar dos demónios maus que rodeavam o castelo.

Com um suspiro, Angelica olhou novamente para o seu desenho e esboçou mais algumas linhas antes de pousar o lápis na mesa de cabeceira ao lado da cama. Com ele pousado no colo, levantou a mão e estudou a sua palma onde o símbolo estava impresso. Não era uma queimadura ou uma tatuagem de qualquer tipo, estava simplesmente ali.

Voltando a pegar no papel, olhou para a imagem que tinha desenhado de Syn e adicionou o símbolo no canto inferior direito da página. Piscou o olho quando a imagem começou a ficar desfocada e voltou a pousá-la no colo, fechando os olhos por um momento só para que parassem de arder.

Syn apareceu ao lado da cama de Angelica assim que ela adormeceu. Entrara silenciosamente no castelo e na cidade, tocando as mentes de toda a gente com quem ela tinha interagido. Precisava de obter conhecimento sobre a vida dela para saber exatamente com que é que estava a lidar. Até agora, a informação mais interessante que obtivera tinha sido da mente de Zachary.

O homem loiro era mordaz como um chicote, mas ocultava esse aspeto sob várias camadas. Também tinha os seus próprios poderes como híbrido. Zachary tinha sido nomeado como seu protetor e levava a tarefa muito a sério. Syn sabia que Zachary teria de ultrapassar rapidamente a sua paixoneta por Angelica, ela não pertencia ao híbrido.

Zachary lera o dossier dela nos arquivos da PIT, que a acompanhara desde o nascimento até aos dias de hoje. Os detalhes eram muito rigorosos e ao retirar essa informação da mente de Zachary, Syn ficara a saber que havia várias pessoas do passado dela, mais precisamente da sua infância, que mais tarde tiveram um destino muito desconfortável.

Syn prometera silenciosamente que os eliminaria da existência sem o conhecimento dela. Ela nunca mais conheceria a dor da rejeição ou de qualquer tipo de violação.

 

Syn observara, através dos olhos de Zachary, as memórias de Angelica a combater os monstros deste mundo e sabia que tinha sido por mera sorte que ela ainda estava viva. Ele tinha a certeza de que ela também sabia disso, embora, com a sua interessante perspetiva sobre o mundo, ela nunca o admitisse. O seu olhar deslizou até aos lábios dela, sabendo a verdadeira razão pela qual tinha vindo ter com ela esta noite.

Dobrando-se sobre ela, Syn apoiou suavemente as mãos na almofada de cada lado da sua cabeça e deixou os seus lábios pairarem de forma provocadora perto dos dela. Quando ela inspirou profundamente no seu sono, os lábios dele separaram-se e ele soprou levemente. Ele observou os fios prateados de energia a fluir dos seus lábios para os dela. Era a sua promessa: o presente de um deus-sol para conceder o sopro de vida à sua alma gémea para sua proteção. A partir de agora, qualquer lesão que ela sofresse seria curada tão rapidamente quanto surgia e ela deixaria de envelhecer.

Voltou a erguer-se e admirou-a com um olhar enternecido. Os seus cabelos louros escuros escorriam pelas almofadas, refletindo a luz suave do quarto. O brocado rico das almofadas fê-lo lembrar de quando a observou pela última vez a dormir na cama deles, no seu mundo de origem.

A palma da mão direita dela estava virada para cima, revelando a marca que ele lá tinha colocado. Já tinha começado a cumprir a sua função, despertando os poderes dela, e em breve o seu desejo por ele surgiria também.

Tentou mais uma vez ler-lhe a mente, mas a capacidade dela de o bloquear era tão forte nesta vida como tinha sido na vida passada. Deu por si cheio de ciúmes sabendo que Zachary podia ler a mente dela e ele não conseguia. Pensou um pouco nisso, mas chegou à conclusão de que isso tinha a ver com uma questão de confiança. Ela confiava em Zachary o suficiente para baixar a sua guarda perto dele. Ele planeava conquistar a mesma quantidade de confiança.

Se ela alguma vez lhe ensinou alguma coisa, foi que deveria ter uma quantidade obscena de paciência, coisa que ultimamente se apercebera que quase não tinha. Neste momento, os escudos mentais dela estavam altos, mas ele estava ansioso por ultrapassá-los e convencê-la a deixá-lo entrar outra vez. Agora que ela estava protegida pelo seu poder, teria todo o tempo que precisava.

Syn sentou-se na beira da cama e pegou no caderno para ver em que é que ela tinha estado a trabalhar. Uma sensação intensa de calma apoderou-se dele quando viu a sua imagem detalhada no papel. Ela já estava a chamar por ele e nem sabia.

Angelica sentiu movimento ao seu lado e abriu os olhos pensando que era Zachary. Só mesmo ele teria a lata de entrar no quarto dela enquanto ela dormia.

Piscou os olhos ao ver o homem de cabelo escuro que tinha acabado de desenhar, sentado na beira da sua cama a segurar no desenho que tinha feito. Angelica agiu por instinto, atirando-se na direção dele com a palma esticada para a frente para o exorcizar, como faria com qualquer outro demónio.

“Olá, esposa” – Syn agarrou-lhe no pulso, sem levantar os olhos do desenho, e terminou de o examinar antes de erguer o seu olhar de ametista escuro para encontrar o dela.

Angelica fixou a posição do cotovelo, tornando o seu braço tenso. Ela ergueu uma sobrancelha de forma elegante, decidindo ignorar o comentário da esposa. Os demónios tinham delírios.

Syn puxou-a abruptamente contra si, até ficarem apenas a poucos centímetros de distância, muito perto, mas sem se tocarem. Sem nunca baixar os olhos, ele levou a palma da mão dela até aos seus lábios e beijou o símbolo, que começou subitamente a brilhar.

Angelica parou de respirar durante alguns segundos. Sentiu que ele a tinha deixado em chamas com um movimento tão simples e sedutor.

“És um demónio muito estúpido” – tentou dizer, tentando afastar a sensação dos seus lábios da palma da sua mão.

“Não sou um demónio” – informou Syn. “E a tua magia nunca há de funcionar em mim.” Ele soltou o pulso dela quando o braço dela relaxou.

Angelica puxou lentamente a mão de volta. “Só porque tu o dizes não quer dizer que seja verdade.” Ela agarrou no pulso com a própria mão, tentando desfazer a sensação do toque quente dele. “Quem és tu?”

“Podes chamar-me Syn.”

Angelica sentiu arrepios de frio percorrer-lhe a coluna ao pensar nas implicações do nome. Já conseguia antever muitas formas pelas quais esse nome lhe assentava bem. “Muito bem, Syn, porque estás aqui?”

“No teu sonho…ou na tua cama?” Syn fez a pergunta com o espetro de um sorriso a acariciar os seus lábios perfeitos.

Sim, estava certa. Ele era completamente pecaminoso. Lembrando-se que todos os seus outros sonhos tinham sido pesadelos, Angelica olhou lentamente à volta do quarto e depois de novo para ele. “Não estou a sonhar… Senti-te a tocar-me....eu....senti os teus lábios tocarem na minha mão.”

“Só porque estás a sonhar, não significa que não seja real.” Syn troçava de forma charmosa da sua afirmação anterior.

O olhar de Angelica estreitou-se quando ele arrancou o desenho que ela tinha feito do seu bloco. Enrolou-o cuidadosamente, em vez de o dobrar, e colocou-o dentro de um bolso fundo no forro interior da sua gabardine. Ela não pôde evitar observar o movimento das mãos dele. Pareciam tão suaves e puras, como os livros de história descreviam as mãos da realeza. Finalmente, ela olhou de novo para o rosto dele e franziu as sobrancelhas ao ver indícios de um sorriso.

“Porque é que estás aqui afinal?” – exigiu ela saber.

“Para manter os pesadelos afastados enquanto dormes” – respondeu Syn e inclinou-se contra o poste da cama atrás dele. “Descansa esta noite, Angelica, não vais ter pesadelos nem demónios a assombrar-te o sono.”

Angelica sentou-se na cama, com o sol já a entrar pela janela da varanda. Já era de manhã. Olhando para o fundo da cama, inclinou-se para a frente e pousou a mão no sítio onde Syn tinha estado sentado. Não havia sinal de que ele tinha estado ali e Angelica respirou fundo. Afinal tinha mesmo sido um sonho.

Lançando as pernas para o lado da cama, levantou-se e ouviu algo a cair para o chão. Pegou no seu bloco e ia fechá-lo, mas depois parou ao lembrar-se do sonho.

Voltando a abrir o bloco, folheou as páginas e parou quando viu que o desenho que tinha feito na noite passada tinha desaparecido. No seu lugar, estava um bonito desenho a lápis dela a dormir naquela mesma cama. Tinha sido feito com os mesmos detalhes suaves com que ela fizera o dele. Na imagem, a mão dela estava relaxada junto ao rosto e ela reparou no símbolo lá desenhado. Sob o desenho, estava o nome ‘Syn’ escrito numa elegante caligrafia.

*****

Tabatha estacionou o carro no lugar de estacionamento VIP do Moon Dance e saiu. Ajustando o seu vestido curto, enfiou as chaves na pequena carteira e aproximou-se da porta da frente. Estava farta de se esconder naquele apartamento solitário, à espera para ver se Kriss iria alguma vez voltar para casa. Ver a excitação da multidão já estava a fazê-la sentir-se um pouco melhor.

Nick sorriu ao vê-la chegar e abriu o cordão para a deixar passar à frente de toda a gente que esperava pela admissão. Não o fazia por ela ser a melhor amiga do companheiro do irmão. Fazia-o porque sem Tabatha não teriam encontrado Micah a tempo de o salvar.

O seu olhar fixou-se no ombro exposto dela. Da última vez que a vira, aquele ombro tinha sofrido um ferimento bastante mau, mas agora não tinha uma única marca disso. Parecia que alguma fada curadora tinha passado pela cidade, porque o mesmo tinha acontecido aos ferimentos de Micah.

“Como estás esta noite?” – perguntou ele com curiosidade, ao ver uma ponta de tristeza nos olhos dela.

Tabatha dirigiu-lhe um grande sorriso – “Estou bem.”

“Já alguém te disse que estás muito apetecível hoje?” – perguntou ele, com um brilho nos olhos. Era a forma mais rápida de animar uma mulher. Ele sabia bem disso, todas as noites estava rodeado delas.

Tabatha abanou a cabeça, sorrindo. “És incorrigível.”

“Sou, sim senhora.” – acedeu Nick. “Isso quer dizer que te vou levar para casa esta noite?”

“Nem pensar!” Tabatha recuou com um esgar, depois acrescentou – “Além disso, contigo a viver mesmo por cima da disco, seria demasiado fácil.”

Nick colocou uma mão sobre o seu coração e fez uma fita, fingindo cambalear uns passos para trás. “Tabby, gata…feriste-me. As minhas intenções eram completamente inocentes.”

“Aposto que sim” – Tabatha riu piscou-lhe o olho. “Mas posso convidar-te para dançar mais tarde.”

Nick inclinou-se bem perto dela enquanto lhe abria a porta. “E acho que vou aproveitar.”

Tabatha entrou e respirou fundo, apreciando a atmosfera familiar. Já tinham passado alguns dias desde o encontro dela com Kane e ainda não tinha ouvido uma palavra de Kriss. Agora a sua preocupação tinha desaparecido, substituída por uma ligeira depressão que ela sabia que apenas Kriss poderia eliminar.

A batida da música vibrava através do seu corpo e dirigiu-se ao corrimão para poder olhar para a pista de dança lá em baixo. Já era quase meia-noite e a discoteca estava a funcionar em pleno. Corpos ondulavam ao som das batidas techno que bombavam nas colunas e a secção do bar estava quase cheia. Tabatha olhou em volta tentando decidir o que fazer primeiro. Estava farta de estar sozinha e achou que era mesmo daquilo que precisava para a sacudir daquele marasmo.

Dirigindo-se ao bar, Tabatha pousou a carteira com estrondo no balcão. “O que é que uma senhora tem de fazer para arranjar uma bebida por aqui?” – exigiu ela.

“Morder-me!” Exclamou Envy e colocou uma bebida à frente dela. “É tudo, senhora?”

“Não” – disse Tabby. “Ainda tenho de te morder.”

“Cuidado” – respondeu Envy. “Eu mordo de volta.”

Tabatha pegou na bebida e bebeu metade num gole só, lembrando-se do que tinha bebido no Silk Stalkings há umas noites atrás e a forma como Kane a tinha deixado sóbria com um beijo. O que mais a irritava era que sempre que pensava nisso, sentia uma sensação quente e meio dolorosa, que descia em espiral em direção ao baixo ventre e coxas. Uma vez mais, encolheu-se ao senti-la.

Envy apercebeu-se do comportamento de Tabatha e soube que se passava algo de errado com a amiga. Já tinham passado por demasiadas coisas juntas para que Envy não reparasse. Fez questão de preparar outra bebida para Tabatha quando viu a amiga pousar um copo vazio no bar.

Quando lhe deslizou a segunda bebida, reparou que Tabby não estava realmente a prestar atenção e, em vez disso, olhava distraidamente para todas as outras pessoas a divertirem-se.

Kat estava a trabalhar um pouco mais afastada do posto de Envy e observava Tabatha pelo canto do olho. Percebia que Tabatha estava agitada e perguntava-se o que teria acontecido nos últimos dias para isso acontecer. Pegando numa garrafa de Heat, chamou a atenção de Envy e apontou para a garrafa antes de acenar a cabeça na direção de Tabatha.

Envy olhou para a amiga antes de dar a Kat um aceno de aprovação. Kat preparou outra bebida e adicionou um pequeno shot de álcool potente à mistura antes de a passar a Envy.

“Obrigada” – disse Envy e levou o copo a Tabatha. “Aqui tens, Tabby, oferta da casa.”

Tabatha olhou para baixo para a bebida e sorriu. “Obrigada!”

“Então” – começou Envy, inclinando-se sobre o balcão. “O que é que te está a deprimir?”

“Nada de importante, acho eu” – respondeu Tabatha.

“Sim, claro!” – exclamou Kat, ao passar. “Se a tua tromba estivesse um bocadinho mais comprida, ainda arrastava pelo chão.”

“Só estou um bocado chateada com o Kriss agora” – disse Tabatha ao fim de uns segundos. Se não pudesse contar isso à melhor amiga, então mais valia ir para casa e ficar lá. “Nunca esteve desaparecido tanto tempo sem me ligar ou dizer alguma coisa. Ele despediu-se do trabalho dele no Silk Stalkings há uns dias e ninguém o viu desde então.” Não referiu o facto de se sentir como se tivesse sido abandonada…há vários dias que lhe doía o peito.

Kat pegou num guardanapo atrás do bar e passou-o a Tabatha quando as lágrimas começaram a cair. Se não a conhecesse, diria que isto era uma reação de uma amante de coração partido. Envy tinha-lhe dito que Kriss era gay, mas Kat perguntava-se se algo teria acontecido entre Kriss e Tabatha de que Envy não estivesse a par.

“Porque é que ele se ausentou sem se despedir?” Perguntou Tabatha com voz suave, limpando as bochechas molhadas. Usou a raiva para parar de chorar. Detestava chorar. “Pensava que merecia isso, no mínimo.”

Envy colou os lábios. Kriss nunca faria algo assim sem ter um bom motivo. Que raio, ela conseguia ver que Kriss a amava, mas também amava Dean. Cerrou as mãos e bateu com elas no bar quando percebeu porque é que Kriss se estava a manter afastado – Dean.

 

“Tenho a certeza de que ele vai voltar” – disse Kat. “És uma boa amiga e mereces ouvir a verdade.” Depois olhou para Envy – “Certo?”

“Sem dúvida.” – retorquiu Envy, reprimindo a sua raiva no fundo do seu estômago. “Sabem o que é que devíamos fazer? Encontrar o Sr. Feathers, amarrá-lo em cima dum formigueiro depois de o cobrir de mel e deixá-lo lá. Para a próxima, vai aprender a ligar.”

Tabatha levantou as sobrancelhas e olhou para a ruiva. “Está bem então.”

“Oh-oh!” – fez Kat, animada. “Melhor ainda, despimo-lo todo e embrulhamo-lo como um peru de ação de graças e depois deixamo-lo no bar de motoqueiros do outro lado da cidade. Alguns daqueles tipos são mesmo assustadores.”

Envy sacudiu a cabeça – “Nã’, ele ia gostar demasiado disso.”

“Já sei!” Kat exclamou, vendo o lábio de Tabatha começar a fazer um trejeito em reação às suas ideias. “Damos-lhe uma pancada, prendemo-lo no quarto da Tabatha e só o alimentamos a pão e água até ele ceder e concordar em ser o escravo sexual da Tabatha por toda a eternidade.”

Envy inclinou a cabeça para o lado e sorriu. “É, até gosto dessa ideia.”

“Tenho uma pergunta para ti que se desvia um bocado do assunto.” Disse Tabatha, chamando a atenção das outras duas. “O que é que vocês sabem sobre o Kane?”

Kat encolheu os ombros – “É um vampiro infernal, sexy como o caraças, com ótimo sentido de humor.”

As três mulheres começaram a rir à gargalhada, mas pararam quando Devon deslizou para trás de Envy e colocou um braço à volta da cintura dela.

“Eu mostro-te quem é sexy como o caraças…dança comigo” – sussurrou Devon, mas suficientemente alto para as outras mulheres ouvirem.

Envy sorriu às amigas antes de deixar que Devon a levasse para o lado de fora do bar e para a pista de dança. Ouviram a multidão a aplaudir quando a porta da jaula bateu e Tabatha sorriu.

Levantando-se do seu lugar, Tabatha dirigiu-se ao corrimão e olhou para baixo para Envy e Devon a dançar na jaula. Conseguia ver as bocas deles a mover-se e só podia imaginar de que estariam eles a falar.

Envy estava inclinada para trás, com os braços acima da cabeça a agarrar-se às barras da jaula. Devon tinha as pernas delas enroladas à volta das suas ancas enquanto dançava. Uma mão segurava no rabo dela, mantendo-a elevada, enquanto a outra mão a agarrava na zona das costelas, mesmo abaixo de um dos seios dela, ameaçando tocar-lhe, mas sem o fazer.

Devon sorriu e puxou Envy afastando-a das barras e apanhando-a antes que pudesse cair para trás e pousou-a de pé. Girou-a rapidamente de modo a ficar com as costas delas comprimidas contra o seu peito, as mãos dele a deslizar nas costelas dela em direção aos seios, provocando-a.

“Vamos dar-lhes um espetáculo a sério” – sussurrou Devon.

“Nada de sexo em público” – exclamou Envy, já sem fôlego.

“Não” – respondeu Devon. “Isso é só para mim e em privado. Mas isto…” – Subitamente, Envy deu por si numa posição abaixada, com as pernas afastadas junto às coxas de Devon, enquanto ele dançava colado atrás dela. “Isto é para a multidão.”

Devon rodava as ancas em pequenos círculos e Envy fixava os pés no chão para se poder mover com ele. Ela gemeu suavemente e jurou que podia senti-lo mesmo dentro dela, fazendo amor com ela sem tirar uma peça de roupa.

“Adoro a forma como te mexes para mim.” – grunhiu Devon. “Tão sensual…e escaldante.”

Envy fez pressão contra ele, erguendo-se, e depois envolveu os braços em torno do pescoço de Devon. Arfou quando as mãos dele levantaram a parte da frente da blusa dela para expor a pele suave da sua barriga à multidão. A mão direita de Devon moveu-se lentamente para baixo, até que as pontas dos dedos dele desapareceram no elástico dos calções pretos justos, enquanto a outra mão puxou mais um pouco da blusa dela para cima, revelando o soutien de renda preta que ela usava.

“Isso é batota” – amuou Envy.

Devon gemeu enquanto continuava a criar fricção entre a sua ereção, o material fino das suas calças e os calções de Envy.

Devon sorriu – “Talvez, mas isso não te está a impedir de me atiçares aqui, à frente de toda a gente.”

Voltaram a estar de pé e Envy virou-se para ele, deslizando a coxa para o meio das pernas dele e ele imitou o movimento. Antes que ela pudesse protestar, a blusa de rede dela foi retirada e eles continuaram a dançar colados de forma sensual. Para qualquer pessoa pareceria que estavam a dançar, mas quem os conhecesse sabia exatamente o que é que Envy e Devon estavam a fazer.

“Agora” – ordenou Devon e Envy não tinha escolha senão obedecer.

Tabatha observava-os com a respiração acelerada, enquanto Envy atirava a cabeça para trás e começava a atirar-se vigorosamente contra a coxa de Devon. Sentiu uma onda de calor espalhar-se pelo seu corpo e desejou, por um momento, que fosse ela que estivesse naquela jaula com alguém que a desejasse como Devon desejava Envy.

“Quem me dera encontrar alguém assim” – suspirou Tabatha de forma prolongada, virando-se depois de novo para o bar.

Recuperou o seu lugar e olhou para Kat – “Então achas que o Kane tem sentido de humor. Parece-te boa pessoa?” Ela abanou a cabeça – “Se bem me lembro, foi ele que começou a confusão com os vampiros e tentou incriminar-vos por todos aqueles homicídios. O meu nome e o da Envy quase que foram parar à lista das vítimas, lembras-te?” Ela emborcou o resto da sua bebida, satisfeita por ter afastado a melancolia. Agora só precisava de parar de ficar excitada a todo o momento.

“Ele ajudou a salvar-te a ti e à Envy.” Kat inclinou a cabeça enquanto estudava Tabatha. Ela tinha jeito para captar as vibrações das pessoas e, de repente, apercebeu-se que Kriss não era o único homem na mente de Tabby.

“Foi?” Tabatha fez a pergunta e empurrou o copo vazio na direção de Kat. “Às vezes pergunto-me porque é que ele estaria lá. Aqueles vampiros estavam a venerá-lo como se ele fosse o deus de todo o mal. E a única razão pela qual ele me pôs as mãos foi porque ele lhes disse que queria ser o primeiro a saborear-me.”

“Ele mordeu-te?” Perguntou Kat.

“Não” – admitiu Tabatha, tentando bloquear a memória de Kane a lamber-lhe a ferida e depois a beijá-la. Rangeu os dentes quando sentiu uma palpitação profunda entre as coxas. “Tens razão… Ele ajudou a salvar-nos, só que de uma forma bastante demente.” Enfiou a mão na carteira e puxou duas notas de vinte, que estendeu a Kat. “Corta-me o consumo quando isto acabar.”

Kat pegou nas duas notas e colocou-as na prateleira ao lado da caixa. Pegando no copo de Tabatha, começou a preparar-lhe outra bebida e decidiu deixar de fora o Heat desta vez, já que obviamente a rapariga queria embebedar-se à moda antiga. Talvez Tabatha ficasse mais tranquila se soubesse o resto da história por trás das artimanhas de Kane.

Colocando uma bebida fresca à frente de Tabatha, Kat inclinou-se na direção do bar: “Sabias que o Kane esteve enterrado durante trinta anos?”

Tabatha acenou com uma expressão de desagrado. “Já ouvi algo sobre isso, mas não a história toda.”

“Então provavelmente não sabias que foi o meu pai e o pai da Quinn que o enterraram.” Kat largou esta informação de forma brusca. Quando Tabatha lhe dirigiu um olhar assustado – “O pai da Quinn, Nathaniel, matou a primeira mulher do meu pai e depois culpou o melhor amigo do meu pai – o Kane. Eles usaram uma maldição dos próprios livros do Kane para o prender ao chão. Foi um castigo terrível e apenas podia ser quebrado pelo sangue da alma gémea do Kane.”

“Raios partam.” – suspirou Tabatha.

Kat acenou. Às vezes, essa expressão resumia melhor a situação do que qualquer outra.

“Então, o que aconteceu?” Perguntou Tabby.

“O Malachi descobriu a verdade trinta anos depois. Ele e o Nathaniel tiveram uma enorme discussão sobre isso, como podes imaginar. O Malachi foi ao túmulo do Kane nessa noite para tentar encontrar uma forma de libertar o Kane da maldição. O Nathaniel seguiu-o, obviamente não queria ver o Kane libertado por ter medo de represálias do vampiro. Não sabemos mais nada, à exceção do facto de que os nossos pais se mataram um ao outro nessa noite” – suspirou Kat.

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