Aproximação À Neuropsicologia

Text
Read preview
Mark as finished
How to read the book after purchase
Aproximação À Neuropsicologia
Font:Smaller АаLarger Aa

Aproximação

à

Neuropsicologia

Juan Moisés de la Serna

Traduzido por Francesca Manuli

Tektime editorial

2019

“Aproximação à Neuropsicologia”

Escrito por Juan Moisés de la Serna

Traduzido por Francesca Manuli

1ª edição: novembro de 2019

© Juan Moisés de la Serna, 2019

© Edições Tektime, 2019

Todos os direitos reservados

Distribuído por Tektime

https://www.traduzionelibri.it

Não é permitida a reprodução total ou parcial desse livro, nem sua incorporação a um sistema de informação, nem sua trans-missão por qualquer forma ou qualquer meio, seja eletrônico, mecânico, por fotocópia, por gravação ou outros meios, sem au-torização prévia e por escrito do titular do copyright. A infração dos direitos mencionados pode ser constitutiva de delito contra a propriedade intelectual (Art. 270 e seguintes do Código Penal).

Dirija-se ao C.E.D.R.O. (Centro Espanhol de Direitos Reprográfi-cos) se necessita fotocopiar ou escanear algum fragmento dessa obra) Pode-se contatar o C.E.D.R.O. através do site www.conlicencia.com ou por telefone através do 91 702 19 70 / 93 272 04 47.

Prefácio

Falar de neuropsicologia é falar de um dos ramos que mais cres-ceram nos últimos anos, uma vez que se baseia nos avanços da psicologia e da neurociência.

O campo da neuropsicologia abrange tanto aspectos teóricos co-mo aspectos práticos de transtornos ou traumas.

Uma área que está sendo cada vez mais solicitada, devido aos grandes benefícios que oferece aos pacientes.

Agradecimentos

Aproveito esse espaço para agradecer a todas as pessoas que co-laboraram para a realização desse texto, especialmente ao Dr. David Lavilla Muñoz, Professor Titular de Comunicação Digital e Novas Tendências, da Universidade Europeia (Espanha) e à Sra. Daniela Galindo Bermúdez, Presidente de Falando com Julis (Co-lômbia): a solução para a comunicação e a aprendizagem de pes-soas com deficiencia.

Dedicado aos meus pais

Índice

Capítulo 1. Bases Neuronais do Cérebro

Capítulo 2. Processos Psicológicos e seu funcionamento

Capítulo 3. Alterações das funções cognitivas e avaliação.

Capítulo 4. Técnicas de intervenção nos processos psicológicos

Conclusões

Sobre Juan Moisés de la Serna

Capítulo 1. Bases Neuronais do Cérebro

A Neuropsicologia surge da união de dois ramos de conhecimen-to, a psicologia e a medicina, cujo objeto de estudo são os pro-cessos psicológicos, memória, atenção, linguagem…e como esses se desenvolvem com a idade, e se veem alterados pelos transtor-nos de desenvolvimento e problemas associados a traumatismos, doenças ou à velhice.

Em relação ao cérebro, é necessário conhecer suas bases neuro-lógicas, especialmente no que diz respeito a essas capacidades psicológicas pelas quais a neuropsicologia é responsável.

Anatomicamente o córtex cerebral está dividido pelo sulco cen-tral, ficando de um lado o hemisfério direito e do outro o esquer-do, e abaixo de ambos se encontra o diencéfalo, que são estrutu-ras interiores (tálamo, subtálamo, hipotálamo, epitálamo metatá-lamo e terceiro ventrículo) que conectam com o tronco cerebral (mesencéfalo, ponte de Varólio e o bulbo raquidiano).

Os hemisférios por sua vez podem dividir-se em lobo frontal (si-tuado na parte frontal do cérebro), lobo temporal, lobo occipital (situado na parte anterior do cérebro), lobo parietal (atrás do lo-bo frontal, sobre o lobo temporal e na frente do lobo occipital).

O lobo frontal está associado às funções executivas, ou seja, à capacidade de organização, tomada de decisões e supervisão das mesmas. É onde se recebe “toda” a informação, se processa e responde a partir daí. A lesão dessa estrutura leva à desorganiza-ção do comportamento, desinibição sexual e aumento de com-portamentos de risco.

O lobo parietal é o centro da informação sensitiva, com um papel destacado na linguagem, e sua lesão pode provocar discalculia (problemas na aprendizagem de matemática), dislexia (proble-mas na aprendizagem de leitura), afasia (problemas de pronún-cia), apraxia (problemas de movimento), agnosia (problemas de reconhecimento).

O lobo temporal, envolvido em processos de linguagem relacio-nados com o processamento auditivo, igualmente intervém no processamento de imagens complexas. Além disso, participa dos processos de consolidação de memórias a longo prazo. Sua lesão provoca dislexia, afasia e perda da memória verbal.

O lobo occipital é onde se encontra o centro de processamento visual, onde chega toda a informação percebida pela vista através dos nervos óticos. As lesões nessa área provocam problemas de reconhecimento e processamento das imagens captadas.

Com relação à localização de aspectos como a atenção, a lingua-gem ou a memória, existem diferentes estruturas envolvidas em cada uma, e quando se produz a lesão de um dos lobos, ocorre a perda total ou parcial de tal função.

Abandona-se assim definitivamente a teoria localizacionista que governou durante décadas o estudo da neurociência, o qual pre-tendia atribuir a cada região do cérebro uma determinada função psicológica, de modo que a lesão da mesma impedia a pessoa do desempenho de tal função.

Atualmente considera-se que as funções cognitivas estão distribu-ídas no cérebro, e embora existam centros especializados de pro-cessamento de determinadas informações, sejam auditivas, visu-ais, cinestésicas…tudo em seguida se distribui para constituir os registros de memória, por exemplo.

Para podermos adentrar no conhecimento do cérebro, vamos fa-zê-lo com relação ao mundo emocional, que é muito mais com-plexo do que se pode ver a olho nu. Vamos nos aprofundar nos distintos elementos que o compõem.

Quando falamos de componentes da emoção, depende de onde colocamos o foco de atenção para dizer que existem mais ou menos componentes; assim, em uma primeira aproximação, po-demos falar de três expressões da emoção:

- Neurofisiológica, que abrange todas as vias e estruturas neuro-nais particularmente envolvidas em cada uma das emoções, além das respostas vegetativas de vasoconstrição, taquicardia, respiração acelerada e rubor que acompanham as emoções.

- Comportamental, na qual nosso corpo se transforma em “espe-lho” de nossas emoções, manifestando-se de forma involuntária mediante a expressão facial e corporal, tensionando ou relaxando determinados músculos, que pode revelar o que sentimos, inclu-sive quando tratamos de dissimulá-lo. Da mesma forma, esse componente nos fala do que vamos fazer ou não por seguir essa emoção, ou seja, como serão expressados todos aqueles atos mo-tivados em nosso comportamento e na forma em que nos relaci-onamos com os outros.

- Cognitiva, que tem mais a ver com como percebemos nossa própria emoção e a dos outros, e como a interpretamos, ou seja, a vivência subjetiva de nossos sentimentos. A carência de uma adequada educação emocional pode estar por detrás da Alexiti-mia, onde a pessoa é incapaz de identificar e interpretar corre-tamente sua suas próprias emoções

MacLean (1949) propunha a evolução do cérebro em três grandes etapas, o reptiliano, paleomamífero e o neomamífero; sendo o segundo (onde aparece o sistema límbico) o responsável pelo processamento emocional, o que indicaria que esse sistema emocional é anterior, e justificaria suas qualidades no processa-mento de estímulos afetivos.

Com respeito às bases neuronais da atividade emocional, as áreas que têm maior implicação no processamento das emoções são as subcorticais (amígdala e gânglios basais) e algumas áreas corti-cais, principalmente o córtex pré-frontal, o córtex temporal e o cingulado.

Em relação à localização do processamento dos estímulos positi-vos versus os negativos, não se chegou ainda a um consenso, as-sim alguns autores defendem que a ativação hemisférica se pro-duz por igual diante dos estímulos positivos e negativos. Davidson (1984) propôs um modelo de distribuição hemisférica do proces-samento de estímulos afetivos, segundo o qual o lobo temporal direito processaria os estímulos negativos, enquanto o esquerdo processaria os positivos.

Complementando o anterior, Heller (1993) defendeu a existência de uma área cerebral mais ampla (parieto-temporal) como a res-ponsável por analisar o componente da ativação (arousal) dos estímulos; assim as zonas frontais anteriores estariam envolvidas no processamento da valência (positivo, negativo ou neutro) e a experiência emocional, enquanto que as zonas posteriores seriam do componente arousal e dos aspectos perceptivos das emoções.

A existência do circuito emocional-perceptivo-memorístico no cérebro humano está amplamente aceita, onde a amígdala tem um papel crucial, registrando as ocorrências dos estímulos emo-cionais.

Assim, a informação com conteúdo emocional tem significativa-mente mais probabilidade de ser melhor armazenada e recupe-rada, com relação à informação com conteúdo neutro.

A extensa conexão entre a amígdala e as regiões visuais extraes-triado e do hipocampo permite à amígdala modular seu funcio-namento e facilitar a função perceptiva e mnésica nessas áreas, e esses resultados se confirmam em pacientes com lesões na amígdala.

 

Entretanto, há evidências que indicam que a aprendizagem emo-cional associada à amígdala está limitada temporalmente e os efeitos posteriores sobre a memória podem ser devidos à partici-pação de outras regiões do cérebro, como o córtex orbitofrontal.

Estaríamos diante de um circuito de processamento emocional que contrastaria com a forma de processamento cognitivo espe-cífica. No circuito emocional os estímulos parecem ser analisados automaticamente, de forma mais rude e rápida, seguindo uma estratégia configuracional; segundo Arbib e Fellous (2004), trata-se de uma comunicação simplificada, mas com informação de grande relevância para a sobrevivência e o desenvolvimento ade-quado dentro do nicho ecológico. Portanto, essa capacidade de processamento em paralelo representa uma vantagem competiti-va para a sobrevivência no meio ambiente, uma vez que permite ao sujeito evitar ameaças e perigos de forma imediata, inclusive antes de avaliada a informação conscientemente no córtex pré-frontal,

Vários estudos com animais informam sobre a existência de uma via direta desde os neurônios sensoriais até o sistema límbico, especialmente ao núcleo da amígdala. Alternativamente a essa via, é realizada uma análise mais fina e lenta dos estímulos su-portados pelos neurônios sensoriais, que conectam diretamente através dos núcleos do tálamo (que também recebem informação da amígdala) até uma região ampla do córtex cerebral.

Estudos com Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET) apontam a coexistência dessas duas vias diferentes de processamento; os mesmos resultados foram obtidos mediante Ressonância Magné-tica Funcional (IRMf).

Observou-se que a amígdala desempenha um papel fundamental no processamento das emoções. Holland e Garllagher (2004) in-dicam que a amígdala pode influenciar nas áreas corticais por meio de três vias: as de feedback, proveniente de sinais cinestési-cos, viscerais e hormonais (o que permitiria ao organismo prepa-rar-se para a ação, seja para orientação ou fuga); as de projeção a redes de ativação geral ou arousal (podendo colocar o organis-mo em alerta e com isso captar os estímulos ameaçantes com maior nitidez) e a de interação com o córtex pré-frontal medial (o que a levaria a uma orientação dos recursos atencionais para o estímulo emocional presente, limitando o restante dos processos cognitivos).

Por outro lado o córtex pré-frontal envia diferentes projeções à amígdala, permitindo às funções cognitivas (integradoras da in-formação do processamento do estímulo emocional e do contex-to) regular o papel que a amígdala tem sobre as emoções.

Em outras palavras, respondemos abruptamente (resposta de so-bressalto e fuga) à visão de um animal perigoso, como por exem-plo um urso (processamento emocional), mas não produzimos essas reações quando vemos o mesmo urso atrás de uma jaula, no contexto de uma tarde relaxada de domingo, durante uma visi-ta familiar ao zoológico da cidade (processamento cognitivo).

Mas, se até agora falamos de áreas especializadas, não podemos esquecer que o cérebro funciona com conexões elétricas e quí-micas, das quais os neurohormônios desempenham um papel muito significativo nas emoções.

Além das inervações diretas entre as estruturas cerebrais, que estabelecem comunicação entre elas por meio de impulsos elé-tricos, deve-se considerar que existe toda uma rede de conexões, mais difíceis de especificar, graças às substâncias químicas que servem como meio de comunicação, conhecidas como neuro-hormônios, que também terão uma grande influência na percep-ção e expressão de emoções como a dopamina.

- A dopamina é geralmente associada à obtenção de prazer e de-sejo sexual; ativa o sistema nervoso simpático, necessário para um novo aprendizado, baseado no desejo de obter reforço. Altos níveis de dopamina melhoram a motivação, o bom humor e o desejo sexual. Sua inibição produz desmotivação, indecisão, baixa da libido e inclusive depressão. Produzido a partir da área teg-mental ventral, atinge o núcleo acumbes, a amígdala, a área sep-tal lateral, o núcleo olfatório anterior, o tubérculo olfatório e o neocórtex.

- A ocitocina é associada à empatia, o desejo sexual e o compor-tamento paternal, facilitando a formação de vínculos afetivos. Produzido no núcleo supra-óptico e no núcleo paraventricular do hipotálamo até chegar à hipófise e daí para a corrente sanguínea.

- A adrenalina aumenta o batimento cardíaco e a pressão sanguí-nea, e prepara o organismo para situações de tensão, sejam agradáveis ou não. Altos níveis de adrenalina provocam fadiga, falta de atenção, insônia, ansiedade e inclusive depressão. Bai-xos níveis provocam apatia e depressão.

- A noradrenalina está envolvida nos processos de atenção, aprendizado, sociabilidade e sensibilidade às emoções e desejos dos outros. Altos níveis provocam facilidade emocional, hipervigi-lância e desejo sexual. Sua inibição produz falta de concentração. desmotivação, depressão, perda da libido e autorreclusão.

- A serotonina, associada ao apetite e desejo sexual, contribui também para o aparecimento do sono, a coagulação do sangue e o aparecimento de enxaquecas. Altos níveis produzem calma e paciência, sociabilidade e adaptabilidade. A deficiência desse neurotransmissor pode provocar tristeza, ansiedade, irritabilida-de, explosões de raiva, hiperatividade, flutuações do humor, insô-nia e depressão.

- A acetilcolina afeta a capacidade de retenção da memória a curto prazo. Níveis altos facilitam a aprendizagem e a memória. Sua inibição produz problemas de aprendizagem e memória que podem levar à demência senil.

- GABA, ácido gama-aminobutírico, é responsável pela inibição de boa parte do restante dos neurotransmissores, favorecendo o re-laxamento. Níveis altos produzem boa memória, sedação e sono. Sua ausência provoca dificuldades para dormir, ataques de pânico e estados de ansiedade.

- As endorfinas, pertencentes ao tipo de neurotransmissores opi-oides, moduladores da dor, temperatura, fome e reprodução, também conhecidas como hormônios da felicidade ou da alegria. Baixos níveis provocam dificuldades para sentir prazer e felicida-de, e anedonia, tornando a pessoa mais sensível aos reveses da vida.

Alguns autores têm apontado o acúmulo concomitante de dopa-mina e serotonina como responsáveis pelo aparecimento da raiva.

Com todo o exposto, propõe-se uma abordagem à complexa rede de conexões elétricas e químicas das diferentes estruturas envol-vidas na formação e manutenção de emoções, às quais o cérebro deve atender para dar resposta, e para o qual existem uma série de mecanismos chamados integradores, responsáveis por receber e analisar “partes” de informações, para assim dar uma melhor resposta.

O primeiro integrador, e mais conhecido, é sem dúvida o córtex cerebral, que recebe a informação procedente da pele, músculos e órgãos dos sentidos, e a partir daí toma as decisões conscientes ou automáticas para manter o equilíbrio. Da mesma forma, o alocórtex (hipocampo) e o mesocórtex receberão inervação vege-tativa, além de informação emocional, encarregando-se de pro-duzir efeitos viscerais.

Origem dos problemas neuropsicológicos

No campo das emoções, tanto em termos de estrutura quanto de funcionamento, devemos ter em mente que isso se trata de seu desenvolvimento “normal”.

Porém, pode haver uma infinidade de fatores que impeçam que esse desenvolvimento chegue “a bom termo”, no caso dos trans-tornos do neurodesenvolvimento, ou que, uma vez desenvolvidas essas habilidades, se percam com o tempo, principalmente nos idosos, ou como resultado de algum trauma ou doença.

A seguir, dois exemplos de como as habilidades e capacidades da pessoa podem ser afetadas devido às modificações “sofridas” no cérebro.

Deve ser levada em consideração a estreita relação entre o mun-do psicológico e o cérebro, como é o caso dos traumas. Embora os traumas da infância têm sido a base de muitas teorias psicoló-gicas, começando pelas de Freud, ainda há muito a se conhecer a respeito.

You have finished the free preview. Would you like to read more?